Uma dona de casa aguarda há 12 anos uma cirurgia para a retirada de um nódulo da tireoide. Ao longo do tempo, Gilçara Pereira Silva viu o caroço aumentar e, atualmente, não consegue mais dormir deitada.
“Eu não estou vivendo, eu estou vegetando. Porque o pessoal já vê, pergunta, entendeu? E eu me sinto muito mal com isso também. Preciso fazer essa cirurgia o mais rápido possível. Tem dia que não dá nem vontade de levantar, de sair para nada. Porque já estou cansada. São 12 anos nessa luta, e nada”, afirmou Gilçara.
A dona de casa guarda o papel do primeiro exame que fez para tentar solucionar a questão. O documento, já amarelado por causa do tempo, tem data de agosto de 2011. Na época, ela tinha 32 anos. Agora, está com 44 anos e ainda não conseguiu retirar o nódulo, que é visível.
Questionada sobre quais caminhos percorreu em busca de tratamento, ela fala que já esteve em pelo menos sete hospitais. Porém, quando é indagada se teve resposta para o tratamento, ela é sucinta:
“Não, nunca me ligaram. Esse tempo todo na fila do Sisreg para nada”, disse Gilçara, que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Nódulo era quase imperceptível
Na época em que o problema surgiu, o nódulo era pequeno, quase imperceptível. Ela disse que foi inserida imediatamente na fila de regulação para uma consulta de cirurgia de cabeça e pescoço.
Por conta própria, Gilçara vai de hospital em hospital pedir ajuda. Da última vez, esteve no Hospital dos Servidores, no Centro do Rio de Janeiro. Lá, foi informada de que precisa fazer uma ressonância magnética. Mas há a necessidade de sedação, com a presença de um anestesista. E, para isso, a dona de casa precisaria entrar em uma nova fila.
“Eu tenho que voltar para fila e eu não vou aguentar o tempo de espera. Porque eu nunca tive uma consulta de cabeça e pescoço, você pode olhar nos meus exames, que dirá se eu voltar para a fila agora”, disse GIlçara, desanimada.
O problema, cada vez mais aparente, prejudica a qualidade de vida.
“Dormir eu já não durmo mais há um bom tempo, porque eu não consigo ficar deitada. Para me alimentar, tem que estar sabendo as coisas que eu vou comer, porque eu não tenho muita passagem, porque está assim. Eu engasgo. Se eu deitar para dormir, eu vou morrer dormindo, entendeu? ”, fala.
A dona de casa buscou o auxílio da Defensoria Pública para conseguir uma liminar que garanta o direito ao exame.
No site do Sistema Estadual de Regulação (Sisreg) é possível ver que ela é 24ª paciente na fila de espera para “primeira consulta para neoplastias da tireoide.”
“Meu pedido hoje é fazer a cirurgia. O resto, eu estando com saúde, eu corro atrás, entendeu? Meu maior pedido é fazer essa cirurgia”, disse Gilçara.
O que dizem os citados
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que a paciente foi inserida no Sisreg no dia 3 de novembro do ano passado, para cirurgia geral. Mas a unidade de origem em que ela foi atendida pediu, em junho deste ano, a troca da solicitação de cirurgia geral para uma consulta de neoplasia de tireoide, no sistema.
A secretaria não soube informar o motivo da troca. A consulta está marcada para o próximo dia 17, no Hospital Federal de Bonsucesso.
A Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, afirmou que Gilçara vem sendo acompanhada pela atenção básica e confirmou que só deu entrada no nome dela no sistema de regulação em novembro do ano passado.
A pasta afirmou também que, por uma orientação da regulação estadual, fez a troca da solicitação de cirurgia geral para neoplasia de tireoide.