A Justiça reanalisou as medidas impostas para a soltura do motorista de uma van escolar e do auxiliar dele, que foram presos pela morte de Apollo Gabriel Rodrigues, de 2 anos, que foi esquecido dentro no veículo.
Na terça-feira (28), segundo apurado pelo g1, a juíza revogou o recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga e a suspensão da habilitação para dirigir.
No entanto, o juízo manteve a “suspensão do exercício da atividade profissional de transporte escolar de crianças e adolescentes”. A investigação da Polícia Civil sobre o caso foi encaminhado ao Ministério Público, que ainda vai se manifestar.
O menino foi enterrado em 16 de novembro na Zona Leste de São Paulo. A auxiliar e o motorista da van são um casal, e a mulher era a responsável por conferir os passageiros do transporte escolar.
Anteriormente, o g1 entrou em contato com o advogado responsável pela defesa dos dois. Ele comentou que o casal estava “arrasado com a trágedia”.
Relembre o caso
Em depoimento à Polícia Civil, uma das testemunhas foi a diretora da CEI Caminhar, que fica no Parque Novo Mundo. Ela detalhou que estava trabalhando quando o transporte escolar levou de manhã os alunos, mas contou que o controle de presença é feito nas salas de aula e não no veículo com o motorista.
A diretora, segundo o depoimento, imaginou que Apollo tivesse faltado. Por volta das 16h, no entanto, recebeu uma ligação do motorista da van. Durante a chamada, ele teria dito que o menino foi esquecido na van e “estava desfalecido”.
Ela chegou a ver a criança nos bancos do fundo, de longe, e entrou no transporte com o casal até o Hospital Vereador José Storopolli. Na unidade de saúde, o médico constatou a morte.
A mãe do menino lembrou, em entrevista à TV Globo, que o filho chorou antes de entrar no veículo, naquela manhã.
“Ele estava tão bem hoje [terça-feira, 14]. Mas quando eu fui pôr ele na perua, ele chorou. Ele chorou. Não queria ir. E ela [auxiliar do motorista] sempre colocava ele na frente, hoje ela colocou ele no banco de trás e esqueceu o meu filho”, disse Kaliane Rodrigues.
“Independente se ela [auxiliar] colocou atrás, na frente ou no meio da van, isso para mim é irresponsabilidade, porque quem trabalha com criança tem que ter muita atenção”, completou a mãe.
A avó do menino lamentou a morte do neto e também citou “irresponsabilidade do casal”.
“Deixou a perua no estacionamento, num calor terrível, como hoje, só foi perceber [que o menino ainda estava atrás] na hora de entregar as crianças. Eles não tiveram culpa, mas foi irresponsabilidade. Minha filha quer Justiça. Quem cuida de criança tem que ter o máximo de responsabilidade”, disse a avó Luzinete Rodrigues dos Santos.
O que diz o casal
Em depoimento à polícia, o condutor, Flávio, e a mulher, Luciana, que é auxiliar do marido, contaram que tinham buscado Apollo em casa, de manhã, para levá-lo até a creche no Parque Novo Mundo.
Contudo, só perceberam ter esquecido o garoto depois do almoço, quando usaram o veículo de novo para buscar as crianças na creche.
A suspeita da polícia é a de que o menino morreu por conta do calor. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os termômetros registraram 37,7°C naquele dia, sendo o segundo dia mais quente da história das medições feitas pelo Inmet. Porém, o laudo do Instituto Médico Legal irá apontar a causa da morte.
De acordo com o boletim de ocorrência, a que o g1 e a TV Globo tiveram acesso, a auxiliar disse também à polícia que costumava conferir o embarque e o desembarque das crianças, mas que nesta terça (14) não passou bem, estava com enxaqueca, o que pode ter prejudicado a sua atenção no trabalho.
A Prefeitura de São Paulo, por meio de nota anteriormente, lamentou o caso e disse que presta apoio aos familiares. “O condutor do Transporte Escolar Gratuito (TEG) já foi descredenciado e um processo administrativo foi aberto para apurar a conduta do profissional.”