Nas manhãs de domingo dos anos 90, a voz de Elis Regina ecoava na casa da menina Ana Rios. Aos 14 anos, em sua estreia em uma peça ainda na escola, interpretou a música “O que foi feito devera” ao dar vida à primeira personagem de sua vida.
“Na primeira vez que eu subi em um palco de teatro, mesmo que ainda escolar, a Elis Regina estava ali comigo”, conta à Vogue. “Não sei se tem alguém que não é fã da Elis no Brasil, mas eu sou muito. Cresci ouvindo nas manhãs de domingo, minha mãe botava os discos dela para tocar e muitas músicas me remetem a momentos importantes da minha infância”, lembra.
Agora, anos depois, ela foi escolhida para interpretar a Pimentinha na campanha que promoveu, por meio de tecnologia, o encontro de Elis e a filha, Maria Rita, adulta. É Ana quem aparece digirindo a Kombi que emparelha ao lado da dirigida por Maria Rita para o dueto de “Como Nossos Pais” em filme da Volkswagen. O rosto de Elis foi aplicado por meio de inteligência artificial, resultando em um realismo que emocionou o público.
A caracterização de Ana e a interpretação com os trejeitos de Elis, aliás, levaram Maria Rita às lágrimas. “Na primeira vez que a gente fez, quando a Maria Rita me olhou e eu olhei para ela enquanto Elis, ela chorou muito”, lembra Ana. “O set todo se emocionou, muitas pessoas choraram, foi o momento mais emocionante, que de fato me senti percebendo a importância do que eu estava fazendo e a força que foi a Elis”, continua. A voz utilizada é a original da cantora.
Elis Regina morreu em 1982, quando a filha tinha apenas quatro anos. “Ela estava muito emocionada. Todo mundo ficou muito mexido por estar vivendo esse encontro, foi muito lindo. Maria Rita falou que conversando comigo não pareço com a mãe, ‘mas na hora que você chegou do meu lado cantando e fez os trejeitos era como se fosse a minha mãe ali’, ela disse. Esse foi o maior reconhecimento para mim”, afirma a atriz.
Embora o rosto que aparece no resultado final não seja o seu, Ana fez questão de estudar as expressões de Elis e cada detalhe para facilitar o processo de deepfake. “Tem a atuação, o trabalho de pensar como a Elis mexe o pescoço, o ombro, o rosto, como ela canta essa música, a abertura grande das vogais, a jogada do sorriso para trás… foi emocionante me sentir encontrando a Elis e podendo canalizar essa energia para reencontrar a filha”.
Mudança de visual
Para ficar mais parecida com a artista, Ana cortou os cabelos – que estavam à altura dos ombros – bem curtinho um dia antes da gravação. O novo visual facilitaria também a deepfake.
“É uma coisa muito diferente do trabalho de atriz, colocar atuação à serviço para uma tecnologia. A gente vê muito mais em Hollywood, como em Avatar. Foi um pouco assim que eu me senti”, diz.
“Ao mesmo tempo tem muito trabalho. Além do trabalho de caracterização, que envolve toda a equipe de maquiagem, de figurino, equipe de direção, câmera, fotografia, produção, além de tudo isso tem esse trabalho forte da pós-produção. Estudei bastante para poder fazer uma homenagem à altura dessa grande artista”, completa.
Ana, que já atuou em Malhação e na novela Espelho da Vida, ambas na Globo, hoje dedica-se principalmente à direção e ao trabalho como assistente de direção. Mas o convite para o trabalho como atriz em homenagem a Elis foi irrecusável. “Foi uma honra poder usar minha interpretação para essa campanha superemocionante”.