Silvana Pilipenko, artesã paraibana que estava desaparecida na Ucrânia e deixou o país durante a guerra, chegou à Paraíba neste domingo (10). Familiares e amigos foram até o Aeroporto Castro Pinto para recebê-la após difíceis momentos durante o conflito que já registra diversas mortes.
Dona Antônia, que mora na Paraíba, aguardava a chegada da filha, que é casada com um ucraniano há 27 anos, ao lado de outros familiares, que também se reuniram para recebê-la no aeroporto.
O voo em que ela estava com o marido e a sogra chegou a São Paulo nesse sábado (9), em um avião que partiu de Dubai, cidade dos Emirados Árabes. A vinda para o Brasil acontece após a chegada deles à Crimeia, região da Ucrânia anexada à Rússia em 2014.
Durante a conexão em Dubai, ela postou um vídeo nas redes sociais e pediu que os brasileiros continuem orando pelo povo ucraniano.
“Para que essa guerra chegue ao fim, para que Putin tome consciência e recue com as suas tropas. E aquela nação possa ter paz e tentar recomeçar a reconstruir tanto a cidade como reconstruir o emocional de cada pessoa, e que aquelas famílias possam se reunir, já que muitos estão separados, refugiados em países diferentes”, disse.
Percurso difícil até chegar à Crimeia
A paraibana falou publicamente pela primeira vez no dia 31 de março, desde que conseguiu sair do país e entrar na Crimeia.
Em vídeo postado nas redes sociais, Silvana agradeceu a preocupação de todos e contou sobre a situação no país.
“Eu, minha sogra e meu esposo estamos fisicamente bem, mas emocionalmente abalados, e precisamos de um tempo para nos reconstruir. Foram dias difíceis, muito difíceis, mas eu agradeço cada oração de vocês, o empenho de vocês, porque eu tenho certeza que as orações foram parte fundamental para que a nossa saída [da Ucrânia] tivesse êxito”, disse.
Silvana passou 26 dias sem contato com a família, que mora em João Pessoa. Ela, o marido ucraniano, Vasyl Pilipenko, e a sogra, de 80 anos, estavam em Mariupol e conseguiram contato com o filho do casal, Gabriel Pilipenko, na terça-feira (29).
No vídeo, a artesã agradeceu a preocupação das pessoas no Brasil e pediu orações para a população ucraniana.
“Continuem orando para aquele povo, para que ele continue sendo forte, continue resistindo e continue sobrevivendo a essa guerra. Eu peço a cada um de vocês que continue orando pelo povo ucraniano porque é uma situação muito delicada e quem está lá não vê muita saída, não tem muitas escolhas”, contou.
Um dia antes da publicação do vídeo, a mãe de Silvana, Antônia Vicente, contou como se deu a fuga da filha da Ucrânia. “Ela disse que escondeu muito o celular [durante a fuga] para poder chegar com o aparelho e dar notícia”, disse Antônia.
Silvana relatou para a mãe que durante a viagem de Mariupol até a Crimeia, ficou bastante cansada. Além disso, a sogra dela estava doente e no percurso havia muitas barreiras, com o carro sendo parado para revistas. “Tiravam até os tapetes e abriam as mochilas”, contou Antônia.
Dificuldades até chegar ao Brasil
Gabriel Pilipenko, filho de Silvana, contou ao g1 que Silvana e a família estavam em casa, em Mariupol, quando foram localizados. O engenheiro explicou também que o Itamaraty ajudou em todo o processo, especialmente funcionário André Mourão, da embaixada Brasileira na Ucrânia.
Gabriel estava a trabalho em Taiwan e tentou entrar na Ucrânia para obter informações sobre a mãe. No entanto, mudou de ideia ao chegar na Alemanha e ver que a situação se mostrava muito perigosa. Segundo a família, ele permanece no país germânico devido ao trabalho.
Entenda o caso
Silvana Pilipenko, de 54 anos, havia falado pela última vez com a família no dia 3 de março, quando disse que a cidade estava começando a ser atacada e sofria com quedas de energia. No dia anterior, um vídeo com notícias foi enviado à família.
No vídeo, a paraibana disse que a cidade de Mariupol estava cercada e, por isso, não havia como sair de lá.
“A cidade está cercada pelas forças armadas, todas as saídas estão minadas, então é impossível tentar sair daqui nesse momento. Basicamente Mariupol faz fronteira com o país atacante, então não podemos seguir nessa direção. Se fôssemos para outra direção, no sentido Polônia ou Hungria, teríamos que atravessar todo território, o que não seria viável diante das circunstâncias e da distância”, explicou.
Ela também alertou que a comunicação poderia ser dificultada pela falta de energia elétrica.
Segundo a sobrinha de Silvana, Beatriz Vicente, o governo brasileiro só havia informado que há um grupo em um aplicativo de mensagem para que os brasileiros possam entrar em contato e, desse modo, pegar um trem para tirá-los da Ucrânia pela Polônia e, depois, pegar um voo para o Brasil. Mas os cidadãos brasileiros precisam de internet para conseguir entrar em contato. Não há uma equipe específica dentro do país para retirar os brasileiros
O Itamaraty, por sua vez, enviou uma nota à imprensa informando que tem conhecimento do caso e que, por meio do escritório de apoio em Lviv, tem mantido contato regular com familiares de Silvana.
A nota dizia ainda que organizações internacionais de apoio humanitário presentes em Mariupol já haviam sido acionadas com vistas a tentar localizar a cidadã brasileira.