O soldado expulso da PM, Josevildo Valentim dos Santos Júnior, acusado de estuprar e matar Aparecida Rodrigues Pereira, de 18 anos, e de tentar assassinar o namorado dela, Agnísio dos Santos Souto, de 24, vai a júri popular, nesta quinta-feira (13). O julgamento será conduzido pelo juiz Yulli Roter, da 7ª Vara Criminal de Maceió, no Fórum do Barro Duro,
O crime ocorreu no dia 15 de outubro de 2019, numa mata localizada atrás da empresa Braskem, no bairro Pontal da Barra. Segundo os autos, Aparecida e Agnísio estavam na porta de casa, na Ponta Grossa, quando Josevildo, que trafegava pela região com seu veículo, se aproximou do casal e os rendeu utilizando uma arma de fogo.
O réu ordenou que as vítimas entrassem no carro. Agnísio foi colocado na mala do veículo, enquanto que Aparecida foi colocada no banco do passageiro. Josevildo dirigiu até o Pontal da Barra. Ao chegar no local, o acusado, com a arma de fogo em punho, ordenou que Aparecida saísse do veículo e iniciou os atos de abuso sexual contra ela.
Após o estupro, o réu abriu a mala do veículo e ordenou que Agnísio saísse. Josevildo disparou duas vezes contra Agnísio, tendo um dos tiros acertado a vítima na nuca, que passou a se fingir de morto. Em seguida, o réu disparou duas vezes contra Aparecida, que morreu no local.
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Ainda de acordo com os autos, o réu, acreditando que as vítimas já estavam mortas, entrou no carro e foi embora. Na manhã do dia seguinte, Josevildo voltou ao local do crime para verificar se alguma das vítimas havia sobrevivido. Porém, uma ambulância já estava prestando socorro à vítima sobrevivente, e o réu foi embora.
A partir de uma ligação via disque-denúncia (181), a Polícia Civil chegou ao réu como suspeito dos crimes, que foi reconhecido por Agnísio. Durante as investigações, o par de sandálias utilizadas por Aparecida no dia do crime, além das armas de fogo, foram encontradas na residência do réu.
Ao ser interrogado, Josevildo confessou a prática do crime. A arma de fogo utilizada para praticar os delitos pertencia à corporação da Polícia Militar de Alagoas (PMAL), mas estava acautelada pelo réu, que era policial militar na época.
Outro estupro
Após ser preso pelo estupro e morte de Aparecida e tentativa de assassinato do namorado dela, o PM confessou ter praticado outro estupro, entre os anos de 2013/2014, quando era lotado na cidade de Marechal Deodoro. O nome da segunda vítima não foi divulgado.
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Durante as investigações, a Polícia Civil levantou a hipótese de ele ser o autor de outros 11 estupros em Marechal, mas até hoje as suspeitas não foram confirmadas.
Josevildo Valentim foi preso no dia 18 de outubro de 2019 e, além de confessar o estupro e morte da jovem Maria Aparecida, revelou ser dependente químico e que estava sob efeito de drogas no momento em que sequestrou o casal, no bairro de Ponta Grossa. A ação criminosa teria sido aleatória.
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Expulsão da Polícia
Para a Polícia Militar, os crimes praticados pelo soldado afetam a “Honra Pessoal, o Pundonor Policial Militar, o Decoro da Classe e a Ética Policial Militar”. No boletim, o comandante da PM, reiterou também que a corporação não tolera desvios de conduta como tal, por parte dos seus integrantes, que venham prejudicar a sociedade alagoana. Veja nota na íntegra:
“A Polícia Militar do Estado de Alagoas vem a público informar o licenciamento ex officio, no BGO nº 189 publicado no dia 15 de Outubro de 2020 a bem da disciplina e da moralidade da Administração Pública, das fileiras da Polícia Militar de Alagoas, o Sd PM Josevildo Valentim, lotado no 1º BPM, nos termos art. 8º, I, IV, XII, XIII, XVI e XIX do Decreto nº 37.042/96 (Regulamento Disciplinar da PMAL), e no caput, do art. 33 e art. 34 c/c o art. 39, incisos I, IV, XII, XIII, XVI e XIX, tudo da Lei Estadual nº 5.346/92 (Estatuto dos Policiais Militares de Alagoas) pela prática de atos que afetam a Honra Pessoal, o Pundonor Policial Militar, o Decoro da Classe e a Ética Policial Militar, uma vez que ficou comprovado, nos autos, que o indigitado policial militar infringiu norma penal, cometendo crimes gravíssimos. A PMAL reitera o seu papel na sociedade, como uma instituição cumpridora dos seus deveres e responsabilidades constitucionais, e afirma que não tolera qualquer desvio de conduta por parte dos seus integrantes que venha prejudicar a sociedade alagoana”.
A defesa de Valentim tentou, à época, sua transferência para o manicômio judiciário, alegando que ele não está em posse das faculdades mentais, no entanto, o pedido foi indeferido pela justiça.