PMs viram réus por execução de 3 trabalhadores rurais no Entorno do DF

Funcionários de fazenda saíram para olhar armadilha de javalis e foram mortos por 43 disparos. Militares forjaram confronto, segundo MP

Goiânia – Policiais militares de Goiás foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado contra três trabalhadores rurais na zona rural de Cristalina (GO), Entorno do Distrito Federal. A denúncia foi acatada pelo Judiciário no último 25 de abril e eles se tornaram réus em um processo criminal.

Segundo o MP, os sargentos Ângelo Máximo Morais Lacerda, Reginaldo Matos Lima, e o soldado Bruno Martins Barros assassinaram com 43 tiros de pistola e carabina os funcionários de uma fazenda de soja Allef Nunes Souto, de 22 anos, Nelson da Silva Cardoso, de 38, e Francisco da Silva Chaves, de 41.

O crime aconteceu na noite de 25 de novembro de 2020 dentro da propriedade rural em que as vítimas trabalhavam. Os três tinham saído em duas motocicletas para verificar uma armadilha de javali, quando foram surpreendidos pelos militares, que atiraram “sem qualquer tipo de abordagem, comunicação ou alerta”, segundo o MP.

Nelson e Francisco caíram assim que foram atingidos. Já Allef, o mais novo do grupo, conseguiu correr, mas foi atingido por disparos nas costas e na cabeça, conforme ficou comprovado em perícia de reprodução simulada do crime, como já adiantada pelo Metrópoles.

Falso confronto

Após matar os três trabalhadores, os militares forjaram um confronto e atiraram com duas armas velhas que os funcionários usavam para caçar javalis. Além de incluir uma terceira arma que não era deles, segundo o MP. No momento do crime, as vítimas carregavam um animal fêmea morto e filhotes em um saco.

Não bastando isso, os policiais retiraram as vítimas do local alegando que não conseguiram chamar socorro por falta de sinal telefônico. Todos chegaram mortos na unidade de saúde, após uma viagem por estrada de chão na carroceria da viatura.

O local onde ocorreu o crime é uma estrada que passa na beira de uma plantação de soja e não tem iluminação pública. Os faróis e as sirenes da viatura estavam desligados. Os PMs, que fazem parte da Patrulha Rural, alegaram que estavam verificando uma denúncia de furto de gado em uma propriedade vizinha.

Triplamente qualificado

Ângelo, Bruno e Reginaldo respondem agora por homicídio triplamente qualificado, por ter motivo torpe, emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e pelo crime ser feito para assegurar a impunidade.

Três promotores assinaram a denúncia: Bernardo Monteiro Frayha, Luís Antônio Ribeiro Júnior e Sávio Fraga e Greco. A decisão judicial é do juiz Fernando Marney Oliveira de Carvalho.

Além de acatar a denúncia, o Judiciário determinou a suspensão de atividades públicas policiais ostensivas pelos acusados e a suspensão da posse e porte de arma de fogo pelos acusados, incluindo as adquiridas para uso particular. O descumprimento dessas suspensões pode levar à prisão preventiva.
Provas

Durante a investigação, o Ministério Público e a Polícia Civil pediram a reprodução simulada do crime, o que foi feito em janeiro de 2020, mas só ficou pronto no final de 2021.

Essa reprodução simulada sugeriu que as vítimas “foram surpreendidas pelos tiros em momento em que estavam com chances reduzidas de defesa” e “portavam armas de tiros unitário simples e não estavam em posição favorável para a realização de tiros”.

A perícia também ajudou a desmentir uma versão dada pelos militares. Os PMs falaram que havia atiradores no meio do mato que fugiram durante o suposto confronto. No entanto, o laudo mostrou que não havia indícios de disparos realizados por outros atiradores.

Revolta

As mortes dos três trabalhadores gerou revolta em Cristalina no final de 2020. Familiares e amigos fizeram protestos na cidade pedindo Justiça. As vítimas eram pessoas queridas na comunidade e deixaram pais, filhos, irmãos e esposas.

Os patrões das vítimas saíram em defesa de seus funcionários e chegaram a participar de uma reunião com o comando da Patrulha Rural pedindo a investigação das mortes.

Até o prefeito da cidade, Daniel do Sindicato, do partido do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), publicou um vídeo dizendo que as vítimas eram inocentes. Movimentos de caçadores legalizados demonstraram indignação com as mortes.

Procurado pelo Metrópoles, o advogado dos três PMs, José Patrício Júnior, da União dos Militares de Goiás (Unimil), informou apenas que eles não foram notificados da decisão e estão esperando ser notificados para haver manifestação.

Fonte: Metrópoles

Veja Mais

Deixe um comentário