‘Trancava e deixava a gente com fome’, diz jovem resgatada de esquema de exploração sexual

Duas jovens, de 20 e 21 anos, que foram resgatadas de um bar onde eram vítimas de exploração sexual no Distrito Federal, relataram à TV Globo como viviam. Elas vieram do Ceará para atuar como garotas de programa, com a promessa de que receberiam R$ 50 mil. A dupla foi resgatada pela Polícia Civil no bar, no Itapoã, em 18 de novembro.

“A gente fazia os programas. Ela [dona do bar] pegava o dinheiro e a gente nunca recebeu nem um real. E, no final das contas, trancava a gente e deixava a gente com fome”, disse uma das vítimas à reportagem.

Nesta semana, o Ministério do Trabalho concluiu que as mulheres viviam em condições análogas à escravidão. Elas eram mantidas reféns, não comiam, não recebiam qualquer remuneração e tinham horas exaustivas de trabalho.

No dia do resgate, segundo a Polícia Civil, a proprietária e a gerente do local, de 26 e 33 anos, foram presas pelos crimes de redução à condição análoga à de escravo, além de manter casa de prostituição e agenciamento da prostituição.

Outras mulheres que estavam no local, também vivendo em condições suspeitas, foram levadas à delegacia para serem ouvidas como testemunhas. O caso é investigado pela 6ª Delegacia de Polícia, no Paranoá.

A dona do bar também foi multada pelo Ministério do Trabalho. Segundo a pasta, as mulheres eram forçadas a trabalhar durante a madrugada e em horários de descanso. Quando elas pediram para ir embora, foram impedidas de deixar o local.

Uma das vítimas afirma que uma vizinha ajudou a fazer a denúncia à polícia. “A mulher que morava lá embaixo, ela ajudava muito a gente. Quando a gente estava com fome, a gente ia lá embaixo e pedia comida”, diz.

Além do trabalho análogo à escravidão, o Ministério do Trabalho afirma que as mulheres também foram vítimas de tráfico de pessoas. Elas já retornaram ao Ceará e vão receber três parcelas do auxílio-desemprego, no valor de um salário mínimo.

Situações degradantes

 

Quarto em que vivia mulher vítima de trabalho análogo à escravidão no Itapuã, no DF — Foto: ReproduçãoQuarto em que vivia mulher vítima de trabalho análogo à escravidão no Itapuã, no DF — Foto: Reprodução

Segundo a Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE) do Ministério do Trabalho, a alimentação fornecida às vítimas era precária e insuficiente.

“Eram fornecidos dez pacotes de macarrão instantâneo para seis trabalhadoras por seis dias, além de arroz e ovo. Quem quisesse mais deveria ‘comprar’, ou aumentar a dívida. Um copo de macarrão instantâneo custava 15 reais”, diz a auditora-fiscal do trabalho Alessandra Teixeira.

Ainda segundo a denúncia, os horários de trabalho eram exaustivos. “Houve situações em que foi relatado trabalho até às 4h, horário em que as duas trabalhadoras foram dormir, sendo acordadas pela gerente do bar às 5h para estarem prontas para novos atendimentos”, afirma o auditor-fiscal do trabalho Maurício Krepsky.

Este é o segundo caso de trabalho análogo à escravidão envolvendo profissionais do sexo identificado este ano pela pasta. Em março deste ano, 31 vítimas de exploração sexual foram resgatadas em cidades de Minas Gerais.

Fonte: G1

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