Estudante brasileira é agredida por colega em colégio de Portugal

G1

A brasileira Antônia Silverlene Melo deixou o Rio de Janeiro há quase quatro anos para proteger a família da violência cotidiana do território fluminense.

Por um tempo, acreditou que havia conseguido.

No entanto, essa certeza chegou ao fim no último sábado (5) quando, apavorada e sem acreditar, viu no celular o vídeo da própria filha de 11 anos levando uma sequência de tapas, empurrões, puxões de cabelo e um chute. Os golpes eram desferidos por uma colega da Escola Básica Ruy D’Andrade, em Entroncamento, distrito de Santarém, província de Ribatejo, Região Central de Portugal.

“No dia anterior, ela me falou que havia brigado na escola. Deu a entender que era apenas uma discussão com outras meninas. Ainda assim, entrei em contato com o colégio. Eles disseram que iriam verificar porque a situação ocorreu durante uma aula vaga – um dos professores havia faltado. No sábado, pais de outros alunos entraram em contato perguntando se eu havia visto vídeo com a minha filha. Perguntei que vídeo era esse. Eles me enviaram. Quando vi minha filha sendo surrada daquele jeito, fiquei chocada”, relembrou Antônia em conversa telefônica com o g1.

Segundo Antônia, sua filha havia discutido com a menina que fez o vídeo. Uma outra aluna, amiga da jovem que faz o registro, tomou as dores e começou a agredi-la.

As outras meninas ao redor riram e se divertiram com o espancamento antes de, por fim, pedirem para a agressora interromper os golpes.

“O que mais me impressionou é que tudo aconteceu dentro da escola e não tomaram nenhuma providência. Ficaram de fazer uma reunião com a turma sobre o caso, mas o encontro não aconteceu. Conversei com a direção, mas não me sinto nem um pouco segura. Já houve outros casos de violência lá e os pais estão assustados”, afirmou ela.

Antônia disse ter feito queixa formal no colégio e registrado o caso na polícia.

A agressão ocorrida na sexta-feira (4) foi o capítulo mais recente de uma sequência de violências às quais, afirma Antônia, a menina vem sido submetida desde que a família chegou a Portugal, em 2018.

Na noite de Natal do ano passado, uma outra colega enviou uma mensagem por WhatsApp sugerindo que a menina cometesse suicídio.

Na mensagem de WhatsApp, colega sugere que menina cometa suicídio. — Foto: ReproduçãoNa mensagem de WhatsApp, colega sugere que menina cometa suicídio. — Foto: Reprodução

Antônia não descarta a possibilidade de que as agressões contra sua família são movidas por xenofobia.

“Desde que entrou na escola, passaram a chamá-la de feia e esquisita. Também implicam com a maneira como ela fala, uma vez que ela não tem sotaque lusitano. De vez em quando, dizem que ela deveria voltar para a própria terra. Sofremos preconceito por sermos brasileiros, mas imaginei que isso não acontecia entre as crianças”.

Mesmo formas de recreação se transformaram em instrumentos de agressão contra a menina.

A jovem é fã do mangá e anime “Death note”, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.

Na obra de ficção, o protagonista escreve em um caderno o nome de pessoas que ele deseja que morram – o que, na trama, de fato ocorre.

“Ao verem minha filha lendo esse mangá, começaram a chamá-la de bruxa. Dizem que ela vai escrever o nome dos colegas da escola em um caderno para que todos morram. É um absurdo total”.

Antônia teme pela saúde mental da filha.

A jovem já conta com auxílio psicológico. No entanto, alguns efeitos das agressões mentais já começaram a se manifestar.

“Outro dia, ela pegou um estilete, utilizado em trabalhos de arte na escola, para fazer cortes nos braços. Corri, tirei o objeto da mão dela e perguntei por que estava fazendo aquilo. Ela respondeu que a dor no corpo não era tão grande quanto a do coração”.

g1 tentou entrar em contato telefônico com a escola, mas não houve resposta.

O Ministério da Educação de Portugal, porém, informou a veículos de imprensa lusitana que, na segunda-feira (7), o Agrupamento de Escolas do Entroncamento abriu um inquérito para investigar o caso.

Fuga da violência

 

Os episódios de agressão contra a filha surgiram como um pesadelo inesperado no sonho familiar de viver em Portugal.

Natural de Ipueiras, Ceará, e formada em Recursos Humanos, Antônia morava com os dois filhos em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Lá, ela trabalhava como coordenadora de um Centro de Distribuição dos Correios, no bairro Alcântara.

Os sucessivos casos de violência que começou a presenciar a fizeram considerar a saída do Rio de Janeiro e do Brasil.

“Cansei de ver colegas dos Correios assaltados, sequestrados, espancados e, em muitas ocasiões, levados para dentro de comunidades onde tiveram armas apontadas para a cabeça. Os bandidos queriam levar as cargas e para isso agrediam os carteiros. Aquilo começou a mexer demais comigo – não queria criar meus filhos em meio a toda essa violência”, relembrou Antônia, atualmente funcionária do setor de embalagens em um frigorífico de Entroncamento.

Em 2016, a família viajou de férias para Portugal – todos se encantaram com o país. Antônia não teve mais dúvidas e iniciou o processo para a mudança – situação que se tornaria realidade dois anos depois.

“Deixei um emprego concursado para trás apenas para garantir que meus filhos vivessem em um local seguro, sem violência, onde teriam mais chances. Eu jamais conseguiria imaginar que passaríamos por uma situação como esta”.

Fonte: G1

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