O homem que recebeu um motoboy armado, em Santos, no litoral de São Paulo, disse ter sido ameaçado pelo entregador, que foi cobrar pelo lanche consumido e cancelado horas depois, sob a alegação de não ter recebido o produto. A queixa foi registrada pelo cliente no iFood, onde comprou um sanduíche e um açaí por R$ 45.
Em nota, a empresa informou que o rapaz, de fato, cancelou o pedido e já foi banido da plataforma, que disse repudiar agressões físicas, ofensas ou manifestações de preconceito, assédio, bullying e incitação à violência contra entregadores e entregadoras.
À reportagem o cliente afirmou ter sido ameaçado e xingado pelo motoboy, de 22 anos, que estaria acompanhado de outro entregador no momento da cobrança. Ele ressaltou que o vídeo teria sido editado para beneficiar a versão do profissional.
O homem alegou ainda ter pagado pelo lanche, que foi pedido na noite de quinta-feira (12) e entregue pouco depois da meia-noite, já na sexta-feira (13).
Ao g1, o motoboy disse ter informado no app do iFood que havia concluído a entrega, embora esta só tenha sido processada pelo sistema às 4h29, quando o comércio já tinha fechado. Às 4h40, o produto foi cancelando.
A cobrança ao cliente foi feita pelo próprio motoboy a pedido do dono do comércio, assim que ele chegou para trabalhar, no final da tarde de sexta-feira. O entregador, portanto, chegou à porta do homem por volta das 20h, quando registrou as imagens ao notar a pistola.
E a arma?
O homem que aparece com a pistola na mão durante o conflito com o motoboy informou à reportagem ter a documentação da arma, mas não quis informar o registro e nem dar mais detalhes sobre o assunto.
Aos policiais militares que atenderam a ocorrência no dia da ação ele disse que era Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). Os PMs pediram para ver a documentação, ele foi até o apartamento e, depois, se recusou a descer. Os agentes foram com o motoboy até o 7º DP de Santos. A ocorrência, porém, só foi registrada no sábado (13) e será investigada pelo 2ºDP.
“[Foi] querer se engrandecer ou algo do tipo e, agora, quero mostrar que todos somos iguais e temos os mesmos direitos”, disse o motoboy, que decidiu processar o cliente.
Cobrança e ameaças
Como é possível ver nas imagens, o homem o recebeu com uma arma em mãos. O motoboy ressaltou que o rapaz só guardou a pistola ao perceber que estava sendo filmando.
Logo após guardar a arma o cliente disse que entregador foi à casa dele o ameaçar, e complementou: “Tu não tá em favela não meu amigo. Aqui as pessoas pedem e pagam a comida”. Ainda durante a discussão ele chegou a bater na cintura, onde estava a pistola, e afirmou que a arma era legal.
O motoboy retrucou: “Eu tô te ameaçando? Você está me ameaçando e apontando uma arma na minha cara. Já tá processado já. Aqui tu meteu o louco”.
PM acionada
Ao g1, o motoboy contou ter acionado a Polícia Militar logo na sequência, assim que o cliente subiu para o apartamento sem pagar pelo açaí.
“Esperei os PMs, expliquei o ocorrido, pediram para eu me afastar um pouco do prédio só pra garantir [a segurança]. Conversaram com ele, que subiu para buscar os documentos e não voltou mais. Como a polícia não pode entrar [no imóvel sem a permissão] ficou por isso mesmo naquele momento”, disse ele.
O homem pagou o açaí com um Pix após ter sido cobrado pelo dono do estabelecimento. A operação só foi realizada depois de toda a confusão.
Protesto
No final de sábado (13), aproximadamente 40 motoboys foram para a frente da casa do homem que atendeu o entregador armado, no bairro do Marapé. Eles protestaram contra o rapaz e fizeram barulho com as motocicletas. A ação foi toda organizada pelas redes sociais, após o vídeo da situação viralizar.
O cliente informou à reportagem que desde a confusão na porta do prédio tem recebido ameaças de grupos de motoboys.
iFood
Em nota, iFood disse repudiar atos de agressões físicas, ofensas ou manifestações de preconceito, assédio, bullying e incitação à violência a entregadores e entregadoras. “Após as evidências apresentadas, o cliente em questão foi banido definitivamente da plataforma”.
A empresa ressaltou que o entregador não é cadastrado na plataforma e atua diretamente com o restaurante que utiliza uma rede própria de entregadores para o delivery. “O iFood realizou contato com o estabelecimento, se colocando à disposição para realizar o acolhimento ao entregador, se necessário, além de prestar orientações sobre o registro de um boletim de ocorrência”.