Gabriel O Pensador voltou aos palcos de Brasília nesta sexta-feira (2/9). O rapper foi uma das atrações principais do festival Na Praia com show que celebrou os 25 anos do icônico álbum Quebra-Cabeça (1997). Parceiro do complexo pé na areia, O Metrópoles conversou com o artista nos bastidores do evento, pouco antes de ele colocar os mais de 8 mil fãs para entoar sucessos como Cachimbo da Paz, Pátria Que Me Pariu e Racismo é Burrice, entre outros.
No bate-papo, Gabriel refletiu sobre a atualidade de canções escritas duas décadas atrás, mas que ainda relatam mazelas sociais que assolam o país. “Alguns temas, como o racismo, mudaram muito. Até porque hoje existem leis, denúncias… tem uma postura mais de combate. As pessoas camuflavam o racismo no Brasil, e por isso eu falava tanto. Era uma coisa de quebrar um tabu, porque diziam que não existia racismo no Brasil. Era uma coisa ridícula, um absurdo de se pensar hoje”, começou o rapper.
Para ele, outros temas abordados em seus sucessos nos anos 1990 mudaram para a pior. “As pessoas estão mais intolerantes. O Retrato de Um Playboy, por exemplo, a gente fez a ‘parte dois’, mas já podemos fazer a ‘parte três’. As pessoas estão mais alienadas… pelo menos boa parte das pessoas. É difícil ficar comparando o ontem e o hoje, mas eu não acho que evoluiu, infelizmente. E isso não só a gente. Achei que após a pandemia a sociedade iria ter uns insights de valorizar mais o respeito ao próximo, a simplicidade… e não vejo isso como uma realidade”, considera.
Repensando as rimas
A receita do sucesso nacional de Gabriel O Pensador desde 1993 é fruto de uma dosagem perfeita entre denúncia e humor. No repertório, convivem letras com referências ao consumo de drogas (Cachimbo da Paz), à violência contra os mais pobres (Brazuca) e à desigualdade social (Até Quando), e a crítica bem-humorada presente em hits como Retrato de Um Playboy.
Algumas das rimas, entretanto, precisaram ser repensadas. É o caso de Lôraburra que ganhou, em 2019, uma versão que defende a individualidade de cada mulher.
“Eu parei de cantar a muito tempo essa música, por uma questão minha mesmo. Tinha algumas frases mais fortes, que eu não achava tão legal. Não foi uma imposição do politicamente correto. Porque ela também teve a sua função de alertar as meninas para não aceitar aquele papel como uma coisa legal. Só que eu coloquei de uma forma muito agressiva de propósito… a coisa do jovem para chocar. Mas eu acho que sim, temos que ter cuidado em tudo, sem deixar de se expressar, de falar o que pensa”, conclui.