O jovem de Sorocaba (SP) que perdeu a visão após sofrer um acidente de trânsito e passou a compartilhar vídeos da nova rotina nas redes sociais, atingiu a meta da vaquinha online criada para arrecadar o valor necessário para fazer um tratamento odontológico e comprar próteses oculares.
De acordo com Felipe Antunes Ferro, de 28 anos, o objetivo era conseguir R$ 11 mil, pois a prótese de olho varia de R$ 4 mil a 6 mil, e o tratamento dentário vai de R$ 6 mil a R$ 8 mil.
No entanto, a mobilização foi tão grande que o jovem acabou arrecadando cerca de R$ 20 mil na plataforma da vaquinha e mais R$ 3 mil através de PIX na conta dele, totalizando mais de R$ 23 mil. Além disso, Felipe chegou a receber ofertas de próteses oculares e de consultas com dentistas de graça.
“Eu sou muito sortudo. Estar cercado de pessoas maravilhosas é muito bom, é muita sorte minha poder contar com essas pessoas. São muitos anjinhos colocados na minha vida para me ajudar e me levantar nessas fases ruins”, agradece.
O valor excedente da vaquinha será doado para a família do pequeno Alberto Teruaki Santos Nishimura (o Betinho), de sete anos, que mora em Itapevi (SP) e ficou internado na cama ao lado de Felipe no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, na época do acidente.
‘Ele estava pegando fogo’
Ao g1, a mãe de Betinho, a cozinheira Anabela Santos de Souza, de 25 anos, conta que o menino precisou ser hospitalizado após sofrer um acidente doméstico, no dia 18 de maio do ano passado. Ele estava no quintal brincando quando foi atingido por uma explosão provocada por um galão de álcool e teve 40% do corpo queimado.
“Eu escutei um barulho bem alto de explosão e saí correndo. Ele estava pegando fogo. Eu e o pai dele jogamos água, mas não adiantou. Por isso, levamos ele correndo para o pronto-socorro de Itapevi”, relata.
Betinho precisou ser intubado e, depois, transferido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o HC de São Paulo, onde passou pelos procedimentos de primeiros socorros. Em seguida, foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Foram três dias de hemodiálise e mais de 12 cirurgias, incluindo enxerto no rosto, duas pernas, um braço, e traqueostomia. No total, o menino ficou dois meses internado até poder voltar para casa.
“O médico fala que vai ser um tratamento muito longo, porque ainda tem muita coisa para fazer. O Alberto perdeu o movimento do punho, e o pé dele direito está atrofiando, ele anda com uma perna só. Então, praticamente ele fica só no sofá jogando com uma mão só. Também não pode pegar nada de sol”, explica a mãe.
Como a família não tem convênio, todo o atendimento médico foi feito através do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, várias cirurgias de reparos ainda serão necessárias, além de atendimento psicológico. Por isso, Anabela criou uma vaquinha no valor de R$ 13 mil para ajudar nos gastos com o tratamento.
“Todo o valor doado vai ser para o tratamento dele com psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta. Vamos usar nas contas da casa também, porque não estou trabalhando no momento. Tudo que eu tinha de dinheiro já acabou e não recebo nada do governo.”
Para a mãe, o sentimento é de gratidão por receber a ajuda de Felipe, após ter visto o sofrimento e a recuperação dele de perto no hospital.
“Ele é um anjo que Deus colocou na vida do Alberto. Eu não tenho palavras para agradecer. Saber que existem pessoas boas no mundo como ele, que, mesmo passando dificuldades, ainda se preocupa com o meu filho… Isso eu nunca vou esquecer”, completa.
História de superação
Ao g1, Felipe contou que não se lembra do acidente que o deixou cego, ocorrido no dia 29 de maio do ano passado, por volta das 2h30, no cruzamento entre as avenidas Eusébio Matoso e Rebouças, em São Paulo (SP).
Ele voltava de Guarulhos (SP) para a capital paulista, onde mora atualmente com o pai e o irmão, quando acabou batendo em uma carreta. A ferragem foi parar no rosto do jovem, quebrando todos os ossos da face dele.
Após a batida, Felipe ficou internado no HC de São Paulo até 12 de julho. No total, foram 30 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo 13 em coma induzido.
Como sequela do acidente, ele se tornou uma pessoa com deficiência visual, perdeu a audição do ouvido direito e ficou com o braço direito disfuncional por conta de uma fratura exposta. Além disso, devido à mudança de vida, desenvolveu uma depressão profunda.
A ideia de criar o canal de vídeos no YouTube para dividir experiências com outras pessoas que estivessem vivendo situações parecidas com a dele surgiu durante os dias de recuperação. O conteúdo produzido pelo “cego responsa” consiste em mostrar como funciona a rotina de uma pessoa cega e o que ele vem aprendendo sobre a vida nesta nova condição, com muito bom humor.
“A ideia veio de uma prima minha que trabalha com isso. Quero motivar as pessoas que estão passando por fases difíceis e também me ajudar, trazendo comentários para mim de pessoas que já passaram por algo parecido e superaram”, explica.
O vídeo de lançamento do projeto, no qual Felipe conta sua história e apresenta o canal, foi publicado no dia 19 de outubro de 2021. A partir daí, o jovem passou a divulgar vídeos mais leves e engraçados a cada 15 dias. Já no Instagram, ele faz lives toda semana, posta curiosidades e histórias, e divulga páginas de outras pessoas com deficiência visual.