Grupo faz ato em Brasília, na manhã deste domingo (19), cobrando por justiça pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, na Amazônia. A manifestação começou por volta das 10h30 da manhã, na Asa Norte.
A dupla estava desaparecida desde 5 de junho, enquanto fazia uma viagem na terra indígena do Vale do Javari (AM). Os restos mortais deles foram encontrados na quarta-feira (15), após um dos suspeitos confessar envolvimento.
Os participantes carregam imagens de Bruno e Dom, cartazes cobrando a responsabilização pelo crime e pelo fim do garimpo. Há também pedido para a saída do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier.
Indígenas e um servidor da Funai discursaram durante o ato, que também conta com a presença de integrantes de movimentos sociais, servidores públicos e pequeno produtores rurais.
Identificação
Policiais federais carregam caixão com restos mortais de Dom e Bruno que foram encontrados no Amazonas — Foto: TV Globo/Reprodução
O material encontrado foi trazido para análise em Brasília. Neste sábado, a Polícia Federal confirmou que parte dos restos mortais encontrados no Amazonas são do indigenista Bruno Araújo Pereira.
A identificação foi possível após exame da arcada dentária no Instituto Nacional de Criminalística. Durante a tarde de sexta (17), peritos já haviam confirmado que, no material, também estavam os restos mortais do jornalista Dom Phillips.
Em nota, a PF informou que Dom e Bruno foram atingidos por tiros: o indigenista foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, já o jornalista, uma vez, no tórax. Três suspeitos estão presos pelo crime. Um deles, que era considerado foragido, foi detido neste sábado.
Causa da morte
Segundo a nota da PF, o exame médico-legal feito pelos peritos aponta que “a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)”.
Já a morte de Bruno Pereira, de acordo com a Polícia Federal, “foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”.
A corporação afirma que “os trabalhos dos peritos do Instituto Nacional de Criminalística, nos próximos dias, serão concentrados nos exames de Genética Forense, Antropologia Forense e métodos complementares de Medicina Legal, para identificação completa dos remanescentes e compreensão da dinâmica dos eventos”.
Os corpos das vítimas teriam sido esquartejados e enterrados. A motivação do crime ainda é incerta, mas a polícia apura se há relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região. Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia: desmatamento e avanço do garimpo.
Desaparecimento
Antes de sumir, Pereira, que era servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e Phillips foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael em uma viagem com duração prevista de duas horas rumo a Atalaia do Norte, mas eles não chegaram ao destino.
Logo após o desaparecimento, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou que Pereira recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. Em nota divulgada na ocasião, a entidade descreveu Pereira como “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.
Segundo o jornal britânico “The Guardian”, do qual Phillips era colaborador, o repórter estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente. Ele morava em Salvador e escrevia reportagens sobre o Brasil fazia mais de 15 anos. Também publicou em veículos como “Washington Post”, “The New York Times” e “Financial Times”.