Menino de 9 anos, filho de líder rural, é assassinado a tiros por encapuzados

Residência invadida fica na zona rural de Barreiros, na Zona da Mata Sul de Pernambuco — Foto: Reprodução/WhatsApp

Uma criança de 9 anos foi assassinada a tiros por encapuzados dentro de casa, em Barreiros, distante 110 quilômetros do Recife, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. Segundo o pai do menino, o líder rural Geovane da Silva Santos, a execução aconteceu quando o garoto tentava se esconder com a mãe embaixo da cama. “Disseram que era a polícia”, afirmou. Silva Santos, que é presidente da associação de moradores de engenho, levou um tiro no ombro.

O local é considerado uma área de litígio agrário, de acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape). Entidades de direitos humanos cobraram às autoridades uma investigação rigorosa do assassinato.

No momento do crime, mais três crianças e a mãe do menino assassinado estavam no local, mas não sofreram ferimentos. Por meio de nota, a Polícia Civil informou que pai e filho foram levados para Hospital de Barreiros, mas a criança “não resistiu”.

O crime aconteceu às 21h40 de quinta (10), no Engenho Roncadorzinho, área que fica a dez minutos de carro da principal rodovia da região. Geovane acredita que sete homens participaram da ação.

Muito abalado, Geovane da Silva Santos afirmou, nesta sexta (11), em entrevista ao g1, que estava muito escuro no momento em que os homens chegaram à casa da família dele. “Ouvi o barulho na parte de trás e fui ver o que era. Eles entraram, passaram por mim e foram para o quarto. Pegaram o menino, que estava embaixo da cama com a mãe, e atiraram”, declarou.

Nesta sexta, advogados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) acompanharam Geovane durante as investigações da Polícia Civil. O advogado Plácido Júnior disse ao g1 que tudo aponta para o crime direcionado a Geovane. “Chegaram ao local gritando por Jeová, um nome bem parecido”, afirmou.

Além disso, observou o advogado, foi encontrada uma área em que possivelmente os assassinos montaram uma campana para acompanhar os movimentos da residência de Geovane. “Eles devem ter deixado motos ou carros em um local distante e foram a pé, já que ninguém ouviu barulho de motor. Deixaram uma garrafa com água perto da casa”, afirmou.

Segundo ele, um dos encapuzados ainda teria tentado impedir a morte da criança. “As testemunhas apontaram que um dos homens teriam dito que não deveriam fazer aquilo com o menino”, observou.

Polícia
A polícia abriu um inquérito para apurar o homicídio e a tentativa de assassinato. O caso está sendo investigado pela Delegacia Seccional de Palmares, na mesma região.

Por meio de nota, a Polícia Civil disse que o delegado titular de homicídios de Palmares, Marcelo Queiroz, foi designado para apurar o fato. A Delegacia Seccional de Palmares e a Delegacia de Barreiros estão dando apoio nas investigações.

A Polícia Militar também foi acionada. No local existe policiamento ostensivo através de Equipes Táticas e Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati), de acordo com a corporação.

Protesto
Nesta sexta, o velório do menino assassinado reuniu parentes e vizinhos. Crianças levaram cartazes para mostrar a saudade do amigo.

Os moradores da cidade realizaram um protesto na cidade, até o início da cerimônia de despedida. O enterro ocorreu no início da noite, no Cemitério de Barreiros.

Litígio

Segundo informações de agricultores do Engenho Roncadorzinho, a casa de Geovane da Silva Santos já tinha sido alvo de outros atentados.

A Fetape e a CPT informaram que fizeram denúncias, anteriormente, sobre os problemas envolvendo a comunidade.

Representante da Fetape, Bruno Ribeiro disse que vivem no engenho cerca de 60 famílias de trabalhadores rurais. Todas atuam em lavouras de subsistência.

Muitas dessas famílias, afirmou, são compostas por ex-trabalhadores da Usina Santo André, que, há 20 anos, entrou em processo de falência.

Há 15 anos, acrescentou Ribeiro, uma empresa agropecuária, a Javari, arrendou a área judicialmente. Nos últimos anos, a federação passou a atuar para evitar o despejo dessas famílias.

“Atuamos para fazer a conciliação e evitar que essas pessoas fossem prejudicadas. Isso ocorreu em dezembro de 2021, mas depois veio o recesso do Judiciário. As coisas estavam calmas lá”, declarou.

Bruno Ribeiro disse que é preciso uma investigação rigorosa para descobrir que praticou “um crime tão bárbaro”.

Cobrança
Por meio de nota, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), deputado Carlos Veras (PT), cobrou a apuração rigorosa da morte do menino. Segundo o parlamentar, “é estarrecedor saber que uma criança tenha sido assassinada dessa forma”.

Ainda de acordo com a nota, foram enviados ofícios para o governador do estado, para o procurador-geral de Justiça e para o secretário de Defesa Social de Pernambuco.

Nos documentos, o presidente lembra que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias realizou diligência na região da Mata Sul de Pernambuco em 15 de dezembro, quando recebeu denúncias dos agricultores familiares e procurou contribuir com a mediação de conflitos na região.

Fonte: G1

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