Rafael dos Tostas, de 23 anos, foi filmado por amigos no momento em que caiu de uma altura de 20 metros em um ponto turístico em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba.
Ele decidiu “comemorar” o próprio divórcio saltando de um pêndulo que fica em uma lagoa formada em uma antiga pedreira. Assista ao vídeo acima.
A atividade, similar ao bungee jump, consiste em prender uma corda ao corpo para o salto. O nome “pêndulo” vem do movimento que o equipamento faz, de um lado para o outro, após a conclusão do pulo.
Hoje, o jovem passa por uma rotina intensa de terapias para aliviar as sequelas.
“Eu sempre fui uma pessoa muito calma, mas de um tempo para cá as coisas mudaram. Depois do divórcio eu queria aproveitar de todas as formas. Eu estava fazendo muita loucura. Não estava valorizando nem um pouco minha vida”, conta.
O que era para ser um dia de comemoração se tornou um evento que mudou a vida dele para sempre.
O jovem explica que o passeio, feito junto com um primo e uma amiga de infância, aconteceu três dias antes do aniversário de 23 anos e que o acidente serviu para o fazer valorizar as pequenas coisas da vida.
“Você começa a ver a vida e agradece a tudo. Não que antes eu não ligasse, mas eu não olhava com esse olhar. Minha vida nunca mais vai ser a mesma. Eu não quero mais ser aquele Rafael que eu era antes. Tenho que agradecer por estar vivo, que já é uma coisa muito grande”, compartilha.
Com a queda, o jovem fraturou o pescoço, a lombar, machucou as costas e o rosto, além de outros ferimentos.
Quase três meses depois do acidente e diversas sessões de fisioterapia e tratamento, Rafael ficou com algumas sequelas. Entre elas, dificuldade para levantar peso, dor em algumas regiões do corpo e fraqueza.
Além das dores físicas, também restaram traumas psicológicos para o jovem.
“O meu sono não é o mesmo. Não estou conseguindo dormir. Tive que ir atrás de ajuda. Comecei a ter crises, tenho pesadelos, tenho medo de ir dormir. A gente acha que a gente é forte, mas se você tiver um especialista ou uma luz é muito melhor do que tentar levantar sozinho”, compartilha.
Desde o acidente, Rafael, que é operador de produção e faz inspeção industrial em uma fábrica de Araucária, onde também mora, está afastado do trabalho pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Por meio de nota, os responsáveis pelo parque afirmaram ao g1 que o local continua aberto, mas que a atividade do pêndulo está suspensa. O comunicado frisa também que a modalidade era desenvolvida por uma empresa especializada e afirma que o evento do acidente foi traumatizante.
Ainda conforme a empresa, no dia anterior ao acidente pessoas invadiram o local. Um Boletim de Ocorrência foi registrado junto à polícia. Os responsáveis afirmaram aguardam a conclusão da perícia do equipamento para tomar as providências cabíveis.
Procurada, a Polícia Civil disse que não há investigações em andamento sobre a invasão, nem sobre o acidente.
O salto
Rafael conta que aquela foi a primeira visita ao parque e que a ideia de saltar de pêndulo surgiu porque gosta de esportes radicais.
“No dia eu estava bem feliz, animado para caramba”, relembra.
O chamado pêndulo humano é uma atividade semelhante ao bungee jump que proporciona uma sensação de queda livre ao praticante. No esporte, após o salto, a corda fica esticada e faz movimentos pendulares.
Rafael conta que outras pessoas pularam do pêndulo antes da vez dele. Pouco antes do salto o jovem lembra que chegou a fazer piadas sobre a corda não aguentar o peso.
Após o salto, Rafael explica que só lembra de acordar na água, com pessoas ao redor dele pedindo para ele não se mover e avisando que o resgate estava a caminho.
“Eu me desesperei, pensei: ‘O que eu estou fazendo aqui deitado?’. No momento que eu tentei levantar eu lembro de sentir uma dor muito forte. Nunca senti dor pior na minha vida”, afirma.
Resgate com bom humor
No dia do acidente, a polícia informou que o jovem caiu em um local de difícil acesso, mas foi estabilizado pela equipe médica do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA) e transportado de helicóptero para o Hospital do Rocio, em Campo Largo.
Rafael relata ter acordado novamente enquanto era atendido. Ele, que se considera brincalhão, chegou a fazer piada com os socorristas enquanto era transportado.
“Eu ficava brincando: ‘Nossa, não acredito que estou andando de helicóptero'”, conta rindo.
Mãe pediu para não pular
O jovem conta que a mãe mora em Figueira, no norte pioneiro do Paraná. Dois dias antes do acidente, ela visitava o filho em Araucária. Quando Rafael contou à mãe que pularia no pêndulo humano, ouviu uma bronca da matriarca.
“Ela falou: ‘Rafa, tá ficando doido? O que você tá fazendo da tua vida?’. Me deu uma lição de moral que acho que nunca vou esquecer na vida”, conta.
No sábado, dia do acidente, a mãe havia retornado para a cidade onde mora. Logo após o acidente, a amiga de Rafael que estava com ele no momento do salto foi a responsável por avisar a família do que havia acontecido.
Porém, até o momento da ligação, as informações sobre o estado de saúde do jovem ainda eram escassas.
Com o aviso, a família saiu, em uma viagem de cerca de seis horas, do norte pioneiro em direção à capital paranaense sem ter a certeza de como encontrariam Rafael.
Ao encontrarem o jovem no hospital, machucado, porém vivo, o sentimento foi de alívio.
“Minha mãe chegou, olhou com aquele olhar que queria me dar um soco, mas ela me deu um abraço e falou ‘que bom que você tá bem, filho’. Tanta coisa já aconteceu na minha vida que acho que ela já cansou de me dizer ‘eu avisei'”, brinca Rafael.
Rafael, que contou ao g1 que tem afinidade com esportes radicais, disse que a vontade não mudou, mas que não se submeteria a essas atividades novamente por conta da preocupação da família.
“Meu sonho era pular de paraquedas. Eu sei o que aconteceu lá, tem uma explicação para tudo isso, foi uma falha bem grande. Acredito que esse erro é difícil de acontecer com mais alguém. Não sou aquela pessoa que se priva de fazer as coisas porque os outros falam. Minha mãe não queria que eu fosse pular, mas eu peguei e fui. Não saltaria hoje por conta deles. Se fosse por mim, já estava lá”, afirma.