Após celebrar o primeiro casamento homoafetivo, entre duas mulheres, em Maceió, a pastora Odja Barros, denunciou à Polícia Civil que vem sendo alvo, junto com sua família, de uma série de ameaças de morte. O caso foi oficializado nessa terça-feira (14) na Secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh).
A celebração aconteceu no sábado, 04 de Dezembro, em uma casa de festas na Capital alagoana e ganhou repercussão depois de uma matéria publicada pelo site UOL, na qual a pastora qua atua na Igreja Batista do Pinheiro – que desde 2016 não faz mais parte da Convenção Batista do Brasil por aceitar incluir e batizar pessoas homossexuais – declarou “saber estar vivendo algo que é fruto de muita luta” e que se sentiu “honrada e privilegiada de ser celebrante de um momento novo e histórico dentro da tradição de igrejas batistas no Brasil”.
Em áudio amplamente divulgado nas redes sociais, o representante da comunidade do Pinheiro, Alexandre Sampaio, relatou que as ameaças foram feitas pela internet, em mensagens enviadas ao perfil da pastora em uma rede social. O criminoso enviou imagens de armas, áudios e mensagens ameaçando disparar cinco tiros na cabeça da pastora, além de afirmar que estava monitorando a sua família.
A filha da pastora, que faz mediação das redes sociais da mãe, postou mensagens denunciando as ameaças sofridas por sua mãe após a divulgação de notícias sobre o casamento:
“A minha mãe recebeu ameaça de morte no Instagram dela. Um louco que se diz de Maceió, mandou foto de arma, áudios dizendo que estava monitorando ela e a família, que vai dar cinco tiros na cabeça dela por celebrar um casamento homoafetivo”, afirma a filha da pastora.
Na manhã desta quarta-feira (15), Odja esteve na sede da Delegacia-Geral de Alagoas acompanhada do esposo, da secretária da Mulher, Maria Silva, do promotor de Justiça, Alexandre Magno, da vereadora Teca Nelma, entre outras pessoas, para prestar depoimento. Ela foi recebida pelo delegado geral, Carlos, Reis, que designou como delegada especial, a delegada Luci Mônica, titular do 9º Distrito Policial para presidir o inquérito policial.
“O objetivo da Polícia Civil é encontrar, o mais rápido possível, o autor das ameaças virtuais para que ele responda pelo crime”, frisou Carlos Reis.
“Não vamos medir esforços para chegar a autoria dessa ameaça”, disse Luci Mônica.
Em entrevista à TV Pajuçara, o promotor de Justiça Magno Alexandre Moura, que exerce a presidência do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, explicou que os ataques em questão revela misogenia e homofobia. E que por ter atuação pública, a pastora, foi solicitada ao Conselho de Segurança do Estado uma segurança de integridade individualizada que deverá ser feita pela Polícia Militar.
Eu estou muito grata por essa rápida articulação e mobilização necessária, porque acredito que isso mostra que essa ameaça não é somente a mim, mas ao direito e a liberdade de forma geral. Precisamos responder a essa atitude tomada por esse perfil, que não foi única dele, as outras mensagens que recebi foram muito agressivas. A gente precisa garantir que as instituições possam dizer que não se admite esse tipo de invasão da nossa liberdade de expressão, dos nossos direitos. Eu, como representante de liderança religiosa, não imponho o que eu penso a ninguém, as pessoas têm direito de discordar de mim, inclusive de argumentar contra”, afirmou a pastora
O Grupo Gay de Alagoas (GGAL) emitiu nota de solidariedade a pastora:
Nota de solidariedade a Pastora e teóloga Odja Barros
O Grupo Gay de Alagoas – GGAL, entidade fundadora do movimento LGBTQIA+, vem por meio desta nota repudiar veementemente as ameaças proferidas contra a pastora batista e teóloga Odja Barros, que realizou o primeiro casamento entre duas mulheres, celebrado por uma autoridade religiosa em Alagoas.
Ao mesmo tempo nos solidarizar com a pastora e familiares, que diretamente ou indiretamente sofrem a tenção, pelas ameaças proferidas por algum criminoso covarde, que através de sua rede social ou um fake, ameaçou a pastora de atirar por várias vezes em sua cabeça.
Ainda e especialmente na sociedade atual, com a velocidade de notícias disseminadas pelas redes sociais, tem-se a compreensão da dimensão do gesto público, sendo certamente uma decisão difícil e corajosa de uma figura pública ir contra dogmas que até hoje só serviram para proliferar o ódio entre pessoas.
Numa sociedade ainda permeada pela chagada do preconceito, faz-se imprescindível que entidades defensoras dos direitos humanos tenham à mesma postura do do GGAL, de denunciar e defender à liberdade de expressão religiosa da pastora.
