Gabigol completa 27 anos nesta quarta-feira (30). A festa de aniversário, que aconteceu na noite anterior e acabou marcada por protesto da torcida na porta do local, foi apenas a ponta do iceberg de todo o momento turbulento do Flamengo e que respinga no camisa 10 dentro e fora das quatro linhas.
Ídolo da torcida por tudo que conquistou no clube desde a chegada em 2019, ele não vive uma boa relação com a arquibancada. Além de tudo o que rolou na última terça-feira (29), ele deixou o jogo contra o Internacional vaiado por parte da torcida.
Dentro das quatro linhas, Gabigol vive o pior momento desde 2019. Apesar de titular absoluto com Jorge Sampaoli, ele não vem correspondendo tecnicamente. São 20 gols marcados no ano até aqui. Pelo Brasileirão, foram cinco, sendo quatro de pênalti. O camisa 10 está longe de ser aquele jogador que caiu nas graças da torcida e se tornou o ícone da geração vitoriosa.
Além disso, ele não vive um momento de tranquilidade no Ninho do Urubu. A relação com o vice-presidente de futebol, Marcos Braz, não é das melhores como em anos anteriores. Tanto é que o clima chegou ao limite durante a partida contra o Fortaleza, no dia 1º de julho. Gabigol machucou o tornozelo e iniciou uma forte discussão com o cartola.
Primeiro que o atleta queria deixar o Maracanã revoltado com a lesão. No entanto, caso tivesse deixado o estádio e fosse sorteado para o doping, ele seria considerado culpado. Foi nessa que Braz entrou em ação para travar a rebeldia do camisa 10. A partir daí, os dois bateram boca de forma áspera e quase chegaram às vias de fato.
Gabigol esbravejou para cima de Braz e cobrou um gramado de qualidade. De imediato, o dirigente rebateu: ‘Quer gramado bom? Vai para a Premier League’. A resposta revoltou o atacante, que cobrou trabalho de Braz: ‘O que você faz aqui?’. A discussão seguiu de forma áspera, com o dirigente rebatendo: ‘O que você fez na Europa?’.
A discussão foi bastante feia e rendeu cicatrizes abertas até hoje. Os dois pouco se falam. Braz, inclusive, tem ido ao Ninho do Urubu com bem menos frequência do que em outras épocas.
Comportamento de Gabigol na mira de Landim
No início do ano, Gabigol passou a utilizar a 10, eternizada por Zico. Recebeu a ‘benção’ do Galinho para vestir a camisa histórica do clube. Questionado sobre o caso, o presidente Rodolfo Landim deu um ‘papo reto’ no atacante.
Em entrevista ao programa “No Mundo da Bola”, da TV Brasil, o dirigente contou que teve uma conversa séria com Gabi no final da última temporada.
‘Eu conversei com o Gabriel. Ele faz essa campanha, sabia da saída do Diego. Na hora que passa, ele fala ‘presidente, a minha 10. O 10 sou eu’. Era assim comigo. Um dia encontrei com ele no refeitório e falei. ‘A camisa 10 tem um simbolismo maior, por ser a camisa 10 do Zico, vem uma série de coisas. Exemplo, responsabilidade, uma série de outro atributos, comportamento, que são importantes para alguém que vai vestir a camisa 10 do Flamengo”, começou por afirmar:
”Você vai ter que demonstrar para mim que está preparado em termos de mudanças, posturas que você tem. Acho que você sabe do que estou falando. A expectativa que temos em cima de você”, concluiu.
Sampaoli e o racha entre dirigentes
Após o sorteio dos mandos da final da Copa do Brasil, na última segunda-feira (28), o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, deixou a sede da confederação brasileira com Sampaoli para uma conversa reservada sobre o futuro do time. A dupla foi almoçar em um ala reservada de um restaurante em um shopping próximo à CBF, na zona oeste do Rio de Janeiro.
As partes envolvidas garantem que o encontro não tem caráter decisivo sobre a permanência do treinador, entendendo ainda a reunião como parte normal do planejamento para as próximas semanas. As ausências frequentes do vereador e vice-presidente no ambiente do CT Ninho do Urubu acabam motivando encontros fora do ambiente de treinamento.
No entanto, a permanência de Sampaoli ainda é uma incógnita. Parte da diretoria rubro-negra defende a demissão do treinador argentino antes dos jogos marcados para os dias 17 e dia 24 de setembro, enquanto Landim é quem segura o comandante.
Landim no CT para acalmar os ânimos
Por conta da semana turbulenta dentro e fora das quatro linhas, com Jorge Sampaoli causando um racha no clube sobre a sua permanência no cargo de técnico, Landim esteve no CT para acalmar os ânimos.
Como sempre faz em momentos de crise, o presidente foi ao CT para conversar com os jogadores, com o departamento de futebol e para demonstrar apoio durante momento delicado.
Desta vez, a sua presença é ainda mais direcionada ao técnico Sampaoli. Maior entusiasta da contratação do argentino e defensor da permanência no cargo, Landim voltou a afirmar a todos no clube que confia no técnico. Apesar de isolado neste tema, o presidente não cede e quer o treinador até a final da Copa do Brasil.
Sampaoli e a ‘falta de respeito’ com nomes importantes
Sampaoli tem como característica falar pouco com os atletas sobre suas decisões. E um nome multicampeão pelo clube acabou sendo deixado de lado no Ninho: Rodrigo Caio.
Um dos líderes do elenco e bastante querido no CT, o jogador atuou apenas duas vezes com Sampaoli e por pouquíssimos minutos das partidas. E até hoje não ouviu uma explicação do comandante para não ser utilizado.
Sem entrar em campo, Rodrigo Caio continua demonstrando o profissionalismo nos treinos em busca de espaço. Mas, a cada jogo em que não atua, é visto com cara de poucos amigos, já que nunca é acionado pelo comandante, que tem Pablo como reserva imediato para o trio Léo Pereira, Fabrício Bruno e David Luiz.
Com vínculo até o fim ano, Rodrigo Caio não deve renovar com o Flamengo. A diretoria não procurou o atleta, que vem sofrendo com lesões nos últimos e tem um alto salário. A tendência é que deixe o clube.
O perfil de poucas palavras de Sampaoli se estende a todo o elenco. O clima é pesado desde o caso Pedro e há pouca esperança de mudança. O argentino foi contratado em meio a um questionamento em cima do elenco sobre uma ‘falta de fome’ na temporada, marcada por fracassos desde o início do ano.
Nos últimos jogos, a postura pouco vibrante chamou atenção. Com exceção de Landim, a diretoria entende que o momento é de mudança para dar uma ‘chacoalhada’ a tempo de o Flamengo reagir para a final da Copa do Brasil.
Sampaoli, apesar do jeito agitado na beira do campo, não conseguiu despertar uma postura mais vibrante do elenco. A gestão do elenco feita – ou não feita – pelo treinador é algo que não agrada dentro do Ninho.
‘Final’ contra o Botafogo
O duelo contra o Botafogo no sábado (2) é de fato uma decisão para o Flamengo. Seja para aumentar as remotas chances de título no Brasileirão, ao diminuir a vantagem para o líder, ou para Sampaoli ganhar um respiro até a final da Copa do Brasil, que acontecerá nos dias 17 e 24 do próximo mês. Em caso de derrota, é provável que Sampaoli sofra consequência de mais um resultado ruim.