Comemorar pequenas conquistas faz parte da vida de muita gente. Só que na contramão desse movimento, tem pessoas, agora, celebrando “os perrengues da vida”. Nas redes sociais a frase: “comemore as pequenas derrotas” virou até meme. E se engana quem acha que isso é ruim. Tratar os contra-tempos com leveza, descontração, bom-humor e até uma dose ironia ajuda a superar aquilo que não não saiu como o planejado. Nessa toada, muita gente começou a fazer comemorações inusitadas. Passou a ter a festa do divórcio e até celebração de reprovações em testes e concursos
Foi com este espírito irreverente que o estudante Isac Mascarenhas decidiu revolucionar. Ele tirou 980 pontos na redação do Enem, mas não conseguiu uma vaga no curso de jornalismo na Universidade de Brasília. Mesmo assim, ele pintou o rosto como se estivesse comemorando a aprovação e publicou a imagem com a frase: “passei longe”.
“No meio do caminho disso tudo, eu vi que estava todo mundo postando a comemoração dos alunos da UNB. E foi ai que tive a ideia. Eu pensei: bom, eu já estou tão frustrado mesmo, estou tão triste que eu não consegui, então vou fazer essa brincadeira. Quando eu postei, muito gente riu. Outras pessoas não entenderam e acharam que eu tinha passado na UNB e me parabenizaram. E depois eu tive que ir no privado e me explicar para essas pessoas, para não sair de mentiroso”.
Moradora de Campina Grande, na Paraíba, a executiva comercial Darlene Soares, reprovou oito vezes no teste para tirar a carteira de motorista. Na cidade, ela chegou a ficar conhecida como “a moça da habilitação”. E prometeu que faria uma festa quando passasse na prova. Dito e feito. Ela encomendou um bolo com a foto da CNH e comprou até a vela com o número 8, que simbolizava quantas vezes tentou até tirar a habilitação.
“Todo mundo lá na minha cidade sabia. É uma cidade pequena, e eu ficava muito decepcionada porque todo mundo já sabia da história. E eu dizia que quando eu conseguisse eu faria uma festa. E as pessoas vinham e falavam ‘eu vim só para ver se você fez mesmo’ e eu fiz! E até hoje eu sou conhecida como a menina da habilitação”.
E, na contramão do “enfim casado”, tem gente festejando a separação com o “enfim divorciado”. Esse foi o caso da Sol Freytas, de Brasília. A técnica de enfermagem foi casada por quase 11 anos. Quando, enfim, assinou os papéis do divórcio nesta semana, ela enfeitou o carro, comprou balões e estourou um champagne junto com a amiga há poucos metros do cartório. O vídeo foi parar nas redes sociais e Sol recebeu apoio.
“E ai eu falei assim: amiga, me ajuda? E falei para ela tudo que eu queria. Eu falei: eu quero um canetão daqueles que escreve em carro, eu quero champagne, quero taça, quero balões. E ela comprou tudo para mim. As pessoas gritavam, me davam parabéns. Quando eu passava pelas ruas as mulheres vinham no carro, ficavam buzinando e batendo pauta e gritando também”.
O médico psiquiatra e psicanalista, Jorge Forbes, que foi o primeiro diretor-geral da Escola Brasileira de Psicanálise, explica que esse movimento é uma alternativa a “fórmula pronta” da felicidade. O especialista reforça que esses comportamentos acabam sendo uma forma de se opor às convenções e à pressão pelo sucesso:
“A sociedade anterior que a gente vivia, que era uma sociedade vertical, uma sociedade padronizada, era uma sociedade profundamente hierarquizada, profundamente linear, profundamente padronizada e as pessoas se sentiam obrigadas a serem dessa ou daquela maneira. Quando de repente a pessoa diz ‘não sou obrigada mais a fazer o que todo mundo espera de mim’ a pessoa tem uma sensação muito feliz de libertação do jogo da expectativa que o outro tem sobre ela”.
E, como tudo acaba em festa, inclusive os fracassos, o ramo da confeitaria tem lucrado com a nova onda e o bentô cake tem feito sucesso. São pequenos bolos com frases criativas para comemorar quando algo não sai como o planejado. O bolinho virou tendência e ganhou as redes sociais com foco nas comemorações diferentes e divertidas.