Uma câmera de segurança flagrou o momento em que policiais negaram socorro ao adolescente Pedro Kauã Moreira Ferraz, de 15 anos, que morreu após ser baleado por engano por um agente durante uma operação da Polícia Militar no município de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, na noite de segunda-feira (27).
No vídeo, Pedro já aparece ferido, sendo amparado pelos parentes, que pedem ajuda aos policiais que estavam no quintal da propriedade. Os agentes olham para o jovem baleado, mas não atendem aos pedidos de socorro e deixam o local.
A vítima só foi socorrida momentos depois, pelos próprios parentes, que o levaram ao Hospital de São Gonçalo do Amarante, com um tiro nas costas. A bala perfurou o pulmão e o adolescente não resistiu aos ferimentos.
“Eles [policiais] ficaram tão desorientados que eles mesmo saíram. Eu disse: ‘socorram meu filho, socorram meu filho’. Eu gritando para eles socorrerem meu filho e eles não socorreram. Meu cunhado que pegou a chave do carro e levou meu filho para o hospital”, relatou Euzanira Moreira, mãe de Pedro Kauã.
Resgate de cavalo
Conforme familiares, Pedro Kauã estava na casa da avó com a família quando foi informado que o cavalo dele havia saído da propriedade. Ao sair no quintal em busca do animal, o jovem foi baleado por um agente, que atendia uma ocorrência nas proximidades do imóvel.
Ao ser questionada sobre a denúncia da família, a Polícia Militar não confirmou que o tiro que matou o jovem foi disparado por policiais. A corporação disse apenas que apreendeu arma e droga durante uma ocorrência no local e “no decorrer das diligências, os policiais foram informados que um adolescente foi atingido durante a troca de tiros”. A família do garoto informou que ele não estava armado e não se envolveu em troca de tiros.
Em relação à omissão de socorro ao adolescente por parte dos agentes, que aparece no vídeo acima, a corporação não respondeu sobre o assunto.
Pedro Kauã será enterrado nesta quarta-feira (29). A Prefeitura de São Gonçalo do Amarante decretou três dias de luto oficial em razão da morte do adolescente, que era aluno da rede municipal.
“Expressamos nossas sinceras condolências aos familiares, amigos e à população. Kauã será lembrado não apenas pelos anos que passou entre nós, mas pela luz que ele trouxe a todos que tiveram a sorte de conhecê-lo”, diz um trecho da nota da prefeitura.
Adolescente teria sido confundido
Uma das suspeitas da família é que Pedro Kauã tenha sido confundido com um criminoso que era procurado pela polícia.
Câmeras de segurança registraram o momento que Pedro Kauã voltava correndo para o imóvel ferido e pede ajuda a mãe. Momentos depois, ele sai da propriedade amparado pela mulher e o policial aparece de arma em punho.
De acordo com a Polícia Militar, os agentes receberam uma denúncia de que um carro teria saído de Fortaleza transportando entorpecentes. A partir das características, os militares do 23º Batalhão iniciaram as buscas e abordaram o veículo em um trecho da rodovia CE-085.
No carro estavam duas pessoas: o motorista, que havia sido contratado para realizar a corrida, e a passageira identificada como Nayara Braz de Mesquita, 21 anos, que já tinha antecedentes por porte ou posse ilegal de arma de fogo de uso restrito. No veículo foi localizado uma substância análoga à cocaína.
Durante a ocorrência, a suspeita indicou a localização de quem receberia a droga. Os policiais foram a casa do indivíduo, que reagiu e efetuou disparos de arma de fogo na direção da viatura. Carlos Vitor Soares de Sousa Lima, 23 anos, com antecedentes criminais por consumo de entorpecentes, crime de trânsito e porte ilegal de arma, ficou ferido durante o confronto, foi socorrido ao hospital municipal.
Ainda conforme a PM, no decorrer da ocorrência os policiais foram informados que um adolescente foi atingido durante a troca de tiros e foi socorrido pelos familiares, mas não resistiu aos ferimentos.
Um inquérito sobre os suspeitos detidos foi instaurado na Delegacia Metropolitana de Caucaia.
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou que instaurou um procedimento disciplinar para apuração dos fatos na seara administrativa.
“O inquérito policial está sob responsabilidade da Delegacia Metropolitana de Caucaia”, disse a CGD.