‘Eu estava no fundo do poço’: Zinho revela ‘treta’ nos bastidores e explica troca do Palmeiras para o Cruzeiro

ESPN

Nesta quarta-feira (6), Cruzeiro e Palmeiras se enfrentam no Mineirão, às 21h30 (de Brasília), pela 38ª rodada do Campeonato Brasileiro. Um empate basta ao Verdão para confirmar a conquista de seu 12º título do torneio.

Ao longo da história, celestes e alviverdes compartilharam vários ídolos. Um deles foi o meio-campista Zinho, que foi multicampeão no Verdão em várias passagens e depois também arrebentou na Raposa da “Tríplice Coroa”.

Após levantar uma série de taças durante dois períodos na “era Parmalat” do Palmeiras, o craque voltou o Alviverde em 2002, contratado em momento de alta no Grêmio.

Sua 3ª passagem pelo Palestra Itália, porém, acabou não sendo boa, já que Zinho fez parte do elenco que acabou rebaixado pela 1ª vez na história para a Série B.

No ano seguinte, o Tetracampeão do mundo surpreendeu ao anunciar que ficaria no Verdão para buscar o acesso à elite. Meses depois, todavia, a situação mudou totalmente.

Contratado para recolocar o Palmeiras na elite, o técnico Jair Picerni teve vários desentendimentos com o veterano, que acabou optando por deixar a equipe.

Em entrevista à ESPN, o hoje comentarista dos canais esportivos da Disney admitiu que ficou “muito triste” em deixar o Alviverde, principalmente pela linda história que construiu no clube.

Zinho ressaltou, porém, que a situação com Picerni era insustentável, e a saída acabou sendo a melhor opção para o momento.

“Eu fiquei no Palmeiras até o início da Série B. Joguei até a partida de estreia, contra o Brasiliense. A verdade é que eu não queria sair do Palmeiras. Queria continuar lá, queria subir para a 1ª divisão, até pela gratidão, identificação e paixão que eu tenho por um clube no qual conquistei tantos títulos”, relato.

“Infelizmente, eu estava tendo algumas divergências com o treinador da época [Jair Picerni]… A convivência estava sendo bem ruim e estava me desgastando. Para o clube, também não estava sendo legal”, lembrou.

“Fui conversar com o (então presidente do Palmeiras) Mustafá (Contursi) e a gente teve um diálogo bem amigável. Eu saí muito triste, muito triste mesmo. Eu queria permanecer no Palmeiras. Depois de tantos títulos e glórias, a gente caiu para a Série B em 2002 e eu fui muito cobrado por isso. Queria mudar essa imagem”, observou.

“Mas aí o novo treinador (Picerni) chegou e… Eu não estou falando aqui que ele estava errado e eu certo, longe disso… Mas as atitudes dele acabaram me entristecendo mais ainda, me dando problemas e me machucando muito, ainda mais num período em que todos estavam abalados pelo rebaixamento”, complementou.

“Quando tocou o telefone da minha casa…”

O acerto com o Cruzeiro foi rápido: liberado do Palmeiras em 2 de maio, Zinho foi anunciado pela Raposa seis dias depois.

Na conversa com a reportagem, o ex-meio-campista revelou os detalhes de como foi a negociação, iniciada a pedido de um velho conhecido: Vanderlei Luxemburgo.

À época, o treinador seguia a montagem do elenco que “amassaria” os adversários no Brasileirão e na Copa do Brasil.

Profundo conhecedor do futebol de Zinho, que era um dos artífices de seu time na “era Parmalat”, Luxa agiu de forma veloz para ficar com o reforço.

“Um dia, toca o telefone da minha casa. Era o PC Gusmão, auxiliar do Vanderlei no Cruzeiro. Eles sabiam que eu tinha acabado de sair do Palmeiras. Eles me ligaram e falaram que o (meio-campista) Martinez tinha sofrido uma lesão grave no joelho e ia ficar fora do restante da temporada”, revelou.

“Eles precisavam de um cara experiente para essa mesma função. Por isso, me ligaram e foram bem diretos: ‘Olha, Zinho, você vai vir para cá compor elenco, pela sua idade [à época, 37 anos]. Eu tenho um sistema de jogo, mas quero montar um grupo forte, pois vamos ter muitos jogos no ano'”, relembrou.

