O rompimento da mina 18, localizada no bairro do Mutange, em Maceió, pode ser o começo de um processo em que as consequências ainda não são claras. Segundo a Defesa Civil da capital alagoana, parte da mina se rompeu no início da tarde deste domingo (10/12).
Até agora, a cidade já teve 60 mil pessoas afetadas e 14 mil residências evacuadas desde 2018.
A engenheira geóloga Regla Toujaguez La Rosa Massahud, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), acredita que o processo de rompimento é somente o início do eventual colapso da mina, mas afirma que é difícil precisar quando isso pode acontecer.
“Primeiro, tem que romper toda a parte superior, que é o que nós vemos nos vídeos divulgados. O fissuramento faz aquelas bolhas surgirem. Agora, nós temos que aguardar. Estamos monitorando essa situação há semanas e não podemos nos precipitar”, explica.
“Acredito que a chuva que tivemos nos últimos dias pode ter gerado mais peso na área, contribuindo para esse rompimento. De toda forma, não acredito em um efeito que faça as próximas minas colapsarem, porque outras já estão preenchidas. Acredito que deve ficar nessa região, felizmente sem pessoas”, complementa.
Em entrevista anterior à BBC News Brasil, a professora já tinha afirmado que o processo de colapso poderia acontecer em alguma das 35 minas da Braskem em Maceió.
Dilson Ferreira, professor de Arquitetura e Urbanismo da Ufal vê três cenários como possíveis.
No primeiro, o solo se acomodaria e não teria grandes consequências, já que toda a área está isolada, sem pessoas morando e também sem trânsito.
“Vai gerar sismo, mas pode não chegar a afetar áreas habitadas hoje. Pegaria esse problema nas áreas que não são habitadas, ou seja, não teria problema, ponto de vista de maiores danos, na hipótese de só o solo ceder”, diz.
O segundo e o terceiro, porém, são mais impactantes.
“Se ela ceder, vai gerar o que a gente chama de dolinamento, que é um buraco gigantesco. Essa mina tem aproximadamente mil metros de profundidade para chegar nela lá embaixo. Teríamos um lago com a água da lagoa ali na região”, diz ele.
“Só que, no terceiro caso, o dolinamento poderia se tornar uma reação em cadeia, gerando diversos buracos nas outras minas. Mais água dentro desses buracos, com aqueles mesmos efeitos nos bairros, como rachaduras. Não se sabe se ficaria no limite dos cinco bairros já afetados ou se poderia se estender à cidade. É fato que teria que realocar mais pessoas.”
A salinização da água também deve ter grandes consequências para o ecossistema da região, que tem mangues e especialmente o sururu, que mantém a subsistência de quem vive à beira da lagoa.
“No sistema lagunar, que já é pobre, e pior ainda, como estamos em um período de verão, onde o volume de água doce diminuiu significativamente, então, vamos ter uma perda de hábitat imenso, principalmente, por volume de água”, afirma a bióloga e professora da Ufal Nídia Fabré, especialista em ecossistemas aquáticos marinhos e continentais.
“Nós vamos ter uma perda de mangues. Os mangues são fundamentais como berçários de grande diversidade de peixes, que têm importância comercial e para a segurança alimentar dessas populações que vêm sofrendo já há bastante tempo por toda essa degradação ambiental”, afirma.
“O manguezal tem um papel importantíssimo na captura de carbono. Nestes tempos, estamos preocupadíssimos com o sequestro de carbono, a perda de biomassa de mangue realmente afeta, não só localmente, como afeta, globalmente, esse equilíbrio”, analisa Fabré.
Além disso, é provável que o valor do metro quadrado siga aumentando em Maceió e em cidades vizinhas, um processo constante desde que o problema dos cinco bairros começou, em 2018.
“Houve um aumento muito grande de demanda e isso levou a um aumento no nível dos preços dos aluguéis, conforme as pessoas recebiam as indenizações, fez com que o preço, tanto de terreno quanto das casas, se elevasse, e ainda no meio da pandemia. Isso fez com que Maceió seja uma das mais caras capitais, principalmente do Nordeste”, argumenta a professora de Economia da Universidade Federal de Alagoas Natallya Levino.
Em live nas redes sociais do prefeito João Henrique Caldas (PL), o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, afirmou que o risco de rompimento não deve ser ampliado, com um cenário de estabilização. O monitoramento continuará.
A Braskem afirmou que as imagens de câmera registraram movimentos atípicos às 13h15 e 13h45 deste domingo e que segue colaborando com as autoridades.