Em defesa do São Francisco, MPF embarca na VI Expedição Científica da Ufal

A saúde do rio e a qualidade de vida da população diretamente afetada pela bacia do São Francisco são as principais preocupações dos pesquisadores e estudiosos da VI Expedição Científica do Baixo São Francisco, organizada pela Universidade Federal de Alagoas.

Em busca de mais informações sobre os dados que podem ser obtidos por meio dessas pesquisas, o Ministério Público Federal (MPF) acompanhou os trabalhos de professores e equipe de apoio da Expedição Científica do Baixo São Francisco. Nos últimos dias 21 e 22 de novembro, as procuradoras da República Juliana Câmara e Roberta Bomfim, procuradora-chefe do MPF em Alagoas, acompanharam as primeiras ações da expedição, nos municípios de Piranhas e de Pão de Açúcar, sertão alagoano.

Titular do 9º ofício do Meio Ambiente no MPF em Alagoas, a procuradora da República Juliana Câmara acompanhou as pesquisas com especial interesse no aproveitamento dessas informações. “A quantidade e a qualidade das informações a que tivemos acesso aqui é tão rica que nos enche de entusiasmo, tanto para aplicar nos procedimentos que instruo, quanto para encontrar formas de implantar soluções encontradas pelos pesquisadores nesta e nas edições passadas da expedição pelo rio São Francisco. São muitas as possibilidades que se abrem”, comentou Juliana Câmara.

Roberta Bomfim, procuradora-chefe do MPF e titular do 7º ofício de Tutela dos Cidadãos, avaliou que essa aproximação entre a instituição e a Universidade oferece muitos caminhos para obtenção de mais dados que podem auxiliar na atuação do MPF. “Esta interseção enriquece nosso trabalho e nos ajuda no desenvolvimento de novas frentes de atuação. Estar aqui esses dias nos mostrou as inúmeras possibilidades de solução para problemas que chegam no MPF com difíceis soluções. Conhecendo os resultados que as pesquisas podem produzir, e já vêm produzindo, vislumbramos um caminho para a resolutividade extrajudicial de alguns procedimentos”, destacou a procuradora-chefe.

Peixamento – O MPF foi recebido pelos coordenadores da expedição, os professores Emerson Soares e José Vieira, que conduziram as procuradoras às diversas ações em execução simultaneamente, explicando os objetivos e os projetos em desenvolvimento.

Após a abertura oficial dos trabalhos de campo, em Piranhas, a primeira ação acompanhada pelo MPF foi a introdução de espécies nativas do rio e que estão em extinção ou em risco de desaparecimento no baixo São Francisco. O repovoamento do rio se dá após a estocagem de alevinos (filhotes de peixes) para posterior soltura no próprio rio.

Só no dia 21, foram reintroduzidos cerca de 25 mil peixinhos das espécies: pacamã, piaba do rabo amarelo, piau verdadeiro, curimatã pacu e mandi amarelo. Assim, os pesquisadores buscam o reequilíbrio ambiental e o fomento ao meio de subsistência dos pescadores e ribeirinhos.

Imagem de um homem, o professor, explicando a duas mulheres, as procuradoras, sobre as possibilidades de pesquisa naquela embarcaçãoBarco Água – Também foi visitado o Barco Água, a maior das embarcações da Expedição Científica, onde são realizadas diversas coletas de água e peixes, nos mais variados pontos do rio, para que seja analisada a qualidade da água, sendo os pesquisadores capazes de identificar mais de 100 substâncias químicas com os equipamentos que puderam ser instalados na embarcação.

foto de pesquisadora estudando peixeNeste barco, exemplares dos peixes são estudados assim que saem da água e por meio de suas vísceras, as análises podem ser feitas, apontando como a qualidade da água impacta na qualidade do pescado e apresenta indícios do que pode estar afetando a qualidade da água e do peixe, quando este for o caso.

