“Eu me senti muito triste. Acreditei que seria o fechamento de mais uma porta na minha vida.” O desabafo é de Débora Gomes, que perdeu o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 ao chegar com um minuto de atraso ao local de prova no Recife, porque estava amamentando um dos filho. Desde domingo (21), ela tem recebido uma “onda” de solidariedade e ganhou bolsas de estudo em cursinhos e faculdades privadas para não desistir do sonho de cursar medicina.
Débora tem 26 anos e mora em uma comunidade na Ilha de Joana Bezerra, na área central da capital pernambucana. Ela chegou ao prédio da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no bairro da Boa Vista, no Centro da cidade, às 13h01, quando o portão tinha acabado de ser fechado.
“Eu cuidei dos afazeres domésticos e tive que dar de mamar ao meu filho antes de ir […] É muito complicado conciliar tudo ao mesmo tempo”, afirmou a mãe de Gabriel, de 5 meses, e de Rebeca, de 3 anos.
Ela terminou entrando na estatística de quase 43 mil candidatos ausentes no primeiro dia de provas do Enem em Pernambuco. Apesar de não poder contar com as notas da prova deste ano, Débora disse que não vai desistir do sonho de fazer uma universidade. “Foi mais um impulso para eu poder tentar concluir meus objetivos, lutar novamente”, declarou Débora.
Sem informar quantas bolsas de estudo para cursinhos e faculdades privadas recebeu, Débora se disse surpresa com a rede de solidariedade que se formou ao redor dela desde que perdeu a prova do Enem.
“Desde domingo, eu venho recebendo uma solidariedade muito grande das pessoas, um amor, um apoio moral. Muita gente me defendendo. Eu estou gostando muito, estou amando essas palavras de conforto, de afeto e de luz, estão iluminando o meu dia. E estou abismada, pois não esperava receber tanto carinho, tanto amor das pessoas que nem me conhecem. Só conheceram um pouco da minha história no domingo, mas não sabem a fundo mesmo o meu dia a dia, o que eu já passei, a minha situação”, contou.
Desempregada, Débora mora com os filhos e com o marido, que também está sem emprego, em uma quitinete de dois cômodos: um quarto e uma cozinha. Ela contou que são inúmeros os desafios para estudar, mas garantiu que não vai desistir do sonho de ser médica.
“Eu preciso de notebook, para poder me organizar e estudar, preciso ainda de uma creche que acolha os meus filhos, uma creche de confiança. Estou lutando por um emprego também, que vai me ajudar bastante. São vários fatores”, afirmou.
Como não recebeu bolsa de estudo para medicina, Débora disse que vai começar a estudar outro curso superior.
“Até agora, eu não consegui a bolsa de medicina, que é a tão sonhada. Porém, não vou deixar batida essa oportunidade de ingressar numa universidade, mas não vendendo meu sonho porque sonho não se vende, é inegociável. No momento, eu escolhi o curso de direito, mas não vou deixar para trás o sonho de medicina”, contou.
Débora acredita no poder de transformação da educação, por isso quer tanto uma oportunidade para estudar. “Posso mudar a realidade dos meus filhos em relação à educação, financeiramente, em tudo, posso dar um conforto melhor a eles e mudar a vida de algumas pessoas também, da minha família e de outras pessoas que podem precisar de mim”, declarou.