A Polícia Científica concluiu os laudos periciais sobre a explosão no depósito de fogos de artifício clandestino ocorrida em março deste ano entre o Complexo Benedito Bentes e Guaxuma.
Após analisar três hipóteses para descobrir o que teria motivado o sinistro, a causa mais provável apontada pelos peritos é a de que a explosão ocorreu pelo indevido armazenamento de materiais sem obedecer a legislação vigente, associados a natureza química de alguns explosivos encontrados.
Ao todo, a Polícia Científica emitiu quatorze exames complementares, um laudo principal e doze laudos complementares. O primeiro deles foi entregue 15 dias após a perícia feita no local da explosão.
Todo o trabalho pericial contou com a participação de oito peritos, sendo três de química forense, uma na área de meio ambiente, dois engenheiros, um perito lotado no setor de genética forense e o chefe do IC Wellington Melo. Além destes, houve também a contribuição dos técnicos explosivistas que foram responsáveis pelos exames de eficiência, desativação e coleta dos artefatos explosivos.
Após a explosão, a equipe passou a buscar por vestígios para investigar as possíveis causas do sinistro. No dia 08 de março, a equipe – coordenada pelo perito criminal Gerard Deokaran, especialista em explosivos – conseguiu encontrar, catalogar diversas evidências e coletar 14 vestígios.
No local, os peritos constataram que o proprietário do estabelecimento não seguia a norma regulamentadora 19 do Ministério do Trabalho e Previdência que estabelece todos os procedimentos quanto ao armazenamento fabricação e depósito de material explosivo. Durante os trabalhos paralelos para saber a causa e a dinâmica da explosão, os peritos constataram que no local alguns elementos de seguranças não estavam no local adequado, e que o depósito era inapropriado para evitar qualquer tipo de acidente com explosivo.
Três linhas de investigação
No decorrer das investigações, os peritos avaliaram três hipóteses. Na primeira, foram analisados o acionamento indevido de dispositivos eletrônicos encontrados no local. Eles também eram utilizados para fazer shows pirotécnicos pela empresa responsável pelo depósito. Na perícia inicial, foi constatado um quadro de energia utilizado no local onde poderia haver a possibilidade de acúmulo de energia estática responsável pelo acionamento dos dispositivos eletrônicos ou dos explosivos.
Após a verificação, o perito Diozenio Monteiro, especialista em eletrônica, gerou três laudos complementares descrevendo a eficiência dos dispositivos. Ele realizou ainda exames de constatação e eficiência dos dispositivos eletrônicos.
A segunda suspeita era sobre as três amostras de cigarros encontradas no local. Esse material foi encaminhado ao Laboratório de Genética Forense que realizou o confronto de DNA com uma das pessoas investigadas no caso. O perito criminal Marek Ekert, responsável pelo exame explicou que o confronto de material genético não apontou que essa pessoa fez o uso indevido de cigarro no local. Mas, que as pontas de cigarro ficaram acauteladas no IC, sendo condicionadas a possíveis futuras análises, caso as investigações policiais apontarem novos suspeitos.
A terceira hipótese e a mais relevante para os resultados realizados no laboratório de química forense é a de que uma substância atípica na composição dos artefatos foi encontrada nas amostras. Os peritos analisaram oito amostras de diferentes explosivos encontrados no local. Uma delas apresentava o nitrato de manganês.
Eles explicaram que ao investigar sobre o uso de nitrato de manganês, descobriram que essa substância encontrada no artefato é utilizada em fabricação de altos explosivos para garantir maior eficiência e poder destruição do explosivo. Quando o nitrato de manganês é misturado a hidrocarbonetos, essa combinação se comportaria como uma emulsão encartuchada utilizadas em pedreiras.
Após as avaliações, os peritos concluíram que esse material ao entrar em contato com vapores de aguarrás existentes em galões encontrados no local ocorreu o fenômeno da explosão. A mistura de nitrato de manganês com o hidrocarboneto precisa de uma pequena elevação de temperatura para explodir, por isso esses altos explosivos não podem ser utilizados em artefatos pirotécnicos de acordo com a legislação brasileira.
O perito criminal Victor Portela, que também assina o laudo, além de auxiliar na determinação da dinâmica das explosões a partir das avarias e vestígios nos contêineres e no ambiente, e realizar essa demonstração em croqui 3D que ilustra o laudo, também relatou outro grave problema no armazenamento dos artefatos. O contêiner onde ocorreu a primeira explosão (epicentro) não possuía uma coberta e nem estruturas más condutoras de calor, conforme prevê a norma que regulamenta as medidas de proteção para o processo de fabricação, armazenamento e transporte de explosivos.
O coordenador da equipe Gerard Deokaran esclareceu que a falta dessa estrutura permitiu maior absorver de radiação eletromagnética provocando um aumento de temperatura no contêiner. Com isso aconteceu uma reação típica de fabricação de baterias de lítio, onde uma pequena elevação de temperatura no nitrato de manganês com os vapores de hidrocarbonetos causou uma reação explosiva.
“Foi uma reação similar à fabricação desse tipo de bateria, sendo que quando ocorreu essa primeira explosão em um dos contêineres, ela teve energia suficiente para proporcionar a deflagração dos outros explosivos que estavam no demais contêineres, ocorrendo a explosão da forma como foi observada nos vídeos gravados no dia do fato”, explicou o Deokaran.
A perícia ambiental realizada pela perita criminal Jana Kelly, que é veterinária e especialista na área também foi concluída. No documento consta a análise dos prejuízos causados à fauna e à flora, com a identificação da extensão da mata e do pasto destruído pelos focos de incêndio e também os danos a criação de ovinos e equinos existentes na chácara onde aconteceu a explosão.
Outra contribuição fundamental para realização da dinâmica foi o uso de drone no local que permitiu fazer registros de longo alcance e no interior dos contêineres. Os registros foram realizados pelo perito criminal Wellington Melo Filho que é especialista nesse tipo de registro.
Todos os laudos periciais contendo os resultados dos exames e um farto conjunto de provas técnicas foram encaminhados para o 6º Distrito Policial. O material já está sendo analisado pelo delegado Robervaldo Davino e toda a equipe dele para concluir o inquérito policial que apura o caso.
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