Os sul-coreanos vão estar sonhando quando seu time entrar em campo para o duelo contra o Brasil pela Copa do Mundo, nesta segunda-feira (5). Dormindo ou acordados. O jogo lá será às 4h da manhã de terça-feira (6). Um horário nada social para reunir os amigos diante da televisão. Mas eles têm motivos para programar o despertador e cair da cama ou é melhor que fiquem sonhando de olhos fechados?
Esta é a décima Copa seguida que a Coreia do Sul disputa (11ª no total). Nosso adversário nas oitavas não é uma novidade nos torneios Fifa, mas também não costuma ir muito longe.
À exceção de 2002, quando foi uma das sedes com o vizinho Japão e alcançou as semifinais, a Coreia só passou da fase de grupos uma vez até este Mundial no Catar. Teoricamente, faz parte do time que está satisfeito por chegar até aqui.
Mas ao contrário de ciclos anteriores, a federação coreana sonhou mais alto e desta vez apostou na continuidade, com o técnico português Paulo Bento tendo quebrado o recorde de permanência no comando da equipe.
Ele assumiu o cargo dois meses depois do Mundial na Rússia, em 2018, e teve tempo para desenvolver um jogo coletivo de bases sólidas. A equipe coreana tem movimentos nitidamente trabalhados e orquestrados, jogadas ensaiadas e organização tática. Sim, o Paulo Bento é aquele que fracassou no Cruzeiro. A diferença é que no clube estrelado ele ficou apenas dois meses.
A Coreia que vai enfrentar o Brasil é uma equipe que procura iniciar os jogos com muita correria, marcando pressão e acelerando o jogo. Gosta das transições ofensivas em velocidade e de aproveitar os lados do campo para atacar. Usa e abusa das bolas longas e das inversões nestas transições. Ataca mais e melhor pela esquerda, por onde o lateral Kim Jin-su faz dupla com a estrela do time, Son Heung-min (craque do Tottenham). Mas também é um time com bom toque de bola, uma das ideias que Paulo Bento tentou construir no elenco.
A gente costuma pensar que os times asiáticos têm baixa média de altura e que, por isso, são frágeis na bola aérea. Mas esses conceitos podem nos enganar. Os coreanos usam muito a cabeça para atacar. Os escanteios são especialidade deste time: os atacantes ficam atrás da marca do pênalti e correm após a batida na bola, que quase sempre vai para a primeira trave, onde um coreano tenta a chamada ‘casquinha’, desviando a bola para que um dos quatro que invadem a pequena área simultaneamente tente a finalização. Há sempre mais dois na meia-lua esperando o rebote.
A cabeçada também é usada após a construção de jogadas por baixo. Ao contrário da seleção brasileira, a Coreia do Sul trabalha muito o lance de fundo para cruzamentos. Para isso, conta com a ultrapassagem dos laterais. Os cruzamentos não são aqueles altos e lentos. Eles buscam a bola rápida e veloz contando com a velocidade dos atacantes na antecipação à zaga. Isso funciona melhor com Cho, autor de dois gols de cabeça contra Gana, mas também com Hwang, a outra opção para a posição.
Outra situação ofensiva que o time de Paulo Bento usa é a finalização de fora da área. Ela é muito perigosa especialmente quando sai dos pés de Son, que também é forte nas faltas diretas perto da grande área (outra qualidade que a seleção brasileira vem esquecendo). Ou seja, o time tem repertório ofensivo para usar se a marcação do Brasil permitir.
Mas há uma fragilidade defensiva, sim. Especialmente se o zagueiro Kim Ming-jae, do Napoli, não jogar. Ele é o segundo jogador do time com mais sucesso no futebol internacional e funciona como um líder da última linha de defesa. Já esteve de fora do duelo contra Portugal por lesão. Assim como havia desfalcado a Coreia do Sul no amistoso realizado em junho, quando o time foi goleado pelo Brasil por 5 a 1 em Seul.
Na ocasião, a superioridade brasileira foi indiscutível. Mas de lá pra cá, muita coisa aconteceu e não há certeza de que tal domínio irá se repetir. Porque, como disse um dia Ronaldinho Gaúcho, “quando tá valendo, tá valendo”. E o sonho de uns pode ser o pesadelo de outros.