Após a denúncia de uma menor de 15 anos que teria sido estuprada por dois homens — um de 20 e outro de 22 anos — vir à tona, um deles gravou um vídeo e postou nas redes sociais para tentar explicar o que aconteceu. Nas imagens, o homem de 22 anos classifica o ato como “uma brincadeira” e afirmou que o grupo “passou dos limites”.
“Sim, eu sei passamos do limite com a brincadeira, mas esse vídeo que está circulando é apenas eu fazendo essa brincadeira, sendo que não foi só eu. Depois de um tempo fui para o quarto e aconteceu a relação. Eu sei que passamos dos limites”, disse.
Nesta segunda (6), a prefeitura de Nova Iguaçu disponibilizou psicólogos para ajudarem emocionalmente a vítima. O crime teria acontecido na última sexta-feira (3) na casa de uma amiga da jovem, na cidade da Baixada Fluminense.
O caso que foi registrado na 58ª DP (Posse), mas após uma série de irregularidades — como a demora para o registro do caso e os investigadores levarem a menor até o local do crime sem a presença de um adulto — a apuração do fato foi transferida para a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) da cidade. Agora, a investigação será comandada por uma delegada mulher.
Apenas três dias após o possível crime, a Polícia Civil registrou o caso. A menor e a família denunciaram que houve demora e descaso das autoridades na história.
Segundo a menina, ela só soube do crime após imagens que foram gravadas pelos suspeitos serem divulgadas na internet.
“Eu não sabia que tinha sido estuprada nem nada, só que eles jogaram na mídia eu sendo estuprada. Eu não consigo abrir os vídeos, porque eu já olho de capa, eu já vendo as cenas são muito fortes e está rodando pela rede social toda, todo mundo tem. Eu não lembro de nada, não lembro quando começou, não lembro quando acabou. Eu só quero minha vida de volta”, destaca a menor.
Após prestar depoimento, menor foi levada em uma viatura só com homens até a casa de uma amiga, onde teria acontecido o abuso.
Em seguida, vítima e investigadores foram até a casa dos supostos autores. Três menores foram levados para a delegacia sem os responsáveis e advogados.
Um laudo médico do Hospital da Posse teria constatado a violência sexual na menina.
Questionada pelo g1, a Polícia Civil informou que o procedimento não é compatível com as orientações para atendimento ao público, “especialmente por se tratar de vítima menor de idade.”
“Um procedimento interno será instaurado para apurar a conduta dos agentes envolvidos com a ocorrência”, diz a nota da polícia.
Segundo o criminalista Wallace Martins, o depoimento é nulo.
“Não ser ouvida com os pais gera nulidade, a não ser que haja a presença de um advogado contratado. Do ponto de vista prático é difícil imaginar a contratação de um advogado por um menor sem o pai, a mãe ou o responsável. E a defesa, quando tiver a primeira possibilidade de se manifestar, ela tem que ventilar a nulidade, porque se ela não se manifestar, a nulidade vai ser superada e o processo vai continuar com essa mácula contra a defesa.”