“Era uma estratégia bem parecia com o que o Felipão fazia no Palmeiras, que queria montar não só um 11 forte, mas um elenco com peças de reposição. E foi justamente isso que aconteceu: foi formado um plantel muito bom, que ganhou a Tríplice Coroa com todos os méritos”, exaltou.

Pela Raposa, foram 32 partidas naquela temporada, com 3 bolas na rede.

“Eu estava no fundo do poço”

Para encaixar Zinho no Cruzeiro, Luxemburgo detectou que o meia-campista precisava de um trabalho especial tanto na parte física quanto psicológica.

O próprio ex-jogador salienta que estava no “fundo do poço” ao deixar o Palmeiras, ainda abalado pelo rebaixamento à Série B, e que precisou “suar a camisa” para consequir se adequar ao que Luxa queria em Minas.

“Quando eu fui para o Cruzeiro, teve um trabalho especial comigo. Preparação física, parte nutricional… A nutricionista foi inclusive na minha casa, conversou bastante com a minha esposa. Isso me ajudou a ‘rejuvenescer’, me deu muita força e motivação”, relatou.

“Foi preciso um trabalho grande do Vanderlei e da comissão técnica, pois aconteceram muitas coisas antes no Palmeiras… Eu estava no fundo do poço, triste pra caramba. Aí saio do Palmeiras e vou pegar meu 5º título do Brasileiro”, observou.

“Nessa época, eu bati um monte de recordes… Virei recordista de títulos do Brasileiro, recordista em número de jogos. Lembro que, na época, em bati o Wladimir, do Corinthians, como jogador mais velho que mais atuou. Depois fui superado pelo Rogério Ceni e outros goleiros, mas o recorde foi meu por um tempo”, brincou.

“Acabou que foi um ano maravilhoso e brilhante. Sou grato até hoje pelo que o Cruzeiro e o Vanderlei me proporcionaram”, complementou.

“Luxa me deu a camisa 10 e a faixa”

Curiosamente, Zinho não é creditado como campeão da Copa do Brasil, já que ele havia atuado pelo Palmeiras na competição e ficou impedido de jogar pelo Cruzeiro.

No entanto, o craque afirma que se sente vencedor do torneio, já que participou integralmente com o grupo nas atividades.

“Eu estava no elenco e era importante ali, nos trabalhos, nos treinos, na concentração. Eu concentrava normalmente com o time antes dos jogos da Copa do Brasil e viajava com a delegação, mesmo não podendo jogar”, contou.

No Brasileirão, porém, Zinho atuou normalmente e foi extremamente importante para o título.

Foi dele, inclusive, um dos gols do triunfo por 2 a 1 sobre o Paysandu, em 30 de novembro de 2003, que sacramentou a conquista celeste.

Nesse jogo, aliás, coube ao veterano substituir o grande craque do time, o armador Alex, que estava suspenso.

“Apesar dos 37 anos, eu estava muito bem fisicamente. Tive nessa época meu melhor peso como atleta, que foi 72kg. O condicionamento estava bom, e consegui jogar e ajudar muito mais até do que o Vanderlei esperava”, admitiu.

“Acabou que em muitos jogos eu fui titular e acabei sendo marcante no jogo do título. Naquele dia, o craque do time, que era o Alex, estava suspenso e não podia jogar. O Vanderlei me deu a camisa 10 e a faixa de capitão”, lembrou.

“Ele me falou para fazer um posicionamento diferente nesse jogo contra o Paysandu. Geralmente, eu atuava ao lado do Alex, mais como um 3º homem de meio-campo. Mas, dessa vez, eu ia jogar centralizado, encostado no atacante. Deu muito certo, até porque fiz o gol logo aos 7 minutos do 1º tempo”, celebrou.

“Acabou que foi um dos melhores jogos da minha carreira. Joguei muito bem, digamos que substituí o Alex à altura. Foram fatos muito marcantes da minha passagem pelo Cruzeiro”, encerrou.

O meio-campista ficou no Cruzeiro até o final daquela temporada, acertando depois em janeiro sua transferência para o Flamengo, clube que o revelou.

Fonte: ESPN

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