Uma mulher de 43 anos foi agredida por um socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de 62 anos em Santos, no litoral de São Paulo. A enfermeira Maria Aparecida da Silva Ferreira trabalha em uma casa de repouso e solicitou o serviço para socorrer uma idosa, de 85, que estaria passando mal. Um vídeo obtido pelo g1 nesta terça-feira (18) mostra a discussão entre os profissionais por conta da remoção da paciente, e o tapa que o homem deu no celular da enfermeira, que atingiu o rosto dela e causou uma lesão.
O debate seguido de agressão aconteceu em um residencial para idosos no bairro Ponta da Praia. A Prefeitura de Santos informou, em nota, que a equipe do Samu foi alvo de ameaças e agressão verbal no local. “Todos os profissionais envolvidos no referido atendimento estão sendo ouvidos pela SMS [Secretaria Municipal de Saúde]”.
Confusão
Segundo Maria Aparecida, a idosa passou o dia inteiro com oscilação da saturação de oxigênio e da pressão arterial, além não conseguir comer ou beber, o que motivou a chamada do Samu na noite da sexta-feira (14). Um motorista e uma enfermeira chegaram à casa de repouso, avaliaram a idosa, e informaram que a situação dela não seria de emergência.
A profissional da casa de repouso informou que a paciente não estava respondendo aos estímulos e, por conta da idade, insistiu que a encaminhassem ao pronto-atendimento. Posteriormente, a idosa foi levada a um hospital, onde foi internada com infecção urinária.
Após reforçar o pedido, teve início a discussão, pois, segundo Maria Aparecida, os socorristas se negavam a levar a idosa a uma unidade de saúde. O motorista da ambulância teria alegado, inclusive, que tem problema nas costas e não poderia pegar peso.
De acordo com o Boletim de Ocorrência, a enfermeira do Samu informou à polícia que era acompanhada pelo motorista, e que ele teria explicado que para a remoção da idosa precisaria do apoio de mais duas pessoas para evitar a queda da paciente.
Após ter escutado o relato do problema nas costas, Maria Aparecida afirmou ter dito: “Moço, pelo amor de Deus, eu manejo essa mulher sozinha, levo ela de um canto para o outro. Se o problema é esse eu ajudo”. Foi quando, de acordo com ela, o motorista teria dito que recebeu ordens para não levar a paciente. “Foi quando eu comecei a filmar”, lembrou.
Tapa no celular
Enquanto o filmava, o socorrista deu uma tapa no celular. O aparelho teria batido na região do supercílio da mulher antes de cair ao chão. “Eu senti uma queimação no meu rosto e depois vi o edema [inchaço]”, disse Maria, que foi socorrida por um casal que estava no local para visitar um familiar.
“Ficou um sentimento de impunidade. Você precisa de um atendimento público e parece que está implorando por um trabalho. As pessoas não têm amor por aquilo que fazem, não pensam que estamos contando com eles. A gente quer um apoio e quer se sentir acolhida. Se a gente tivesse condições de fazer exames na idosa na casa, a gente faria”, desabafou.
Idosa removida e internada
Após a agressão, a Polícia Militar (PM) foi chamada e uma ambulância do Samu se deslocou ao local. Uma delas encaminhou a idosa de 85 anos ao hospital, onde ela foi diagnosticada com infecção urinária e permaneceu internada.
Maria Aparecida, porém, foi conduzida à Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos, onde o caso foi registrado. Ao sair da unidade policial a enfermeira afirmou ter ido até a Santa Casa de Santos, onde foi medicada e liberada.
Prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o chamado realizado pela instituição de longa permanência foi atendido pelo Samu, inicialmente com uma ambulância de suporte básico de vida, e a conclusão [remoção da idosa] foi realizada com uma ambulância de suporte avançado de vida, ou seja Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ‘seguindo todos os protocolos necessários para o bem-estar da paciente’.
“A equipe do Samu foi alvo de ameaças e agressão verbal no local, conforme registrado em boletim de ocorrência. Todos os profissionais envolvidos no referido atendimento estão sendo ouvidos pela SMS [Secretaria Municipal de Saúde], inclusive o funcionário que aparece no vídeo, para apuração dos fatos e aplicação de eventuais penalidades pela administração municipal”, afirmou.