Um dos filhos da dona de casa Ana Carolina da Conceição de Azevedo, morta na última sexta-feira (9), contou a Polícia Civil que seu padrasto, o pedreiro Douglas de Carvalho Avellar, principal suspeito pelo crime de feminicídio, bateu em sua mãe por dois dias seguidos e que não deixou que ela se alimentasse durante esse período.
Douglas foi preso no último domingo (11), quando policiais do 25º Batalhão de Polícia Militar (Cabo Frio) o localizaram em Unamar, na Região do Lagos. Os investigadores acreditam que ele tentou se esconder no município.
Na sexta (9), Douglas, de 31 anos, levou Ana Carolina, de 26, à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde chegou a dizer que a mulher havia tentado suicídio. Contudo, o laudo do Instituto Médico Legal aponta que Ana Carolina morreu por uma hemorragia interna.
Filho revela horas de terror
Por ser menor de idade (8 anos), a identidade do jovem não será revelada nesta reportagem. Contudo, a TV Globo teve acesso a seu depoimento e, segundo os investigadores, o relato foi determinante para o pedido de prisão temporária de Douglas.
No documento, o jovem contou que o padrasto era muito violento e que ele não deixava sua mãe nem mesmo ir até o portão de casa. Em outro trecho, o menor revelou que Ana Carolina tentou fugir de casa diversas vezes, mas que todas as tentativas foram descobertas pelo companheiro.
O filho da vítima contou aos policiais que na quinta-feira (8) Douglas chegou do trabalho e “bateu muito” em Ana Carolina. Segundo ele, as agressões continuaram na sexta-feira (9). O menino disse ainda que Douglas não deixou que sua mãe se alimentasse durante esses dois dias.
De acordo com o depoimento do menor de idade, Ana estava muito fraca durante aquele período e teria vomitado algumas vezes. Ele contou ter visto o padrasto tentando levar a mãe ao banheiro, mas que ela não conseguia andar de tão fraca.
Pedido de socorro ao tráfico
Durante o depoimento, o jovem chegou a contar aos policiais que a mãe tentou pedir ajuda aos traficantes da região para impedir que as agressões do marido continuassem.
Segundo o menor, a mãe chegou a pedir que, se ele fosse na rua comprar pão, que era para buscar ajuda com os traficantes da região para que eles a tirassem de casa.
O jovem também contou que ao colocar a cabeça no peito de sua mãe durante aquela noite, ele percebeu que o coração dela estava batendo muito fraco.
Prisão temporária
Ainda no domingo, a juíza Luciana de Oliveira Leal Halbritter, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), determinou a prisão temporária de Douglas pelo prazo de 30 dias, para que ele aguarde o julgamento do caso.
Segundo o delegado Márcio Pereira Teixeira de Melo, responsável pelas investigações, Douglas “espancou a vítima na presença do filho, até provocar sua morte”.
Ainda de acordo com o delegado, o suspeito fugiu para a Região dos Lagos “demonstrando desta forma seu intensão de não se submeter à responsabilização criminal e às determinações da justiça”.
“A sociedade não aguenta mais conviver com assassinatos, sendo certo que não podemos olvidar a verdadeira epidemia de feminicídios que vem assolando e aterrorizando a população do Rio de Janeiro”, disse Márcio de Melo, em sua representação contra Douglas.
O corpo de Ana Carolina foi enterrado na tarde do último domingo no Cemitério Solidão. Ela deixou três filhos pequenos.