Dercy Gonçalves deixou código secreto para se comunicar após morte, diz sobrinha

Lucy Freitas, que lança em janeiro de 2022 o livro de histórias sobre a tia, revela curiosidades sobre a estrela que viveu até os 101 anos e admite receio por comparações e julgamentos

Arquivo pessoal

Lucy Freitas e Dercy Gonçalves

Dercy Gonçalves é uma das figuras mais marcantes da dramaturgia brasileira. A atriz, que viveu 101 anos, tem muitas histórias ainda inéditas reveladas no livro Minha Tia Dercy, escrito pela sobrinha dela Lucy Freitas, com lançamento agendado para janeiro de 2022 pela Editora Agora É. Em um bate-papo descontraído, ela conta um pouco do que poderá ser lido na publicação.

“Ela tinha 101 anos e eu não esperava que ela morresse tão cedo. Ela tinha uma saúde de ferro e nunca precisou de tomar remédio para nada, nem para pressão. Não sou escritora, mas sou atriz, dramaturga, escrevo peças e roteiros. E as pessoas começaram a me cobrar, porque convivi muito com minha tia e tenho muitas histórias curiosas ao lado dela”, declara.

Lucy Freitas  (Foto: Arquivo pessoal)Lucy Freitas (Foto: Arquivo pessoal)

Uma das curiosidades presentes na biografia é um código secreto que Dercy deixou com a sobrinha antes de morrer. “Minha tia já foi de tudo. Ela foi católica, macumbeira, mística, ateia. Um pouco antes de morrer, ela chegou para mim e disse: ‘Eu quero combinar uma coisa com você, depois que eu morrer, não quero saber de ninguém me recebendo falando que mandei carta. Vou combinar uma frase que só eu você sabemos, se eu me comunicar, vou falar’. Já tem tantas cartas e coisas atribuídas a Dercy Gonçalves desde então, mas ninguém acertou a frase. Mas não critico, nem julgo a crença de ninguém”, diz.

Com senso de humor afiado como o da tia e até um tom de voz parecido com o dela, Lucy sempre a teve como inspiração e começou a carreira artística cedo. “Ela era meu ídolo. Aos 3 anos, estava na coxia e ela em cena, fazendo a Dança das Camélias. E ela deu uma piscada para mim e lembro nitidamente e eu pensei: ‘É isso aí que eu quero ser’. Era uma imagem linda dela dançando como uma fada”, relembra.

Lucy Freitas  (Foto: Arquivo pessoal)

Lucy Freitas (Foto: Arquivo pessoal)

Se tem uma coisa que ela não herdou da tia foi a elasticidade. “Ela tinha uma saúde de ferro, nem hipertensa era. A flexibilidade da Dercy não consigo ter não. Fiz balé até 12 anos e abandonei porque não tinha uma boa abertura. O máximo que eu conseguia era abri as pernas um pouco além do ângulo reto. Mas a minha tia colocava a perna no rosto com 100 anos e eu com 70  não consigo chegar”, compara Lucy, que foi incentivada a escrever o livro pela autora da Globo Maria Adelaide Amaral.

“Na época da minissérie Dercy de Verdade, a Maria Adelaide me solicitou para eu dar uma assessoria pra Heloísa Périssé estudar a personagem. Dei algumas dicas para ela de como era a Dercy fora dos palcos, para ela chegar o mais próximo o possível. E foi a própria Maria Adelaide que falou que as histórias que eu contava não estavam na biografia dela e eu devia escrever algo. Aí, eu fiquei amadurecendo a ideia. Tinha muita insegurança, porque nunca tinha escrito um livro, até que escrevi umas cinco páginas e mostrei para o meu amigo escritor Augusto Pessoa, que me encorajou”, admite.

Lucy Freitas e Dercy Gonçalves (Foto: Arquivo pessoal)
Lucy Freitas e Dercy Gonçalves (Foto: Arquivo pessoal)

Uma das grandes preocupações de Lucy eram as comparações com Dercy. “Já sofri um estigma danado por ser sobrinha da Dercy e atriz e tive que provar muito. Nunca fiz comédia na vida com medo desses julgamentos. Mas acabou que descobri que também sei fazer as pessoas sorrirem. Aproveitei o texto do livro e fiz uma peça que apresentei em Londres com a casa lotada, em outubro de 2019. O espetáculo foi produzido por Claudia Wildernberg e Juninho Batista, que foi produtor da Dercy também, mas foi adiada a turnê por conta da pandemia e porque acabei perdendo meu marido, que inclusive me ajudou no trabalho de pesquisa do livro. Foi um momento muito difícil. Pretendo voltar em cartaz em 2022″, deseja.

“Quando escrevi a peça, não pensei em eu mesma interpretando. Queria convidar a Heloísa ou Fafy Siqueira. Aí, as pessoas que me conhecem disseram: ‘Você tem que fazer’. Dizem que eu tenho um gênio muito parecido com ela e jeito também. Tanto que a gente brigava muito, mas sempre acabávamos fazendo as pazes. Quando morava com ela, toda vez que eu saía para fazer um trabalho, ela ficava enciumada. Mas Dercy era uma mulher incrível, muito à frente do seu tempo que merece sempre ser lembrada e reverenciada”, completa.

Fonte: Quem

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