Um médico psiquiatra foi indiciado pelo crime de violação sexual mediante fraude. Ele foi denunciado em maio de 2022, quando pacientes dele o acusaram de cometer assédio sexual durante os atendimentos. Oito vítimas foram identificadas pela Polícia Civil e fazem parte do processo.
A investigação foi realizada pela Delegacia da Mulher, que concluiu o inquérito na sexta-feira (10) e o encaminhou no início da semana ao Ministério Público do Piauí, que deve oferecer a denúncia à Justiça.
A advogada do psiquiatra, Lívia Veríssimo, informou ao g1 que vai se posicionar posteriormente sobre o caso. Já a advogada das vítimas, Adélia Barros, não quis se manifestar.
A investigação encontrou provas de que o psiquiatra teria cometido o crime de violação sexual mediante fraude, definido como o ato de cometer ato libidinoso usando métodos para enganar a vítima, ou dificultando a livre manifestação de vontade dela. Conforme a denúncia, os crimes ocorreram durante as consultas.
O crime prevê pena de 2 a 6 anos de reclusão. Em janeiro de 2022, João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, foi condenado pelo mesmo crime.
Oito vítimas denunciaram
Em maio de 2022, a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM-PI) abriu um inquérito para investigar o médico psiquiatra por assédio sexual contra oito pacientes em Teresina.
A suspeita é que os crimes tenham ocorrido no próprio consultório do médico. Adélia Barros, advogada de defesa das vítimas, relatou que o caso veio à tona após uma amiga de uma estudante membro de uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil , secção Piauí, ter relatado o que passou com acusado.
“Tomamos conhecimento desse caso através de uma estudante de direito que fazia parte da Comissão da Mulher na OAB-PI e ela nos repassou. Ela tomou conhecimento através de uma amiga que foi até o consultório buscar ajuda médica e lá se deparou com uma situação que ela saiu perplexa, pensando que foi fora dos limites todas as abordagens, trazendo situações que, para ela, eram totalmente desconexas com o que esperava”, afirmou a advogada.
Em entrevista à TV Clube, uma das vítimas contou que procurou o psiquiatra para tratar um quadro de depressão que ela desenvolveu após o término de um relacionamento. Ela disse que notou algumas falas estranhas por parte do médico nas duas primeiras consultas, mas pensou que não seria nada de mais. Na terceira vez que ela foi até o consultório, a situação agravou.
“Quando eu voltei, que eu tive esse ataque de pânico, que eu não me dei bem com a medicação na terceira vez, ele me pediu para me auscultar. Ele pediu licença para pegar em mim. Só que quando eu fui me levantar, ele disse: ‘me dê aqui sua mão’. E aí eu peguei na mão dele, ele me levantou, me botou de frente para ele e já me fez umas perguntas que foi onde eu me senti muito com a minha privacidade invadida. Ele me perguntou ‘Você é fogosa na cama?’”, relatou a vítima.
Até o momento, 26 mulheres manifestaram que tiveram a privacidade invadida pelo profissional, destas, oito formalizaram a denúncia. Entre as mulheres que denunciaram o médico, segundo a advogada das vítimas, estão uma professora da Universidade Federal do Piauí, uma jornalista e uma delegada aposentada do Maranhão.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) não comentou sobre o caso e apenas informou que sindicâncias e os processos éticos-profissionais nos conselhos regionais e federal tramitam em sigilo processual, devendo tal sigilo ser resguardado pelas partes e respectivos advogados.