Em protesto contra aporofobia, Padre Júlio Lancelotti quebra a marretadas pedras instaladas em frente a biblioteca

Ato foi realizado na Biblioteca Cassiano Ricardo, no Tatuapé, na Zona Leste da capital. Manifestantes retiraram pedras colocadas no concreto para impedir que moradores em situação de rua durmam no local.

Para protestar contra a aversão ao pobre, a chamada aporofobia, o padre Júlio Lancelotti se reuniu com voluntários nesta segunda-feira (12) para quebrar a marretadas pedras colocadas na frente da Biblioteca Cassiano Ricardo, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.

Daniela Vasconcelos/TV Globo

Padre Júlio Lancelotti durante protesto nesta segunda-feira (12) em SP

De acordo com o padre, o ato teve como objetivo cobrar para que o Presidente da República sancione o projeto de lei que proíbe a chamada “arquitetura hostil”, construções para afastar pessoas do espaço público e dificultar o acesso de grupos como idosos, crianças ou pessoas em situação de rua.

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto, de forma simbólica, no dia 22 de novembro deste ano. Ele também já foi aprovado pelo Senado e leva o apelido de “Lei Padre Júlio Lancelotti”. Agora, precisa ser sancionado pela presidência.

“A importância desse ato é um ato que quer iniciar a luta contra a aporofobia, removendo todas as intervenções hostis como iniciamos hoje aqui na Biblioteca Cassiano Ricardo. Com participação e apoio da biblioteca, retiramos todas as pedras para que seja marcado nosso apoio para que o presidente da República sancione a lei que está no Palácio do Planalto para que seja vetado uso de intervenção hostil na arquitetura”.

 

Voluntários quebraram pedras em protesto à aporofobia em SP — Foto: Daniela Vasconcelos/TV GloboVoluntários quebraram pedras em protesto à aporofobia em SP — Foto: Daniela Vasconcelos/TV Globo

O sheik brasileiro Rodrigo Jalloul também participou do ato junto com o padre e voluntários. No lugar das pedras serão colocadas mudas de plantas.

“Esse combate à aporofobia é transformar São Paulo mais humana. Não dá para transformar em amor a cidade quando a arquitetura indica o ódio, o preconceito contra as pessoas mais pobres. Quando as pessoas em situação de rua são invisíveis. Pedimos que a lei seja sancionada”, diz.

No ano passado, o padre Júlio viralizou nas redes sociais ao protagonizar uma cena em que tentava quebrar pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo embaixo de um viaduto. Em 2021, o papa Francisco também denunciou a chamada “arquitetura hostil” contra os mais pobres.

A palavra aporofobia passou a ser difundida pela campanha do padre Júlio Lancellotti contra as cidades que a praticam. Ele conta que recebeu centenas de imagens de aporofobia no país.

Voluntários quebrando pedras em frente de biblioteca de SP — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo JalloulVoluntários quebrando pedras em frente de biblioteca de SP — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo Jalloul
Padre Júlio Lancelotti e sheik Rodrigo Jalloul durante ato contra aporofobia  — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo JalloulPadre Júlio Lancelotti e sheik Rodrigo Jalloul durante ato contra aporofobia — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo Jalloul
Padre Júlio Lancelotti quebra a marretadas pedras instaladas em frente de biblioteca em SP — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo JalloulPadre Júlio Lancelotti quebra a marretadas pedras instaladas em frente de biblioteca em SP — Foto: Arquivo Pessoal/Rodrigo Jalloul
Padre Júlio Lancelotti e voluntários nesta segunda-feira (12) — Foto: Daniela Vasconcelos/TV GloboPadre Júlio Lancelotti e voluntários nesta segunda-feira (12) — Foto: Daniela Vasconcelos/TV Globo

O que diz o projeto de lei?

O projeto de lei aprovado trata especificamente dessas instalações em áreas públicas – feitas pela prefeitura ou por associações de moradores, por exemplo. O texto não proíbe instalações similares em espaços privados, como as cercas elétricas de condomínios ou as grades pontiagudas de lotes residenciais.

Relator da matéria na Comissão de Desenvolvimento Urbano, o deputado Joseildo Ramos (PT-BA) sugeriu trocar o termo “arquitetura hostil” por “técnicas construtivas hostis”.

Segundo ele, “a palavra arquitetura deve preservar o seu sentido de arte e técnica de criação de ambientes para proporcionar bem-estar e qualidade de vida ao ser humano”.

Padre Júlio Lancellotti removendo pedras sob um dos viadutos de SP em 2021 — Foto: Vivian Reis/G1Padre Júlio Lancellotti removendo pedras sob um dos viadutos de SP em 2021 — Foto: Vivian Reis/G1

A proposta altera o Estatuto da Cidade para proibir “o emprego de materiais, estruturas equipamentos e técnicas construtivas hostis que tenham como objetivo ou resultado o afastamento de pessoas em situação de rua, idosos, jovens e outros segmentos da população.”

O texto também inclui como diretriz geral da política urbana a promoção de conforto, abrigo, descanso, bem-estar e acessibilidade na fruição dos espaços livres de uso público, de seu mobiliário e de suas interfaces com os espaços de uso privado.”

Joseildo Ramos afirmou, em seu parecer, que a pandemia da Covid-19 agravou o distanciamento entre os espaços públicos e pessoas em situação de rua.

Paralelamente, segundo o parlamentar, passou a ser mais evidente a adoção de métodos e materiais para afastar as pessoas dos espaços públicos – técnicas que, o deputado ressalta, resultam em “segregação social”.

“Infelizmente, o Brasil possui exemplo de aplicações dessas técnicas, as quais vêm sendo implantadas pelo menos desde 1994, quando aqui surgiu a expressão ‘arquiteturas antimendigo'”, escreveu em seu relatório.

Para o deputado, as medidas são “extremistas, hostis e cruéis para todos os ocupantes da cidade” e “privilegiam o isolamento, o desconforto, o medo e, com isso, estimulam a violência”.

Fonte: g1

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