Cinco policiais militares que estavam na ação no Complexo do Lins que terminou com a morte de Kathlen Romeu, de 24 anos, viraram réus na Auditoria da Justiça Militar por falso testemunho e fraude processual. A denúncia do Ministério Público foi aceita no dia 17 deste mês.
Recentemente, a polícia do Rio concluiu que o tiro que matou a jovem partiu de um dos PMs. Na Delegacia de Homicídios da Capital, dois PMs confessaram ter disparado naquele dia.
“Inicialmente, verifico que há indícios de materialidade e de autoria dos crimes apontados, que decorrem dos elementos coligidos no procedimento administrativo, em especial os depoimentos colhidos em sede policial e no Ministério Público, Laudo de Exame de Local, Reprodução Simulada dos Fatos e Pen Drive contendo imagens. Presente, portanto, a justa causa para deflagração da ação penal. Pelo exposto, recebo a denúncia“, afirmou o juiz Bruno Arthur Mazza Vaccari.
Resumo das acusações:
- os PMs Cláudio da Silva Scanfela, Marcos da Silva Salviano, Rafael Chaves de Oliveira e Rodrigo Correia de Frias passaram a réus por duas fraudes processuais e por dois crimes de falso testemunho;
- o capitão Jeanderson Corrêa Sodré virou réu por fraude processual na forma omissiva.
O juiz ainda designou o dia 11 de abril de 2022 para ouvir as testemunhas pedidas pelo Ministério Público quando denunciou os policiais.
O MP, através da auditoria de Justiça Militar, pediu a prisão preventiva dos PMs. O juiz, no entanto, deferiu medidas cautelares diversas da prisão:
- Suspensão integral do exercício da função pública durante a vigência do processo penal
- Proibição de manter contato – direto ou por interposta pessoa – com quaisquer das testemunhas arroladas na denúncia
- Proibição de acesso ou frequência às dependências de qualquer unidade da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
- Comparecimento mensal em juízo
De acordo com a denúncia, os PMs Chaves, Frias, Scanfela e Salviano retiraram o material que estava no local em que Kathlen foi atingida antes da chegada da perícia, e ainda acrescentaram 12 cartuchos calibre 9 milímetros deflagrados e um carregador de fuzil 556, com 10 munições intactas.
Mais tarde, o material foi apresentado pelos policiais na 26ª Delegacia de Polícia (Todos os Santos). O MP avalia que os policiais cometeram fraude processual para dar a impressão de um confronto com criminosos na região. Testemunhas negam que houvesse um tiroteio no momento em que Kathlen foi atingida.
“Ato contínuo, enquanto deveriam preservar o local de homicídio, aguardando a chegada da equipe de peritos da Polícia Civil (PCERJ), os denunciados Frias, Salviano, Scanfela e Chaves o alteraram fraudulentamente, realizando as condutas acima descritas, com a intenção de criar vestígios de suposto confronto com criminosos. “
Foto de arquivo de Kathlen Romeu, morta em junho — Foto: Reprodução
Amigos fazem homenagem de Natal
Amigos e representantes de diversas instituições organizaram, nesta sexta-feira (24), uma homenagem de Natal na qual reforçaram o pedido de justiça para Kathlen Romeu.
Uma faixa com os dizeres “não foi confronto” e justiça por Kathlen Romeu” foi estendida no Lins, próximo ao local onde a jovem foi assassinada. O grupo também distribuiu presentes para crianças.
A ação foi promovida pela Comunidade Black, Associação de Moradores do Barro Preto-Lins, e Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj).