Trabalhadores baianos que relataram estar nas vinícolas do Rio Grande do Sul, mas que fugiram antes da operação que resgatou 207 pessoas que estavam em situação similar ao escravo em Bento Gonçalves, reivindicam o pagamento dos direitos trabalhistas. O acordo firmado entre o Ministério Público do Trabalho e as vinícolas só contempla aqueles que foram resgatados dos acampamentos.
Eles têm provas como carteira assinada, passagem aérea e até mesmo atestado médico na cidade de Bento Gonçalves, mas não foram incluídos no termo de ajustamento de conduta.
“Tive que sair de lá, pegar um ônibus de uma cidade para outra, de outra cidade para outra. Desviando dos caminhos, né? Com medo de ficar até na rodoviária, de ser capturado por eles e eles me fazerem alguma coisa”, disse um dos trabalhadores.
Já outro trabalhador, conta que precisou fugir e chegou à rodoviária de Bento Gonçalves através de um carro de aplicativo.
“Da rodoviária de Bento [Gonçaves], tive que pegar um ônibus pra Porto Alegre. De Porto Alegre, paguei duas viagens de avião. Minha família se endividou pagando passagem. Estão dizendo que não têm vínculo comigo, que eu não trabalhei. Estão dizendo que eu não tenho direito a receber verbas rescisórias, os danos morais, que a gente não vai ser incluído”, contou o outro.
Em nota, o Ministério Público do Trabalho disse que os auditores-fiscais do trabalho estão analisando os casos individualmente. Como os trabalhadores não foram encontrados no local, é preciso apurar se, de fato, houve a relação de trabalho e se foram submetidos às mesmas condições verificadas com relação aos que foram resgatados.
O advogado que representa os dois trabalhadores está em busca de um acordo para a dupla e chamou a medida de seletista.
“Ao invés de contmplar todos os trabalhadores, o acordo se restringiu a 207 trabalhadores. O número é o dobro ou o triplo. É um absurdo que um acordo seja feito, contemplado, e o trabalhador que foi registrado juridicamente, que tenha sua carteira assinada, não tenha sido inserido nesse acordo trabalhahista”, disse o advogado Gustavo Soares.
Enquanto aguardam, os dois trabalhadores acumulam dívidas, carregam os traumas e esperam ser indenizados.
“Fiquei 15 dias passando praticamente fome. Vomitando. Fiquei doente três vezes. Não tinha lençol pra se enrolar, não tinha nada. A gente era acordado 4h para trabalhar. Quatro horas da manhã e só chegava praticamente 22h. Em casa, quando chegava, não tinha mais nada para comer. Não tinha mais janta feita. A gente tinha que dormir com fome para trabalhar no outro dia 4h em um parreiral de uva”, relembrou uma das vítimas.