Cerca de 40 adolescentes de um colégio particular do Recife foram vítimas do compartilhamento de fotos manipuladas em que aparecem nuas, a maioria na faixa dos 14 anos, de acordo com os pais. Ao g1, um dos responsáveis afirmou que as montagens foram feitas por garotos que estudam na mesma escola. A polícia abriu inquérito para investigar.
O caso aconteceu no Colégio Marista São Luís, que fica no bairro das Graças, na Zona Norte da cidade. De acordo com um do pais, que pediu para não ter a identidade revelada, quatro alunos eram responsáveis pelas montagens e compartilhavam as imagens em um grupo de WhatsApp. A situação foi descoberta após um garoto, que recebeu as imagens, avisar para uma das vítimas.
“Minha filha me ligou chorando porque tinha visto essa montagem de fotos dela e das amigas nuas. Ela me pediu para sair da escola”, contou o pai. Ele também diz que as vítimas denunciam que tiveram fotos publicadas nas redes sociais modificadas em montagens que as colocavam em posições pornográficas.
“Eu acho que se não falarmos sobre, é pior. Se deixar para lá, uma trolagem simples evolui para uma coisa séria contra meninas adolescentes, e elas ficam traumatizadas com isso”, disse o pai.
A história se espalhou entre os pais da unidade, que foram até a diretoria do colégio levar as reclamações das filhas. Quatro rapazes foram identificados nas mensagens e estão suspensos.
“Chamaram os meninos para a direção, desbloquearam os celulares e viram fotos de umas 40 meninas, tudo com uns 14, 13 anos. Algumas eram bem-feitas e outras mais grosseiras e claramente falsas”, disse o pai de uma das vítimas.
Os pais foram orientados a comparecer na delegacia com as fotos originais, para comprovar que as fotos espalhadas eram montagens, e a polícia também investiga se as imagens foram mandadas para pessoas de fora da escola.
“Serve de lição para não mandar foto para ninguém, não ficar sensualizando para colegas. É uma coisa que não está ao nosso controle”, afirmou.
Caso a denúncia seja confirmada, o pai reforça que se não houver expulsão dos alunos acusados, ele vai retirar os filhos do colégio.
“Eles vão ver que não tem isso de classe social, diferença de pobre e rico. Tem que ser severo nesse colégio também, para eles terem certeza de que não podem fazer besteira e ficar impune. A escola tem que expulsar, não estou dizendo que são bandidos, mas é uma correção”, disse o pai.
Em um comunicado enviado por e-mail aos pais/responsáveis dos estudantes na terça (7), o Marista informou que os alunos envolvidos na infração receberam “medidas sociodisciplinares previstas em regimento” e que “atendeu as famílias de cada um desses estudantes, informando-as sobre as medidas cabíveis aplicadas”.
O texto, assinado pelo diretor Maicon Donizete Andrade Silva, não detalha quais foram as medidas.
Caso é investigado pela polícia
As investigações foram confirmadas pela Polícia Civil na terça-feira (7) e estão sob responsabilidade do Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). A corporação afirmou que não vai repassar outras informações “não prejudicar as investigações em curso”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê, no Art. 241C, que é crime “simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual.”
Outros casos no Rio de Janeiro
Este mês, no Rio de Janeiro, mais de 20 alunas foram vítimas do mesmo tipo de crime, com imagens adulteradas com uso de inteligência artificial, a maioria delas é do Colégio Santo Agostinho, que fica na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
A polícia já identificou parte dos alunos suspeitos por criar as montagens e, de acordo com a corporação, eles devem ser ouvidos a partir desta quarta-feira (8).
Se confirmada a autoria, eles responderão como menores infratores por crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e podem receber uma medida socioeducativa, ficando até três anos em alguma unidade de socioeducação e privados da liberdade.
Outra vítima do mesmo crime foi a atriz Isis Valverde, que registrou uma ocorrência na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática depois que fotos suas, postadas em redes sociais, foram adulteradas para simular o vazamento de “nudes”. A equipe da artista percebeu que as imagens começaram a circular na internet em 26 de outubro e acionou advogados para tomar providências.