Moradora de Piabetá, em Magé, na Baixada Fluminense, uma recepcionista, de 25 anos, ainda guarda no corpo e na memória as marcas da tortura que foi submetida, durante 30 minutos, no último dia 6 de fevereiro. O suspeito do feminicídio tentado, segundo a polícia, é o barbeiro Alexandre da Silva, de 41 anos, namorado da jovem com quem ela morava havia apenas duas semanas.
Com sete pontos em uma das mãos, ela recorreu a um tratamento psicológico para tentar superar o trauma de ter sido pisoteada, espancada com socos, chutes, e de ter os cabelos cortados com uma navalha empunhada pelo namorado. A recepcionista também sofreu cortes profundos nos dedos indicador e polegar da mão esquerda.
O motivo para a brutalidade sofrida foi uma crise de ciúme do barbeiro. Ele não gostou da namorada se negar a desbloquear o telefone celular para ele iniciasse uma conversa com um homem. Ele queria saber se a namorada e o rapaz teriam outros interesses além da amizade. Durante as agressões, X. foi impedida de deixar a casa e pensou que seria morta.
— Falei que eu ia pedir para meu pai me buscar, e ele ( barbeiro) fechou a porta e impediu que eu saísse. Ele pegou a navalha e eu pensei que fosse morrer. Me disse que iria cortar meu cabelo e minha sobrancelha. Ele sentou de frente pra mim e mandou que colocasse meu pé no colo dele para ele cortar meus dedos. Pedi para ele não fazer isso . Foi quando ele me puxou e cortou meus cabelos e fez cortes em dois dedos da mão esquerda — disse a mulher.
A recepcionista chegou a gritar por socorro, mas com a profundidade dos ferimentos e a perda de uma quantidade de sangue, ela perdeu os sentidos. Segundo a polícia, o barbeiro ainda tentou enforcar a vítima com um fio de um ferro de passar roupa. Em seguida, ele deixou o local e fugiu.
A notícia da prisão de Alexandre Silva, ocorrida nesta quinta-feira, depois que agentes da 66ªDP (Piabetá) localizaram o suspeito na casa de um amigo, trouxe alívio para recepcionista. Ela conta que após ser agredida teve que antecipar suas férias por medo de sofrer nova agressão e por não ter condições de concentrar no trabalho.
— Tive que antecipar minhas férias. Não tinha condições de ir trabalhar. Meu psicológico está abalado. Tive que procurar tratamento. Estou traumatizada e desesperada com tudo o que aconteceu. Basta fechar os olhos e um filme passa na minha cabeça. Vem tudo de volta. Meu sonho de casar virou um pesadelo. Já namorávamos havia um ano, mas há duas semanas resolvemos ir morar juntos. Ele sempre foi meu amigo, me elogiava e me colocava pra cima. Não esperava de jeito nenhum que isso fosse acontecer. Ele nunca agiu assim antes. Agora, tudo acabou. Não quero vê-lo nunca mais. Ficou um sentimento de desespero. A notícia de que ele foi preso me trouxe um certo alívio porque vou poder voltar a trabalhar — concluiu a recepcionista.
Segundo delegado Ângelo Lages, da 66ª DP, por conta do crime, o suspeito teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
— Ele foi denunciado por feminicídio triplamente qualificado. Ou seja, por motivo torpe, por (uso) de meio cruel, asfixia e tortura e pela condição da vítima ser mulher— disse o delegado.
Em caso de condenação, o barbeiro estará sujeito a uma pena que varia de 12 a 30 anos de prisão. De acordo com a polícia, Alexandre Silva tinha outras três passagens pela polícia por delitos relacionados à violência doméstica.