A Polícia Civil ouviu, até esta quarta-feira (10), seis vítimas do treinador de vôlei denunciado por atletas por estupro em São José, na Grande Florianópolis.
A delegada Marcela Sanae Goto, responsável pelo caso, afirmou que quatro atletas prestaram depoimento antes da prisão preventiva dele. Outras dois procuraram a polícia após o suspeito ser detido, e foram ouvidas nesta semana. A polícia também ouviu quatro testemunhas.
O treinador, André Testa, é investigado por pelo menos cinco crimes, declarou a Polícia Civil. Entre eles, estão estupro de vulnerável e importunação sexual. Na sexta-feira (5), ele passou por uma audiência de custódia e vai continuar preso preventivamente. A defesa do treinador disse que “a prisão preventiva é inoportuna e ilegal” [leia nota na íntegra abaixo].
As duas novas vítimas também são ex-atletas. Testa é suspeito de abusar sexualmente de garotos treinados por ele.
Segundo a delegada, as duas vítimas fizeram relatos de abusos semelhantes aos depoimentos anteriores.
Crimes
Goto enumerou os crimes pelos quais o suspeito pode responder.
“Ele está sendo investigado pelos crimes de estupro de vulnerável, importunação sexual, artigo 232 do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente], porque ele constrangia os adolescentes perante outros atletas, o artigo 243 também do ECA, porque ele fornecia bebida [alcoólica] aos adolescentes, e o artigo 344 [do Código Penal], que é coação no curso do processo, porque ele passou a coagir as testemunhas para que não viessem prestar esclarecimentos nesta delegacia”.
Segundo Goto, o suspeito chegou a se passar por delegado, ao simular um depoimento com um dos atletas, para garantir que ele negasse que os abusos ocorreram.
“O suspeito passou a coagir as testemunhas. Inclusive, com uma testemunha, chegou a simular uma situação onde ele seria delegado e passaria a fazer as perguntas. A testemunha deveria responder negando os abusos”, diz.
As denúncias foram feitas por jovens que jogavam na Associação Desportiva e Cultural Terra Firme. As vítimas relataram que o treinador os manipulava a ponto de não compreenderem que ocorriam crimes contra elas.
“Ele ganha muito a confiança e acabou abusando de mim. Eu era virgem na época. Foi a minha primeira vez”, relatou uma das vítimas.
O que diz a defesa
Os advogados Leandro Henrique Martendal e Marlon Charles Bertol, que atuam na defesa de André Testa, se manifestaram por meio de nota na semana passada. O g1 entrou em contato novamente com o escritório nesta quarta, mas a defesa preferiu não comentar o caso.
Confira abaixo o que diz a nota da semana passada.
“A prisão preventiva de André Wilson Testa é inoportuna, desnecessária e ilegal. A polícia apenas apresentou ilações e conjecturas e, com isso, não comprovou a imprescindibilidade da prisão preventiva, assim como não justificou o cabimento de outras medidas cautelares diversas da prisão.
André é inocente e não são procedentes as imputações. Conforme se comprovará no transcorrer do processo, há denuncismo de viés vingativo. Todas as informações colhidas até o presente momento foram produzidas sem que fosse oportunizado o direito ao contraditório.”
O que dizem as entidades
A Associação Terra Firme afirmou que não concorda com esse tipo de situação, nenhum tipo de assédio, físico moral ou sexual, e que prontamente afastou o técnico para que as investigações fossem feitas sem qualquer interferência junto aos jogadores.
A Fundação Municipal de Esportes de São José também se manifestou. Por nota, disse que tomou conhecimento da denúncia informalmente em maio e que notificou imediatamente os responsáveis técnicos do projeto de voleibol e o professor foi afastado.
Já a Federação Catarinense de Voleibol não vai se manifestar no momento, pois desconhece os fatos e em nenhum momento recebeu algum tipo de denúncia. E espera que tudo seja esclarecido pelas autoridades competentes na forma da lei.
A Confederação Brasileira de Volêi (CBV) enviou nota dizendo que, diante das denúncias recebidas, a CBV determinou à Federação Catarinense de Voleibol o afastamento imediato do técnico das funções, além de suspender seu registro na entidade, até que os fatos sejam devidamente apurados.
A CBV reitera que repudia qualquer tipo de assédio, e trabalha de forma incessante por um ambiente pautado pela ética e pelo respeito, e livre de qualquer tipo de violência ou preconceito.