Após ser eleito presidente da Argentina neste domingo (19), Javier Milei fez seu primeiro discurso e foi mais contido do que costuma ser.
Milei é um economista ultraliberal que se define como libertário e fez fama na TV com um discurso incendiário contra o Estado e a classe política, que chama de casta. Durante a campanha, aparecia como uma motoserra para simbolizar o que pretendia fazer com os gastos públicos.
No discurso da vitória, nada disso. Pregou pautas liberais e criticou os políticos, mas esboçou um tom conciliador. Disse que “todos aqueles que quiserem se somar serão bem-vindos”.
Não mencionou suas propostas mais radicais, como dolarizar a economia e fechar o Banco Central, nem detalhou medidas que pretende tomar, mas disse que a crise exige ações drásticas, “sem espaço para gradualismos”. Ao citar o atual governo, ao qual faz oposição, pediu que sejam responsáveis até o dia 10 de dezembro, quando ele tomará posse.
Milei venceu com 55,69% dos votos, contra 44,30% de Sergio Massa, candidato governista e atual ministro da Economia. A diferença surpreendeu, porque as pesquisas projetavam uma disputa mais acirrada. Foram cerca de 3 milhões de votos de vantagem.
Veja as principais frases do discurso de Milei:
Hoje começa a reconstrução da Argentina.
Obrigado ao presidente Macri e a Patricia Bullrich, que colocaram o corpo para defender a mudança de que a Argentina necessita.
Hoje começa o fim da decadência. Hoje termina a ideia de que o Estado é um botim que se reparte entre os políticos e seus amigos.
Hoje voltamos a abraçar as ideias de liberdade.
Este é um governo que cumpre rigorosamente com os compromissos que assumiu.
Ao governo queremos pedir que sejam responsáveis, que entendam que chegou uma nova Argentina e que atuem com consequência. Que se encarreguem até o fim do mandato.
Todos aqueles que quiserem se somar à nova Argentina serão bem-vindos.
Sabemos que há gente que vai resistir, que quer manter privilégios. A eles eu digo: dentro da lei, tudo; fora dela, nada.
Hoje chegou ao fim uma forma de fazer política.
A Argentina tem futuro, e esse futuro é liberal.
A situação da Argentina é crítica. Não há espaço para gradualismos nem meias medidas.
Se não avançarmos rápido com as mudanças estruturais de que a Argentina necessita, nos dirigimos para a pior crise da nossa história.
Nosso compromisso é com a democracia, o livre comércio e a paz. Vamos trabalhar com todas as nações do mundo livre.
Milei fez questão de agradecer ao ex-presidente Mauricio Macri e à ex-candidata Patricia Bullrich, que decidiram apoiá-lo no segundo turno. “Colocaram o corpo para defender a mudança de que a Argentina necessita”, afirmou. Disse que é uma noite histórica e que considera um milagre a Argentina ter um presidente “liberal e libertário”.
“Hoje começa o fim da decadência argentina, termina o modelo empobrecedor do Estado onipresente”, disse ele. “A Argentina tem futuro, e esse futuro é liberal”, afirmou. “Se abraçamos essas ideias, não vamos apenas poder resolver os problemas de hoje, mas dentro de 35 anos voltaremos a ser uma potência mundial.”
Ao se referir ao atual governo, pediu que “assumam sua responsabilidade até o fim do mandato”. “Ao governo queremos pedir que sejam responsáveis, que entendam que chegou uma nova Argentina e atuem de forma consequente”, afirmou. “Uma vez finalizado o mandato, poderemos transformar essa realidade tão trágica para milhões de argentinos.”
Desafios do presidente
Milei tem 52 anos e será o 52º presidente da Argentina. Terá que enfrentar a pior crise econômica em décadas, com uma inflação astronômica de 140%, forte desvalorização da moeda nacional, escassez de reservas internacionais, endividamento externo e cerca de 40% da população na pobreza.
A chegada à presidência é o ápice de uma trajetória meteórica. Milei entrou para a política há apenas dois anos, quando se elegeu deputado pelo partido A Liberdade Avança, que ele criou, com um discurso “contra tudo e contra todos”. O apoio entre o eleitorado jovem é um de seus trunfos.
Antes da política, atuou no setor privado como economista. Milei ganhou fama participando de programas de TV, nos quais aparecia como uma figura excêntrica para defender valores liberais e atacar o keynesianismo, corrente econômica que, em linhas gerais, defende uma maior atuação do Estado como indutor da economia.