Saúde dos ribeirinhos – Ainda em Piranhas, as procuradoras da República acompanharam os trabalhos das equipes que atenderam 56 pessoas no posto de saúde que sediou os estudos e análises médicas e bioquímicas de diversas especialidades. Sob a coordenação da professora Eliane Cavalcanti, foram realizados exames de coleta de sangue, teste rápido para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. Também foi realizado atendimento ginecológico, proctológico, oncológico, odontológico, e outros, inclusive com rastreamento de câncer nessas especialidades.

 

Os mesmos atendimentos e consequentes acompanhamentos das pessoas que possam ser diagnosticadas com alguma doença são realizados em todos os municípios por onde a expedição científica passa. Todos os casos identificados recebem encaminhamentos, mas quando são doenças de média ou alta complexidade são direcionados para tratamento no Hospital Universitário, em Maceió (AL).

Os resultados obtidos pelos pesquisadores são informados aos gestores municipais para que adotem as providências que acharem necessárias, especialmente a adoção de políticas públicas que evitem o aparecimento ou agravamento de doenças que podem evoluir para casos de média e alta complexidade.

Educação ambiental – O MPF também acompanhou as ações de educação ambiental que contam com a participação do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marinha do Brasil, e outros.

Por meio de contação de histórias, apresentações e muitas brincadeiras, os especialistas se dedicam a despertar nas crianças o interesse pelo meio ambiente e pela defesa da natureza – vegetação, animais, insetos e outros. Para isso, a importância do rio é o tema em todas as rodas de conversa. As crianças são ensinadas a compreender como toda a cidade em que vivem é afetada pelo desequilíbrio do rio, seja pela falta de água, falta de peixes, água contaminada, e mais. A forma como essas crianças tratam e tratarão o rio quando crescerem levará ao rio que os receberá no futuro.

 

Fossas agroecológicas – A contaminação das águas do rio por efluentes de esgoto sem tratamento é a maior de todas as preocupações quanto ao Velho Chico. O despejo inadequado desses efluentes acabam se infiltrando e contaminando o lençol freático e outros corpos d’água utilizados como fonte para o consumo humano. 

registro fotográficoNo município de Pão de Açúcar, no dia 22, as procuradoras da República puderam ver numa escola municipal como a fossa agroecológica, projetada por professores da Ufal, tem trazido benefícios para alunos, professores e funcionários. Enquanto os sedimentos são separados e tratados por meio de materiais que podem ser aproveitados de restos da construção civil e pneus velhos, na superfície são plantados alimentos orgânicos que podem ser utilizados pela escola.

Para o professor Eduardo Lucena, coordenador do projeto das fossas agroecológicas, “essa tecnologia social é capaz de ajudar o país a atingir as metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento Básico, quanto à universalização dos serviços de esgotamento sanitário”.

fotografia da procuradora assinando papéis ao lado do professorPró-manguezais – Representando o MPF, a procuradora-chefe Roberta Bomfim assinou o termo de cooperação técnica com a Ufal para atuação conjunta no Projeto Pró-Manguezais, que conta também com o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) na coordenação. O projeto visa incentivar a proteção e a preservação dos mangues em Alagoas. O encontro na expedição científica marcou a parceria entre as instituições federais na defesa do meio ambiente em Alagoas.

Entenda – Atualmente em sua sexta edição, a Expedição, organizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é o maior evento da categoria em todo o país. São 120 pessoas, entre pesquisadores e pessoal de apoio, por via fluvial e terrestre, e cerca de 30 instituições envolvidas que atuam em diversas linhas de pesquisa, da arqueologia à ictiofauna. Com seis barcos, a expedição cruzará o trecho do Rio São Francisco entre os estados de Alagoas e Sergipe.

Entre os dias 21 e 30 de novembro a Expedição se inicia pelo município de Piranhas (AL), e passará pelos municípios de Pão de Açúcar, Traipu, São Brás, Propriá (SE), Igreja Nova, Penedo, Piranhas e Piaçabuçu.

 

Fonte: MPF

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