Por conta de uma gaze esquecida dentro de seu corpo após cirurgia, Camila Carvalho Cabral, de 38 anos, acabou sendo internada em coma induzido no Hospital Regional de Samambaia (HRSam). A operação retirou o útero da paciente, que aguardava na fila para conseguir a remoção pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Neste ano, Camila foi chamada pela Secretaria de Saúde para um mutirão cirúrgico em hospitais particulares. O que, no entanto, parecia ser uma vitória, tornou-se um pesadelo familiar.
Segundo a mãe da paciente, Claudia de Carvalho Vieira da Silva, 55, o estado da filha é grave. A jovem mulher está internada há 38 dias. Atualmente segue sob cuidados na unidade de terapia intensiva (UTI).
A cirurgia foi realizada em 15 de outubro no Hospital Daher do Lago Sul. A paciente recebeu alta no dia seguinte, mas poucos dias depois, logo após a retirada dos pontos em 4 de novembro, a paciente começou a passar mal.
“Ela levantou. E aí já tinha aberto a cirurgia e estava saindo secreção, com pus e mau cheiro. Aí imediatamente levaram ela para o hospital”, disse a mãe.
Infecção
Camila foi internada no Hrsam. Os médicos fizeram a assepsia na paciente, mas após dois dias na enfermaria, os médicos viram que a barriga da mulher estava muito inchada.
“Ela foi para o centro cirúrgico em 9 de novembro. Abriram o abdômen. Ela estava cheia de fezes. Limparam tudo. Aí descobriram que o intestino dela estava perfurado e encontraram uma compressa de gaze dentro dela”, contou.
Desde a internação, Camila passou por quatro cirurgias para a limpeza. “A infecção está muito forte. E ela agora entrou em coma induzido”, desabafou a mãe.
Segundo Claudia, os médicos afirmaram que é preciso fazer uma quinta cirurgia de limpeza, porque apareceu um nova bolsa de pus. A paciente, no entanto, está com anemia profunda e o procedimento não pode ser realizado ainda.
A família registrou boletim de ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia (PCDF). O caso é investigado como possível erro médico e lesão corporal culposa.
Mãe de dois filhos
Camila tem dois filhos, um menino de 12 anos e uma menina de 9. Segundo Claudia, a avó, os últimos dias tem sido muito difíceis. “Eu não moro aqui em Brasília. Moro longe. Ela mora com a minha mãe e é o braço direito dela”, completou.
“É muito doido você ver sua filha sair de casa andando e não saber se ela vai voltar. É muito doido, é muito triste. Estamos de mãos atadas”, chorou.
Camila vai completar 39 anos em 21 de dezembro. De acordo com a mãe, atualmente, ela se dedicava muito ao trabalho no comércio.
“Eu quero no momento que minha filha saia dessa. Quero ela com saúde. E em seguida, que seja feita Justiça. Para que isso não venha a acontecer com outra mãe, com outra família”, desabafou.
“Minha filha pode não voltar para casa, então vai ser uma família destruída. Eu quero Justiça. Quero que quem errou pague pelo erro, para não errar novamente. É uma vida. É uma família. A gente tinha toda expectativa para nos reunirmos nesse final de Ano, no Natal. Não vai ter nada disso para a minha família neste ano. É só tristeza”, concluiu.
Segundo Claudia, Camila está sendo bem assistida no HRSam.
Daher
O Metrópoles entrou em contato com o Daher sobre o caso. O hospital enviou nota informando que paciente deixou a unidade em boas condições e sem queixas ou sinais de intercorrências. Segundo o comunicado, o hospital abriu uma sindicância interna, mas não foi encontrado qualquer registro de problema.
A instituição também declarou estar a disposição da Secretaria de Saúde e das autoridades competentes para qualquer esclarecimento.
Leia a nota completa:
A referida paciente foi submetida à intervenção cirúrgica no Hospital Daher no dia 15 de outubro de 2022 e recebeu alta no dia 16 de outubro de 2022, em boas condições clínicas, sem queixas e ou sinais de intercorrências.
Tivemos notícia extraoficial de admissão da paciente em outro nosocômio, 23 dias após o procedimento cirúrgico inicial, por complicação tardia, onde continuou o tratamento.
Instituímos sindicância interna na qual o prontuário e documentos médicos foram analisados e não foi encontrado registro de qualquer intercorrência.
Toda a documentação foi colocada à disposição da Vigilância Sanitária e Secretaria de Saúde do Distrito Federal, bem como continuam disponíveis aos órgãos de fiscalização pertinentes, para demais esclarecimentos ou eventuais perícias que se fizerem necessárias.Hospital Daher Lago Sul