Sem fumaça, só vapor. Cheirinho de melancia, tutti frutti, maracujá ou tradicional. Também não contam com compostos químicos como alcatrão e monóxido de carbono. Mas, assim como os convencionais, os cigarros eletrônicos (vapes) contêm doses de nicotina e podem estar ligados ao aumento de problemas ou complicações cardiopulmonares entre os mais jovens.
Muito se fala sobre a ajuda que esses dispositivos podem dar a quem quer parar de fumar. Mas, segundo a pneumologista da Santa Casa de Maceió, Miriã Silva, não há nenhum trabalho que comprove o auxílio na cessação do tabagismo. “Pelo contrário, acontece de muitas vezes o cigarro eletrônico estimular quem nunca fumou a começar a fumar pela falsa sensação de ter um produto que não seria tóxico.
Dentro dele é colocado um líquido concentrado de nicotina, que é aquecido por uma bateria e depois inalado. Além de nicotina, ele também possui solventes como a água, propileno glicol, glicerina. Esse líquido ainda pode incluir metais pesados (chumbo e cromo), bem como aromatizantes para dar sabor. Qual é a questão? Não temos a descrição exata dos componentes que envolvem a produção desses dispositivos, pois são feitos em outros países com legislações diferentes, e muitos dos componentes são tóxicos e causam câncer”, alerta.
DOENÇAS – Pulmão de Pipoca, nome popular dado à bronquiolite obliterante, é uma condição onde os bronquíolos são danificados e inflamam devido a inalação excessiva de produtos químicos. Os usuários dos dispositivos eletrônicos também podem ter EVALI, doença pulmonar relacionada ao uso do cigarro eletrônico descoberta em 2019 por conta de um surto de síndrome gripal que evoluiu para insuficiência respiratória em jovens americanos. Estudos ainda mostram que os danos causados pelo uso dos cigarros eletrônicos podem afetar a pele ou mucosa da boca: dermatite de contato, queimaduras térmicas e lesões da mucosa oral, como estomatite, são condições constantemente associadas ao uso dos cigarros eletrônicos.
“O uso desses dispositivos por parte dos jovens é preocupante. Eles são mais suscetíveis à dependência química do que os adultos e ainda vemos um uso indiscriminado e sem consciência dos males que o cigarro eletrônico pode trazer. Não há tratamento específico quando o agente causador é o vape. Cada doença é tratada seguindo as diretrizes que já existem, como no caso da DPOC e do câncer. No caso da EVALI, o tratamento é muito mais de suporte. É importante termos campanhas informando nas escolas sobre os perigos do produto e ter maior controle sobre as vendas, já que são proibidas”, finaliza a especialista.
ALERTA – A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos.