O governo federal avança na agenda econômica, mas um detalhe ainda precisa ser resolvido: combinar com os parlamentares sobre como avançar com esses planos.
A equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia uma liberação bilionária de recursos em emendas parlamentares no começo de março com o objetivo de consolidar a base aliada na Câmara e passar pela primeira rodada de votações prioritárias para o Palácio do Planalto.
Líderes partidários relataram à CNN que há um grande volume de restos a pagar de emendas já empenhadas mas ainda não pagas. A liberação dessa verba seria uma forma de mostrar que o governo está disposto a trabalhar em conjunto com os deputados.
Nesta semana, os presidentes das duas Casas Legislativas, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), enviaram recados a Lula exigindo serem ouvidos e, mais do que isso, contemplados, em troca de assegurar a governabilidade que, na prática, o presidente não tem.
A mensagem é que partidos do Centrão não irão assentir automaticamente com qualquer projeto enviado pelo governo. Os dois políticos, a depender da negociação com Lula, podem ser tanto avalistas quanto obstáculos para o andamento de propostas prioritárias do Executivo, como a aprovação da reforma tributária.
“Um texto radical para um lado ou radical para o outro não terá sucesso no plenário do congresso”, diz Arthur Lira
A dúvida se dá principalmente na força e na disposição que PP, PL e Republicanos terão para fazer oposição a Lula. A trinca de partidos, que formou a base do ex-presidente Jair Bolsonaro e é protagonista do Centrão, vive realidades distintas nas duas Casas Legislativas.
Na Câmara, os partidos atuaram ao lado do PT e foram vitoriosos com a eleição de Arthur Lira. Parte dos deputados do Centrão já ensaia, inclusive, uma aproximação com o governo. Mas o fim do orçamento secreto e as escolhas de Lula para a composição ministerial foram insuficientes para garantir uma base larga entre os deputados. Essa recomposição terá um preço em termos de acomodação de cargos.
Já no Senado, por outro lado, a oposição está isolada: o PL, partido de Bolsonaro, tem a segunda maior bancada na Casa. Integrantes da sigla defendem o respeito à proporcionalidade para a distribuição das comissões. São 14 os colegiados fixos da Casa. O critério não foi adotado, entretanto, na formação da mesa diretora, da qual a legenda ficou de fora/
Na entrevista exclusiva que concedeu à CNN nesta semana, Lula se mostrou disposto a dialogar com o Congresso para emplacar sua agenda.
“Eu já tive três encontros com o presidente Arthur Lira, já tive três encontros com o presidente Rodrigo Pacheco, e já tive encontro com todos os líderes dos partidos da base. Vou fazer quantas conversas forem necessárias, porque é preciso a gente restabelecer a harmonia entre os poderes no Brasil.”