Mesmo a luta do movimento LGBTQIA+ ser por direitos civis, aqueles conquistados e garantidos através de decretos, portarias, resoluções e em especial os em leis, não podemos deixar de ovacionar a pastora e teóloga Odja Barros, de abrir as portas de sua igreja para acolher as minorias.
Aqui ressalto mais uma vez que cobraremos incansavelmente uma celeridade e rigor por parte do delegado-geral da Polícia Civil de Alagoas – Carlos Alberto Rocha Fernandes Reis, que o mais rápido possível esse criminoso seja preso, ao mesmo tempo também cobraremos da justiça, que o direito fundamental de liberdade de expressão religiosa não seja tirado por criminosos como esse.
Maceió 15 de dezembro de 2021.
Nildo Correia
Presidente do Grupo Gay de Alagoas
Após a divulgação do caso, uma série de entidades se reuniram para emitir nota de solidariedade conjunta a respeito do caso:
NOTA DE SOLIDARIEDADE À IGREJA BATISTA DO PINHEIRO E CONTRA AS AMEAÇAS VIOLENTAS
O conjunto da militância dos movimentos sindical e social de Alagoas repudia veementemente os ataques e ameaças de morte à Pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro, após a cerimônia religiosa de benção ao casamento de um casal homoafetivo realizada pela religiosa.
Solidarizamos-nos com a Igreja Batista do Pinheiro e com a Pastora Odja e sua família, que estão sendo ameaçadas, indicando que há grupos fascistas violentos atuando em Alagoas, não apenas lançando discursos de ódio nas redes sociais, de caráter misógino, lgbtfóbico, racista, contra as populações pobres do campo e da cidade, mas, demonstram ser capazes, também, de ações mais violentas, com ameaças à integridade física e à vida dos que lutam por inclusão social, justiça social, democracia e liberdade.
Alertamos à sociedade alagoana para este ato criminoso e cobramos ao Governo do Estado a ação ágil do setor de Segurança Pública, tanto para identificar o grupo criminoso, como para oferecer segurança concreta à Pastora Odja Barros e sua família, bem como segurança ao exercício da prática religiosa da Igreja Batista do Pinheiro.
A Igreja Batista do Pinheiro pratica o cristianismo com respeito e apoio a todos os setores excluídos e oprimidos na sociedade, e sempre soma com os movimentos sociais de defesa dos direitos humanos, sociais, trabalhistas, de defesa da liberdade e da democracia. A perseguição a esta comunidade religiosa precisa cessar, pois recentemente uma ação inconstitucional da empresa mineradora Braskem reprimiu o movimento de protestos das vítimas do gigantesco crime ambiental que vitimou milhares de famílias em quatro bairros de Maceió, perseguindo também a Igreja Batista do Pinheiro.
Os movimentos sociais de Alagoas estão juntos e solidários com a Igreja Batista do Pinheiro, contra toda a intolerância religiosa, preconceitos, discriminações e violências, em defesa da democracia, da justiça e da liberdade.Maceió, 14 de dezembro de 2021.
ADUFAL – Associação dos Docentes de Alagoas
Associação do Coletivo Cia Hip Hop de Alagoas
Associação Tamo Juntas
Bancada Negra
CARMIM – Feminismo Jurídico
CDDM – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher
CONEPIR – Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial
CSP-CONLUTAS
CUT – Central Única dos Trabalhadores
Fórum Nacional dos Usuários do SUAS em Alagoas – FEUSUAS/AL
Frente Progressista da Advocacia Alagoana
Frente Progressista de Advogadas e Advogados de Alagoas
Grupo Amizade, Fé e Política
Grupo Gay de Alagoas – GGAL
Grupo Gay de Maceió – GGM
Marcha Mundial das Mulheres
MLST
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
Movimento de Mulheres Olga Benario
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPR/AL
Movimento Negro Unificado – MNU
Movimento Policiais Antifascismo – AL
MTST – AL
Mulheres do PSOL Alagoas
Partido Comunista Brasileiro – PCB
PSOL – Partido Socialismo e Liberdade
PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados
PT – Partido dos Trabalhadores
RENFA – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas de Alagoas
SASEAL – Sindicato das/os Assistentes Sociais do Estado de Alagoas
Secretaria de Mulheres da CUT AL
Secretaria de Mulheres do SINDPREV AL
Secretaria de Mulheres do SINTEAL
Secretaria LGBT do Partido dos Trabalhadores de Alagoas
Sindicato dos Bancários de Alagoas.
Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal em Alagoas – SINDJUS-AL
Sindicato dos Servidores Públicos Federais da Educação Básica e Profissional no Estado de Alagoas – SINTIETFAL
Sindicato dos Urbanitários
SINDIPETRO-AL/SE
SINFEAL
SINTESFAL
União da Juventude Comunista – UJC
União da Juventude Rebelião
Unidade Popular – UP
Unidade Popular pelo Socialismo – Alagoas