Maria Elenilda Vieira da Silva, de 28 anos, morta pelo marido com nove tiros em várias partes do corpo, no dia 14 de julho, no Pontal da Barra, havia registrado Boletim de Ocorrência (BO) no dia 3 de julho, 11 dias antes de ser assassinada. À Polícia ela relatou situações de abuso e ameaças por parte do esposo, Cláudio Jackson Barbosa dos Santos, de 36 anos.
Leia também: Crime no Pontal: DHPP diz que vítima sofria violência doméstica; vídeo
O B.O. foi lavrado na Central de Flagrantes, no Farol, e nele Elen conta que conheceu Claúdio no trabalho em 2012 e que no início não notou nenhum comportamento agressivo, mas que com o tempo ele começou a persegui-la e até a fazer chamadas de vídeo para ter certeza de onde ela estava.
“Ele aparentemente me apoiou em tudo que fiz, sempre trabalhei, estudei e nunca saí muito. Ao certo, não sei quando tudo mudou. Porém, me recordo de algumas vezes em que fui ao médico e tive que fazer chamadas de vídeos ou ligar o tempo todo para provar onde eu estava”, diz um trecho do B.O.
Ainda segundo o documento, foi no ano passado que Claúdio começou a apresentar um comportamento mais obsessivo e perigoso.
“Em abril de 2021, o mesmo me deixou em um consultório médico no Farol e ficou aguardando escondido. Em ligação, Cláudio disse que estava na Barra, pois iria jogar bola com os amigos. Ao fazer um exame e ser encaminhada para a finalização dos demais em outra clínica, saí do consultório, logo avistei o carro e me direcionei até o mesmo. Quando me aproximei, ele logo questionou que palhaçada era aquela, quem eu tinha ido encontrar ali. Eu desconsiderei e pedi que o mesmo me levasse em outro consultório. Quando chegamos em casa, eu pedi para me separar, pois não aprovava aquela atitude e já não estávamos bem”.
Ainda segundo o depoimento, o marido vivia dizendo que ela estava o traindo, mas insistiu para que eles continuassem juntos e prometeu que iria mudar. Ela então sugeriu que ou se separassem ou fossem para a psicóloga. Ele concordou em ir para terapia e parentemente havia apresentado melhora, ao menos nas consultas diante da profissional.
“Nas sessões ele falava o que a psicóloga e eu gostaríamos de ouvir, mas quando saía de lá, tudo voltava ao normal. Eram perguntas e mais perguntas. Diante de tudo que expomos, a psicóloga disse que ele tinha transtorno de paranoide. A partir daí, ele não quis mais ir”
Depois disso, ele começou a espioná-la com o uso de um aplicativo que captava som ambiente e mensagens do celular dela.
“Mais ou menos a partir dessa época, eu já não saía mais sozinha. Ele estava monitorando meu celular por um aplicativo que monitorava som ambiente, mensagens de texto, Whatsapp, Instagram e tudo que fazia pelo celular. Pediu para eu sair do trabalho, pois só a partir disso podíamos iniciar uma nova vida. Assim eu fiz, nada mudou. As brigas não pararam, na rua eu não podia olhar para o lado, tudo que acontecia à minha volta é culpa minha, ninguém pode me olhar. Em casa, já não consigo dormir direito. Estou sempre com medo de alguma coisa acontecer”.
Ela continua o relato e conta que estava disposta a se separar de Claúdio, mas que ele chorou e pediu mais uma chance.
“Fui à Defensoria Pública e deixei agendado o dia para realizar a dissolução. Nesse momento, ele disse que não queria nada, pediu apenas que eu passasse o carro para o nome dele. Passei para que pudesse ocorrer tudo sem problemas. Ele vendeu o carro, saiu do trabalho, comprou outro carro e ficou somente fazendo alguns serviços como contador. Um dia antes do dia agendado (na Defensoria Pública), ele chorou rios e me convenceu de que devíamos tentar novamente”
Ela cedeu e decidiu tentar novamente, mas o comportamento obsessivo do marido só piorou.
“Hoje verifica todos os meus passos. Quando eu chego do trabalho, o mesmo pede para eu soprar para que ele possa sentir o cheiro. Verifica toda a minha roupa e depois que tiro, o meu corpo. Ele mexe nas minhas coisas e fica questionando tudo. Sempre que por descuido eu reajo, as ameaças aumentam. Ele deixa claro que vai fazer algo, só está vendo quando. No guarda roupa, reservou um espaço onde mantém uma fita adesiva cinza, um saco com enforca gato e uma caixa metálica com senha de segredo. Por todo o cenário e conversas descritas, tenho o receito que a finalidade seja me imobilizar e me fazer algum mal”.
Ela finaliza o depoimento dizendo que se sente “atordoada, perseguida e sufocada” e pede uma medida protetiva contra o esposo.
“Me sinto atordoada, perseguida e sufocada. Me sinto sozinha e sem saber o que fazer para fugir dessa vida. Desejo solicitar o pedido de medidas protetivas para que possa afastá-lo do lar”.
Após 11 dias do registro do Boletim de Ocorrência, Maria Elenilda foi encontrada morta em cima da cama. Ao lado dela, o marido também estava morto com um disparo na boca.