A missão brasileira na ONU já trabalhava com o provável veto dos Estados Unidos à resolução do país sobre o conflito entre Israel e Hamas.
O que surpreendeu foi conseguir o apoio de membros permanentes, como França e China, e a totalidade dos membros não permanentes: Albânia; Equador; Gabão; Gana; Japão; Malta; Moçambique; Suíça e Emirados Árabes Unidos.
A resolução brasileira foi aprovada por 12 votos. Houve duas abstenções: Rússia e Reino Unido. E o veto dos Estados Unidos.
A resolução, portanto, teria passado com boa aprovação se não fosse o veto dos americanos. O Brasil já havia percebido que os Estados Unidos, aliados incondicionais de Israel, estavam tocando a resolução em banho-maria. A todo momento, a posição dos americanos era de que Washington não havia dado instruções à missão sobre como votar. A avaliação era que os Estados Unidos esperavam a volta de Joe Biden da viagem que faz a Israel.
O Brasil, no entanto, amarrou apoios e decidiu ir para a votação com o objetivo de mostrar que não estava inerte diante de uma situação tão grave. O resultado da votação, na avaliação de diplomatas, mostrou que o país manteve a liderança do processo e conseguiu amarrar apoios, apesar dos EUA.
O Brasil nunca contou com a possibilidade de os EUA votarem a favor da resolução. A esperança dos diplomatas brasileiros era numa eventual – mas, como admitiam, improvável – abstenção.
“Os Estados Unidos foram os Estados Unidos”, disse um fonte do Itamaraty.
O Brasil vinha negociando o texto desde o final de semana. Após algumas idas e vindas, colocou hoje a versão final para votar.
O texto brasileiro que foi à votação condenava os ataques terroristas do Hamas e cobrava de Israel – sem mencionar o nome do país – o fim do bloqueio à Faixa de Gaza.
A votação da resolução proposta pelo Brasil havia sido adiada duas vezes. Na primeira delas, na segunda-feira (16), os países pediram mais tempo para chegar a um consenso. O Itamaraty chegou a costurar apoio com embaixadores de outros países.
A votação foi então remarcada para terça-feira (17), mas o bombardeio a um hospital na Cidade de Gaza, que deixou quase 500 mortos fez o conselho adiá-la novamente.
Pela primeira vez, EUA terá de justificar veto
Apesar de os Estados Unidos ter o poder de veto sobre propostas em votação no Conselho de Segurança da ONU, o país terá justificar o veto.
Esta será a primeira vez que EUA terão de fazer essa justificativa, um recurso adotado no início de Guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Na ocasião, a Assembleia Geral do conselho aprovou uma medida obrigando os membros permanentes a justificarem eventuais votos contrários a uma resolução.
Na sessão de justificativa, que deverá acontecer em um prazo de até dez dias, os EUA terão de responder o questionamento de países – a expectativa é que os representantes do Oriente Médio façam questionamentos pesados.
A Palestina, que é um membro observador do conselho, também poderá questionar os Estados Unidos.
Até agora, só a China e a Rússia tinham justificado vetos.