Miliciano fazia negociações de dentro da cadeia e reclamou do sinal de internet na prisão, revelam mensagens

Um miliciano monitorado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal negociava armas e repassava informações de operações para membros da organização criminosa, mesmo depois de já ter sido preso pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco). Os fatos constam nas investigações que resultaram em prisões de pessoas ligadas ao grupo esta semana.

Ainda segundo as investigações, Luís Fillipe dos Santos Maia, o Padim, era um dos principais negociadores de armas e viabilizava operações financeiras para criminosos da milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Ele foi um dos alvos do Ministério Público em uma denúncia contra Zinho e mais 22 integrantes da maior milícia do estado na quinta-feira (21).

O MP teve acesso a conversas de Padim com Rodrigo dos Santos, o Latrell, preso em março pela Polícia Civil do Rio. Nos trechos interceptados, antes de ser preso, Padim conversa com Latrell sobre a compra de uma pistola. O preço da pistola é fixado em R$ 11 mil.

“Parceiro meu lá está com ela na mão lá que o maluco quer vender (R$) 11 mil”, diz Padim.

“Alinha com o GG aí, mano”, responde Latrell, se referindo a Geovane da Silva Mota, o GG, um dos líderes da milícia na época da conversa, em março de 2022.

Em um dos trechos de conversas que estão na denúncia, Padim, que está preso na Penitenciária Estadual Bandeira Stampa, em Gericinó, na Zona Oeste, chega a reclamar com Geovane da Silva Mota, o GG, sobre a qualidade do sinal de internet do presídio.

“Boa noite mano, Padim aqui, A net não está muito boa porque mexeram na antena hoje. Vai demorar um pouco mas ver [ vê] se dá pra falar. “

 

Logo depois, ele conversa com o mesmo criminoso sobre a venda de um veículo HB20 por R$ 4 mil. Segundo as investigações, trata-se de um veículo roubado, fruto de uma das principais atividades da milícia na Zona Oeste.

O g1 entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária, que não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

Lavagem de dinheiro

A investigação também identificou que a conta bancária de Padim foi utilizada para fazer o dinheiro da milícia circular: pelo menos sete pessoas, entre milicianos ou acusados de ligações com organizações criminosas, fizeram depósitos fracionados na sua conta.

Um dos depositários é o próprio GG, denunciado pelo Ministério Público junto com Padim. Outro dos identificados é Rafael de Carvalho dos Santos, que morreu em uma operação da Draco em junho de 2022.

Uma terceira pessoa que fez depósitos para Padim é acusada de conexões com o tráfico de drogas: uma mulher fez pagamentos via pix para Telma de Souza Rangel, empresária que se tornou ré na Justiça, acusada de integrar um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico.

Segundo as investigações do Ministério Público, Telma usaria um salão de beleza em uma comunidade no Rio para lavar o dinheiro do tráfico de drogas juntamente com sua irmã, Danúbia de Souza Rangel, companheira de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, antigo chefe do tráfico na Rocinha.

Homicídio mencionado

Geovane da Silva Mota, o GG, aparece em mensagens interceptadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal conversando com outro acusado pelo Ministério Público, Alan Ribeiro Soares, o Malvadão, sobre um possível homicídio que foi praticado contra Danilo Cunha Durães, o Robô.

O desaparecimento de Danilo foi registrado na 36ª DP (Santa Cruz), e o crime será investigado pela Polícia Civil.

A conversa aconteceu dias antes de GG ser preso em um hotel em Gramado, no Rio Grande do Sul, na Operação Dinastia. Danilo teria desaparecido no dia 19 de agosto. Segundo as investigações, o celular da vítima foi destruído.

Robô era um dos responsáveis por arrecadar informações sobre a milícia rival de Zinho, comandada por Danilo Dias Lima, o Tandera. O grupo sofreu diversas baixas, segundo a Polícia Civil.

Na conversa com Malvadão, GG encaminha um áudio onde dois homens conversam com um terceiro sobre quem estaria em posse do chip que estava sendo utilizada por Robô.

Um homem, que ainda ainda não foi identificado, aparece em um áudio enviado por GG contando como destruíra o telefone que era de Robô:

“Peguei o telefone, fiz o serviço, aí peguei o telefone… fui, dei uma rodada com o carro ainda pra poder… se tiver rastreador, essas paradas, entendeu? Dei uma rodada ainda. Aí depois comprei a gasolina. Aí destruí ele primeiro, quebrei ele todinho no chão, juntei as peças, taquei fogo, depois esperei queimar, juntei as peças, botei dentro de um copozinho e joguei dentro do rio!”

 

Em outra conversa sobre o mesmo crime, Geovane envia um áudio em que um homem questiona outra pessoa sobre como o chip do telefone de Robô teria parado no celular de um desconhecido.

Por fim, Geovane mandou um áudio para Malvadão, preocupado com possíveis rastros do crime contra Robô.

“Boa noite, meu irmão! Não, fechou, estamos juntos! Falou tá falado! Demorou! Mas mesmo só preocupação que é… bagulho é homicídio, né irmão? Sinistro, né irmão! Mas demorou! Só mesmo por via das dúvidas

mesmo!”

 

Veja a lista de denunciados pelo Ministério Público:

  1. Luís Antônio da Silva Braga, Zinho
  2. Rodrigo dos Santos, Latrell
  3. Geovane da Silva Mota, GG
  4. Alan Ribeiro Soares, Malvadão ou Nanan
  5. Domício Barbosa de Sousa, Dom
  6. Vitor Eduardo Cordeiro Duarte, Cordeiro
  7. Matheus da Silva Rezende, Teteus ou Faustão
  8. Jaaziel de Paula Ferreira, Papel ou Jeitoso
  9. Jhonny Alexandre de Souza, Jhon Jhon
  10. Paulo Maique da Silva Vitorio, Maike
  11. Raí de França Francisco, RA
  12. Luís Fillipe dos Santos Maia, Padim
  13. Lucas Gonçalves Claudino, LC
  14. Rui Gonçalves Estevão, Profeta ou Pipito
  15. Vanderlei Proença de Souza, Azeitona
  16. Alexandre Silva de Almeida, Solinha
  17. Aguimar Barbosa Gomes, Sassá ou Gigante
  18. Alef Cardoso dos Santos, TZ ou Tizal
  19. André Costa Bastos, Boto
  20. Douglas de Medeiros Alves Rosa, o Doug
  21. Jean Carlos Cândido de Oliveira
  22. Josefa Lúcia dos Santos
  23. Sérgio Domício Barbosa de Sousa Filho
Fonte: G1

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