O engenheiro Júlio Cezar descobriu que tinha autismo de uma forma bem inesperada: depois que o filho João Olavo também foi diagnosticado com o transtorno. Neste sábado (2), quando se comemora o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o morador de Palmas conta a história da descoberta e pede acolhimento e compreensão por parte da sociedade.
João, hoje com seis anos, recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos dois. Os pais estranharam o fato de que, mesmo tão novo, o menino já sabia cantar o hino nacional e falar o nome de muitos animais.
“Aos dois anos ele já sabia o nome de mais de 100 animais, o que foi uma coisa bem estranha porque não sabíamos se era realmente normal uma criança daquela idade já ter decorado o nome de tantos animais. Ele também já sabia o hino nacional decorado nessa idade. Tinha essas particularidades, mas não tinha o diálogo, ele não conseguia dialogar com a gente”, explicou o pai.
Com o tempo, Júlio Cezar percebeu que apresentava alguns comportamentos que seu filho também reproduzia. Ele decidiu ir ao psiquiatra e acabou tendo uma surpresa: foi diagnosticado com autismo de grau leve.
“Ele fazia alguns movimentos estereotipados e eu pensava: ‘Espera aí, esses movimentos eu também tenho’. Tive o laudo com a médica psiquiatra. Ela disse para mim que devido a todos os estudos ficava claro que eu me enquadrava no TEA. E aí eu estaria enquadrado na antiga Síndrome de Asperger”.
Após o diagnóstico a vida da família passou a ser diferente e melhor. Júlio destaca que o apoio da esposa é essencial no dia-a-dia. “A nossa relação eu diria que é boa, porém há momentos de estresse dele e há momentos de estresse meu também. E aí é o jeito eu me afastar. É esse momento que a gente precisa da mãe dele, que tem sido a nossa heroína, o nosso quando suporte”, disse Júlio.
Pesquisas mostram que cerca de 97% das causas do autismo são genéticas e 3% por fatores ambientais como idade avançada e uso de alguns tipos de medicamentos na gestação. Pessoas com esse espectro precisam ser integradas à sociedade e projetos como a Associação Anjo Azul ajudam no processo de inclusão e orientação de famílias com pessoas autistas.
A ideia para criar esse grupo de apoio surgiu há onze anos após alguns pais perceberem a dificuldade para encontrar médicos que atendiam casos de autismo no Tocantins.
Rosa Helena é vice presidente da associação e viveu na pele a experiência ao buscar atendimento médico especializado para o filho.
“Meu filho foi diagnosticado com autismo com um ano e oito meses. Onze anos atrás a gente não tinha atendimentos como a gente tem hoje, não que tenha mudado muita coisa aqui em Palmas, mas hoje já temos mais profissionais. Os pais buscavam os diagnósticos fora do estado e ao retornar a gente se encontrava sempre nos mesmo profissionais, que eram pouquíssimos que atendiam o autismo. Foi aí que um dia surgiu a ideia da gente ter uma associação nossa e hoje eu não consigo nem mensurar quantas pessoa a gente consegue atender direta e indiretamente”, explicou a vice-presidente da Anjo Azul.
Conforme o projeto ia crescendo as demandas foram aumentando e hoje o número de diagnósticos é maior. Segundo a associação são atendidas mais de 500 pessoas no Tocantins.
“A anjo azul faz esse acolhimento. Nós orientamos as famílias sobre o tipo de procedimento que tem que fazer, quais os direitos da pessoa com autismo, o que a família deve buscar e onde pode buscar”.
Neste sábado (2), as pessoas com autismo aproveitam para pedir mais compreensão.
“Se você tiver amor, compreende. Então o amor traz essa compreensão. Se uma pessoas oferece ajuda, oferece suporte à uma mãe que está ali com o filho se debatendo, com um filho que está numa crise isso já ajuda bastante. E a própria mãe, o próprio responsável vai se sentir acolhido”, destacou Júlio.