Dia desses, enquanto andava por seu sítio com um dos irmãos, mostrando as árvores que havia plantado, Murilo Benício se deparou com uma que chamou sua atenção. E ele comentou sobre a beleza que via naquela planta, naquele cenário, naquele momento. Algo que lhe foi ensinado pela mãe. Foi ela quem incentivou o ator a apreciar as coisas mais simples da vida e dar valor ao tempo. Quando o filme “Pérola” estrear dia 28, Murilo estará cumprindo um destino e, de certa forma, reencontrando dona Berenice através de uma grande homenagem ao universo materno, familiar e feminino.
“Minha mãe deixou de herança uma sensibilidade para as coisas, para gente, que eu acho que é uma pérola. Ela tinha um certo fascínio para as pequenas coisas. A gente só enxerga a beleza dessa árvore por causa de mamãe… O filme tem esse lugar de enxergar a vida com humor, com leveza. O que essa Pérola tem da minha mãe é essa profundidade, essa confusão de sentimentos. Teve muita coisa difícil de mexer aqui dentro. Mas, sobretudo, muito amor”, observa, emocionado, sobre a mãe, morta há 11 anos.
Projeto de duas décadas
Foi em 1995, quando o diretor Mauro Rasi o chamou para fazer “As tias”, que Murilo teve a ideia de filmar “Pérola”. A história da vida do diretor de teatro e sua mãe, encenada e protagonizada por Vera Holtz, era um sucesso absoluto de crítica e público. Quem assistia ao espetáculo voltava uma, duas, três vezes. Com isso, o elenco foi catapultado para o estrelato e Mauro, o garoto tímido saído de Bauru, comprava uma cobertura na Vieira Souto, em Ipanema.
“Fomos jantar e assim que acabou a peça eu disse pra ele: ‘Você tem que filmar isso’”, relembra o ator, que nem imaginava dirigir. Até mesmo agora, ele não sente que o filme é dele: “Tive sorte de estar cercado de uma equipe incrível, este longa é de muita gente. Da equipe feminina que chamei, porque entendia que esse universo demandava uma delicadeza, dos atores que se entregaram, daqueles que contaram antes essa história…”.
É preciso saber dizer
Não é falsa modéstia. Murilo é agregador. Faz isso na vida. Faz isso na arte. Se tornou diretor por desenvolver nos sets mais endurecidos a escuta genuína para seus atores. Homem de entrega ao trabalho, já cerrou dente, ficou careca, barrigudo, sarado, platinado, novo, velho, canastrão, galã… Dizer não a este ou aquele papel nunca foi um problema.
”Sempre entendi meu ofício, quem mandava e o que eu teria de cumprir. E sempre fui muito grato a cada diretor que me chamava. Eu era funcionário da Rede Globo e muitas vezes eu dizia não a ela, mas com argumentos. Nunca foi uma coisa vazia. Eu me fazia entender e a gente se entendia. Tanto que nunca fiquei sem receber salário”, argumenta.
Solto nas redes
Dizer não foi aprendido. Dizer sim mais ainda. Murilo nunca gostou da superexposição que está incluída no combo ator famoso. Já deu fora em repórter, fez cara feia para paparazzo, tentou fugir ao máximo das perguntas mais pessoais. O tempo, sempre ele, o tornou mais hábil e maleável para lidar com o entorno. Até surgir sem camisa nas redes sociais, num mar translúcido, ele já surgiu. O ator se rendeu ao Instagram. Faz até publi.
“Mas do meu jeito, nos meus termos. Eu senti que o Instagram podia dar aos meus fãs alguns momentos que só eu poderia proporcionar, sem estar sendo alvo de um paparazzo. Então, eu procuro mostrar algumas coisas da minha vida que não afetam diretamente a minha privacidade e todo mundo fica feliz”, justifica.
Que os fãs do ator agradeçam a Giovanna Antonelli, ex-mulher, mãe de Pietro, seu caçula, e hoje uma irmã para Murilo. “A Giovanna me encheu o saco para ter um perfil, me botou lá no escritório dela, uma gente jovem me ajuda a postar, me divirto, mas acho que nunca vou conseguir fazer aqueles vídeos que ela faz”, admite, com uma sonora gargalhada.
“A gente não pode achar que a vida é ser jovem. Isso está confundindo muito as pessoas. A gente já ganhou tanta coisa, tanta batalha, em relação ao racismo, ao feminismo, estamos andando para frente, então, quando a gente vai parar e olhar para uma mulher de 50 anos e achar que é uma maravilha? Isso tem que acontecer ontem!”
Aos 52 anos, Murilo está mais solto. No melhor sentido da palavra. “É legal ter idade. É legal ter 40, é legal ter 50. Sou apaixonado por cada ruga que tenho no meu rosto. São 50 anos de história. E passo a mão pela minha testa e digo ‘ufa, podia não ter dado certo nada disso’… Às vezes me dizem, imagina voltar 20 anos atrás. Deus me livre! Podia dar tudo errado. Deixa eu estar onde estou, maravilhoso, com todas as escolhas e os fracassos, que foram mais importantes que o sucesso, as dores que eu tive de amor, que me tornaram mais fortes e ajudaram a ser o diretor que eu sou hoje, o ator que sou hoje, o pai, o amigo, o namorado. Eu estou apaixonado pelos meus 50 anos. Sei que já tenho mais de meio caminho andado, mas to aprendendo a viver o dia a dia”.
E curtindo uma solitude produtiva. De manhã toma café, vai para a academia, quando volta vai ler. Depois do almoço escreve, muitas vezes janta com os filhos Antônio, fruto do casamento com Alessandra Negrini, e Pietro, da união com Antonelli. Momento em que celulares são proibidos.
“Ao menos por uma hora eu peço pra deixarem os celulares longe da mesa. É nosso momento, é quando posso falar as coisas que eu penso, quando tenho a oportunidade de aprender e ser corrigido por eles, depois sentamos na varanda, onde gosto de relaxar com um charuto e um uísque”, descreve.
Avião para namorar
Namorando a jornalista Cecília Malan há quase dois anos, Murilo experimenta uma configuração diferente desta vez. Acostumado a se relacionar com parceiras de elenco, ele vive hoje uma relação à distância.
“Costumo dizer que estamos juntos há dois anos, mas nos conhecemos de fato há seis meses (risos). A distância é bem complicada, mas a gente administra isso bem. E também acho que tem me permitido produzir as coisas que preciso produzir. Tem os dois lados. O bom é que a gente tem a saudade e quando se encontra o tempo é sempre de qualidade. O ruim é que Londres (ela mora lá) é longe à beça e tudo é caríssimo (risos)”, pondera ele, que não faz a linha avesso ao casamento, mesmo já tendo tido alguns: “Se calhasse, me casaria sem problemas”.