A variante ômicron provocou um aumento inédito das internações nas UTIs pediátricas de capitais estaduais.
Em um hospital particular que atende crianças e adolescentes na capital paulista, 11 leitos estão ocupados de um total de 14 reservados para Covid; isso equivale a 78% de ocupação. Do início deste mês até agora, houve um salto nas internações pela doença. Em 2 de janeiro, por exemplo, a UTI infantil do hospital estava sem pacientes de Covid.
A pediatra Ana Escobar, professora da Faculdade de Medicina da USP, explica por que a situação é preocupante.
“Embora seja em torno de 0,6% a quantidade de crianças que evoluem para formas mais graves… É um número pequeno; mas um número pequeno de muitas crianças acaba sendo um número grande. Eu fico sim preocupada de, em um curto espaço de tempo, a gente não ter leito para todas as crianças”, afirma.
Na rede municipal de São Paulo, o número de internados em UTIs pediátricas aumentou 1.000% do fim de dezembro para cá. Um dos hospitais que atendem crianças e adolescentes, na Zona Leste da cidade, está lotado.
O secretário de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, disse que a maioria dos pacientes tem até 9 anos de idade e afirmou que, mesmo com o aumento de vagas pediátricas, a pressão no sistema é grande.
“Nós tínhamos 25 leitos; nós fomos para 55 leitos. Nós praticamente dobramos a capacidade da cidade para leitos pediátricos Covid nessa última semana. Esses leitos, nós abrimos em 24 horas, e nesse período, praticamente eles já passam a ser ocupados”, conta.
Outras capitais também enfrentam o aumento na ocupação de UTIs pediátricas por causa da Covid. Em Goiânia, a ocupação passou de 55% em dezembro para 76% nesta quarta (26) – o estado de Goiás disse que pretende abrir mais dez leitos. Em Fortaleza, a taxa foi de 45% para 64%. Em Salvador, a ocupação já era alta em dezembro, 90%, e, nesta quarta, chegou a 100%.
Com a maior parte da população adulta vacinada, os médicos dizem que a doença tem atingido mais as crianças, que começaram agora a receber a vacina. O aumento das internações preocupa porque, segundo os especialistas, a estrutura de atendimento pediátrico é menor e existe menos mão de obra preparada para tratar de crianças.
O presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, diz que o problema é crônico no país: “Nos diversos estados, na maioria deles, são poucos os serviços que dispõem de recursos, de profissionais, de especialização, em terapia intensiva pediátrica”.
O médico reforça a importância de aumentar a cobertura vacinal de toda a população, redobrar as medidas sanitárias para evitar o contágio, e manda um recado especial para os pais:
“O recado para os pais que já tem os seus filhos com idade elegível para vacinação é não perder essa oportunidade. A doença pode ser grave. Não há nada pior do que nós termos um filho doente por uma doença que poderia ter sido prevenida”, aconselha Kfouri.