Delegado que invadiu casa de mulher com arma em punho é afastado

Delegado armado invade casa de mulher à noite em Cuiabá — Foto: Câmeras de segurança/Cedida

A Corregedoria Geral da Polícia Civil de Mato Grosso determinou, nesta quinta-feira (1º), o afastamento preventivo do delegado Bruno França Ferreira devido à conduta dele ao invadir a casa de uma mulher em um condomínio de luxo de Cuiabá. Segundo ele, ela descumpriu uma medida protetiva contra o enteado dele, de 13 anos. A medida é válida por 60 dias e pode ser prorrogada. Ele também irá responder a um inquérito policial, conforme pedido protocolado pelo Ministério Público Estadual.

O delegado entrou na casa da mulher sem mandado judicial, na noite de segunda-feira (28), e a ação foi registrada pelas câmeras de segurança do imóvel. As imagens mostram França bastante agressivo. Ele diz, ao menos duas vezes, que vai explodir a cabeça da mulher e, segundo a família, chegou a apontar a arma para uma criança de 4 anos. Ele estava acompanhado de policiais da Gerência de Operações Especiais (GOE) armados com fuzis. A defesa da família afirma que não foi notificada da decisão que proíbe a mulher de se aproximar do menino.

Vídeo: delegado invade casa e ameaça “estourar” cabeça de mulher

De acordo com a corregedoria, a sindicância administrativa busca investigar a conduta de França quanto à entrada no imóvel, à abordagem à família e ao tratamento ao advogado da mulher na Central de Flagrantes da polícia, após o ocorrido. Vídeos mostram França xingando o profissional.

A corregedoria informou que não recebeu nenhum pedido formal de afastamento do próprio delegado, conforme ele havia comunicado em nota de esclarecimento enviada à imprensa nesta quinta-feira (1º).

Pedido de desculpas

No documento, França também pediu desculpas pela condução na prisão da mulher e relatou que, na segunda-feira, o enteado o procurou pedindo socorro, porque a mulher foi até a quadra poliesportiva do condomínio, onde ela mora e ele estava como visitante, e iniciou os ataques contra ele.

Ele afirma que bateu na porta da casa, mas não teve resposta. Por isso, decidiu arrombá-la, mas que em “nenhum momento apontei arma de fogo para nenhuma das pessoas na casa”. Ele reconheceu o excesso na “verbalização” e disse que errou, principalmente por ter uma criança de 4 anos no local, mas que não se arrepende de “enfrentar a agressora e realizar sua captura” e que conduta dele “não possui qualquer ilicitude”.

“Peço ainda desculpas pelo susto causado à criança inocente que se encontrava dentro da residência. Não sabíamos da presença antes da entrada e, desde o ocorrido, a ideia do medo que causei a essa menina é, de longe, aquilo que mais tem me machucado. A Polícia Civil existe para proteger as pessoas e não para assustá-las, motivo pelo qual espero que um dia essa criança possa me perdoar”, disse.

Delegado Bruno França pede desculpas por conduta — Foto: Reprodução

Entenda o caso

Uma câmera de segurança registrou o momento em que, na noite de segunda-feira (28), o delegado arromba a porta da casa e detém a mulher que, segundo ele, descumpriu uma medida protetiva contra o enteado dele, de 13 anos.

A câmera em um dos cômodos ainda flagrou a agressividade do homem, armado, e acompanhado por outros policiais. A filha da mulher, de 4 anos, chora durante toda a ação e, por diversas vezes, os policiais dão sinais para que França e também os moradores se acalmem.

A medida protetiva em relação à mulher foi expedida pela juíza Gleide Bispo Santos, da 1ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá, no dia 24 de outubro, após investigação conduzida pela Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Além de manter distância do garoto, ela também está impedida de frequentar a casa de familiares do adolescente e a escola que ele estiver matriculado, sob pena de sofrer as sanções previstas em lei.

Porém, o advogado dela, Rodrigo Pouso Miranda, afirma que nem ele nem a cliente tinham conhecimento da medida protetiva e desconheciam, até então, o teor do assunto.

A mulher, em entrevista à TV Centro América, disse que viveu cenas de terror.

“Minha filha tem 4 anos e ele gritava demais ‘vou estourar a sua cabeça’. Meu marido pedia calma e minha filha pedia ‘por favor, para tio, não faz isso’ e ele falava ‘manda essa menina calar a boca’ e apontou a arma para ela. Ele foi agressivo”, contou a mulher, que não quis ser identificada.

A vítima disse que, no momento da ação policial, fazia a menina dormir e assistia à televisão, enquanto o marido fazia uma sessão de massagem.

“Ninguém entendeu aquele absurdo. Foi uma cena de terror, ameaça o tempo inteiro. Nada justifica essa agressividade”, relatou a mulher, que passou por uma cirurgia recente na mão e está com drenos.

A família morava em outro condomínio, onde o filho de 11 anos passou a ser agredido e a sofrer bullying por crianças do bairro – entre elas, conforme Miranda, o enteado do delegado. Por isso, decidiram se mudar.

“Fiquei em desespero e meu marido deu a ideia de mudar de casa, porque a gente não aguentava mais. As famílias foram notificadas e ninguém veio falar com a gente. Meu marido conversou com alguns pais sobre a situação e alguns entenderam. Antes de acontecer isso, eu vi vários episódios de xingamentos, de empurrões. A vítima é meu filho e, agora, minha minha filha de 4 anos. Ela está sem dormir”, disse a mãe.

Investigação

Conforme a investigação em curso, o delegado Bruno trabalha em Sorriso, a 420 km de Cuiabá, e está em estado probatório. Ele foi aprovado no último concurso da Polícia Civil e ingressou na instituição em janeiro deste ano.

O delegado-corregedor da Polícia Civil, Marcelino Felisbino, disse ainda que a polícia está apurando como foi realizado o acionamento da equipe operacional de elite.

“Já temos pessoas intimadas para apurar como foi e a justificativa para ter essa operação policial. A primeira coisa é buscar se houve alguma ação imprópria e, tendo indício, vai ser instalado um procedimento formal e, posteriormente, a responsabilização dos atos”, disse.

Felisbino contou que a polícia também vai investigar se houve descumprimento da medida protetiva por parte da mulher. A punição para o delegado, caso haja a comprovação de ação imprópria, pode ser de advertência ou até suspensão.

Ele ainda relata que, na segunda-feira, enteado o procurou pedindo socorro, porque a mulher foi até a quadra poliesportiva do condomínio, onde ela mora e ele estava como visitante, e iniciou os ataques contra ele.

O delegado afirma que bateu na porta da casa, mas não teve resposta. Por isso, decidiu arrombá-la, mas que em “nenhum momento apontei arma de fogo para nenhuma das pessoas na casa”. Ele reconhece o excesso na “verbalização” e diz que errou.

“Peço ainda desculpas pelo susto causado à criança inocente que se encontrava dentro da residência. Não sabíamos da presença antes da entrada e, desde o ocorrido, a ideia do medo que causei a essa menina é, de longe, aquilo que mais tem me machucado. A Polícia Civil existe para proteger as pessoas e não para assustá-las, motivo pelo qual espero que um dia essa criança possa me perdoar”, disse.

Fonte: G1

Veja Mais

Deixe um comentário