Quando começou a pesquisar técnicas de meditação para crianças e adolescentes, a administradora Daniela Degani não imaginava que ali redescobriria sua missão de vida. Mãe de três filhos, ela buscou na meditação o caminho para aprender a lidar com o estresse de conciliar múltiplos papeis, o de mulher, esposa, mãe e profissional.
Foi sem pretensão que Daniela começou a pesquisar a aplicação da técnica de meditação. Leu livros, participou de workshops, constatou os benefícios em casa com mudanças de comportamentos dos filhos sendo notada também no ambiente escolar e resolveu estender a prática para amigos e outras famílias interessadas.
Depois de lecionar em um centro comunitário e constatar que mindfulness beneficiava também crianças carentes e em situação de vulnerabilidade, não teve mais dúvidas. Formada em Administração de Empresas pela USP e pós-graduada em Comunicação pela ESPM, com passagem por grandes empresas ao longo da carreira corporativa, resolveu fazer nascer a Mindkids. Desde então, dedica-se a ensinar e treinar educadores em mindfulness para a sala de aula. Estes, por sua vez, difundem a meditação para alunos da educação infantil ao ensino médio estendendo os benefícios da prática para a comunidade escolar, inclusive os pais.
“Aqui em casa, cada um se beneficia da meditação de uma forma diferente. O mais velho, prestes a fazer vestibular, encontrou tranquilidade para o momento de tanta pressão. O do meio aprendeu a gerir melhor suas emoções e a caçula medita de forma lúdica. Todos se sentem mais equilibrados para os desafios do dia a dia “, comenta a fundadora da Mindkids.
Daniela é a primeira e única, até o momento, brasileira a concluir o Year Long Certification Program da Mindful Schools no Brasil e a fazer parte do Mindful Schools SWIP (School Wide Implementation Program), voltado ao estudo das melhores práticas em programas de implementação de mindfulness no âmbito escolar. Desde que a Mindkids nasceu, em 2016, mais de 30 escolas de todo país já se beneficiaram com o projeto. “Nossa meta é tornar as escolas um espaço vibrante e acolhedores onde alunos e educadores se sintam bem”, destaca.
Meditação nas escolas
A Ananda Escola e Centro de Estudos incluiu a meditação no currículo acadêmico e possui experiência de mais de duas décadas no assunto. Mesmo já praticando a meditação há mais 20 anos, a Ananda investe em formação continuada.
“No mundo de hoje, tudo vem se atualizando em uma velocidade enorme. Nós educadores também precisamos nos reciclar, especialmente em temáticas que fazem parte da nossa essência”, destaca Carina Sales, diretora da Ananda Escola e Centro de Estudos. Agora, com respaldo da neurociência e das propostas de desenvolvimento de competências socioemocionais defendidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Desde que foi fundada, as aulas são convite ao mergulho interior. No início de cada turno, o silêncio impera nas turmas da Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio. A meditação pode durar de 15 a 30 minutos, a depender da idade dos estudantes.
A meditação não é uma prática isolada. Além do conteúdo curricular exigido pela Lei de Diretrizes e Bases para cada ciclo, a Escola Ananda investe no desenvolvimento de habilidades e competências do estudante. Lá, os alunos têm a disciplina Fundamentos da Aprendizagem Socio Emocional (FASE) com objetivo de desenvolver competências socioemocionais. Os resultados vêm sendo constados há mais de duas décadas. Alunos mais concentrados nos estudos, com melhores condições de compreender os conteúdos expostos em sala.
E mais importante que avanços no desempenho acadêmico, seres humanos atentos a si e ao próximo, mais pacientes, bem humorados e resilientes, conscientes do seu papel no mundo. Diminuição de estresse e conflitos de relacionamento, que favorecem um ambiente mais pacífico. “Uma mente quieta resolve problemas com facilidade, evita conflitos, é empática, promove a saúde do corpo e aproxima o indivíduo do que é real”, ressalta Luana Oliveira, coordenadora do Ensino Fundamental Anos Iniciais na Escola Ananda.
As crianças estão levando os ensinamentos para casa. Durante as aulas remotas por conta da pandemia, muitos pais acabaram experimentando a meditação. “Especialmente os pais da educação infantil, que estavam trabalhando em casa, acabaram tendo primeiro contato com a meditação e relataram como foi importante para lidarem com o momento desafiador e se sentirem mais serenos. Aqui na escola, muitas famílias aprenderam essa lição com os filhos”, constata sem esconder o entusiasmo a diretora Carina Sales.
Engana-se quem pensa que aquietar a mente é tarefa difícil para os pequenos. “Temos prática com as crianças muito pequenas e vemos a facilidade que elas têm de interiorizar por ainda produzem poucos pensamentos”, acrescenta Luana, lembrando que a mediadora, que no caso a educadora, adapta a condução da meditação considerando a fase de desenvolvimento da turma. “Muitas crianças não têm esse amparo em casa porque os adultos não foram preparados a lidar com suas emoções. Em um período tão conturbado como o que vivemos atualmente, esta lição deve começar cedo, o quanto antes. De preferência, na escola e se estendendo para o seio familiar”, defende a fundadora da Mindkids, lembrando que nos Estados Unidos e Inglaterra mindfulness é adotado como disciplina curricular em muitas escolas.