Na segunda maior cidade de Alagoas, ele constituiu família — é pai do pequeno Otto, recém-chegado — e tem atuado nas escolas de Ensino Fundamental Pedro Correia das Graças e Divaldo Suruagy.
Além de formado em Teologia (com mestrado na área) e especialização em Psicanálise Clínica, Vitor tem também um grande tino para o cinema, já tendo escrito o livro “Sonhos que Vimos Juntos: aproximações entre Psicanálise e Cinema”, recentemente assinando conjuntamente o roteiro de uma série sobre um grande compositor e cantor brasileiro, pela HBO.
Agora, até esta quinta-feira (21), o professor da Rede Municipal de Ensino de Arapiraca está concorrendo com seu roteiro para “Ninja Bráu”, dentro do 11º Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre (FRAPA), um dos maiores do segmento na América Latina.
“Para mim, é uma honra e uma gratidão poder representar Arapiraca no Festival. Foi a cidade que me possibiltou o tempo de qualidade para me dedicar à escrita e estou amando ser arapiraquense”, diz.
Por já estarem na semifinal, juntamente com seus parceiros de escrita Pedro Henrique Cardoso e Anderson Caldas (assim como Vitor, ambos de Salvador), eles já se reuniram com a Netflix para explicar o argumento e o roteiro piloto da possível série de artes marciais.
“Venho desenvolvendo esse projeto há 10 anos, desde a segunda oficina de roteiro que eu fiz na vida. De lá para cá, ele passou por algumas modificações, mas a principal aconteceu em 2020, quando eu participei do Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas da FLUP/TV Globo. Foram seis meses de aulas com os profissionais da Globo, além de uma mentoria, que resultou em um documento que a gente chama de ‘Argumento’, a base para apresentar um projeto profissionalmente”, pontua o professor e roteirista Vitor Sousa.
Segundo ele, o personagem nasceu como exercício de uma oficina, mas carrega muito da sua vivência periférica em Salvador.
“O bairro do Ninja Bráu é o bairro que eu cresci; quando criança, sempre curti muito os filmes de artes marciais. Então, a figura do ‘Ninja’ era muito presente nas nossas brincadeiras de infância. Daí menino pobre inventa arte: se não dava pra ter um nunchaku, a gente improvisava com cabo de vassoura. As shurikens, a gente fazia de tampinha de Tubaína e qualquer camisa de moletom já virava uma máscara ninja. O que não podia era deixar de fantasiar [risos]. Klaylthon é o Ninja Bráu que eu nunca conseguiria ser”, confessa Vitor.
Esse é o primeiro festival que ele participa, apesar de ter tanto tempo já trabalhando como roteirista — o professor de Arapiraca nunca havia se dedicado a um projeto de série só seu.
E na Terra de Manoel André, ele conseguiu tempo, energia e presença para realizar algo assim.
“Arapiraca é a terra que me acolheu. Desde as primeiras visitas, esse híbrido entre uma cidade do interior e uma capital me atraíram de cara. Quando eu soube do processo seletivo da Prefeitura, com uma vaga dentro da minha área de formação, a Teologia, era tudo que eu precisava. Em Salvador, eu estava cansado de perder de 3h a 4h do meu dia gastos em transporte público e engarrafamento. A tranquilidade de Arapiraca foi fundamental para que eu finalmente conseguisse escrever esse roteiro”, ressalta.
E isso tem lhe aberto muitas portas naturalmente. Em 2021, ele foi convidado para integrar a Oficina de Autores e Roteiristas da TV Globo.
“Eu recebi uma bolsa deles pra me especializar na escrita de séries. Isso me deu coragem para pedir demissão do emprego em Salvador e dedicar mais tempo ao ofício de roteirista. E foi nessa época que passei a praticamente morar em Arapiraca e só visitar Salvador. Estou muito feliz com tudo acontecendo na hora certa”, conclui o roteirista.
O resultado dos finalistas do FRAPA sai nesta quinta-feira (21), no site oficial do evento. Entre na torcida conferindo no link a seguir: https://frapa.art.br/concurso-pilotos
SINOPSE DE “NINJA BRÁU”
Klaylthon era um baleiro que ganhava a vida nos coletivos de Salvador e sonhava em ser o primeiro negro ninja de Cosme de Farias, formado num curso por correspondência. Depois de uma tentativa frustrada de combater o crime como ninja, em 2006, foi ridicularizado ao ter sua identidade exposta TV pela jornalista Marília Quadros, que veiculou seu fracasso num noticiário sensacionalista. Mas tudo mudou quando, em meio a essa repercussão midiática, o rapaz se tornou o principal suspeito de uma série de assassinatos. Perseguido tanto pela Polícia quanto pela misteriosa organização Tsu Ik-Du, um clã secreto de ninjas, Klaylthon, sem saída, precisou forjar a própria morte. Marília, que sempre suspeitou da história, o reencontra, após 10 anos de buscas, numa ilha isolada. Agora, com a favela dominada pelo clã de ninjas, eles precisam colocar o passado a limpo e Klaylthon terá que concluir seu antigo curso ninja por correspondência para salvar a favela e provar a sua inocência.
SOBRE VITOR
Natural de Salvador (BA), é escritor e roteirista. Tem se dedicado a contar histórias, através da ficção ou documentário, afro-centradas e representativas das populações periféricas brasileiras. Bacharelando em Artes pela UFBA, graduado em Teologia e pós-graduado em Psicanálise. Em 2020, foi selecionado para o Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas com o projeto “Ninja Bráu”, sendo convidado a integrar a turma da “Oficina de Autores e Roteiristas” da TV Globo, logo em seguida. É autor dos livros “Sonhos que Vimos Juntos: aproximações entre Psicanálise e Cinema” (2015) e “Igualmente Diferentes” (2016). É roteirista das séries “Floradas” (2023) e “Pequeno Gigante” (2020) e dirigiu os curtas autorais “Atrás de Melhores Dias” (2019) e “Não Creio em Monstros” (2018).