O Celular Seguro, serviço com o qual o governo federal pretende inibir roubos de smartphones, poderá, num primeiro momento, ajudar a bloquear o acesso de bandidos à linha telefônica e a aplicativos de bancos ao notificar terceiros sobre crimes.
Mas ainda não será capaz de fazer dos aparelhos “um pedaço de metal inútil” na mão dos bandidos, como pretende o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O aplicativo e o site permitirão quem teve o celular roubado ou furtado avisar várias instituições de uma vez. Eles serão lançados nesta terça-feira (19), tendo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e bancos como parceiros.
Com base em informações divulgadas pelo ministério, o g1 ouviu especialistas para entender o que pode ser positivo e quais são os desafios para que o serviço tenha a finalidade completa pretendida. Confira os principais pontos levantados:
🚨 A proposta é que quem se cadastrar previamente e tiver o celular roubado, furtado ou perdido poderá registrar uma “ocorrência” no aplicativo;
↪️ O alerta será enviado, ao mesmo tempo, para operadoras de telefonia e bancos que participam da iniciativa;
⌚ Se a ideia se cumprir, a vítima perderá menos tempo para entrar em contato com cada instituição;
⛔ Por outro lado, não há garantia de bloqueio imediato. A associação de operadoras de telefonia fala em até 6 horas para encaminhar o pedido às operadoras e mais 1 dia útil para a a linha ser bloqueada. Alguns bancos participantes citam bloqueio imediato, mas outros têm prazo de até meia hora, a partir do recebimento do alerta feito pelo app;
📱 Outra questão é que os aparelhos não ficarão totalmente inutilizados. Para isso, seria preciso que os sistemas também fossem bloqueados, mas os principais desenvolvedores, Google (Android) e Apple (iOS), não estavam citados entre os parceiros até esta segunda-feira (18).
O que dizem especialistas?
O diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks, Thiago Ayub, disse que o esforço é bem-vindo, mas lembrou que outras iniciativas já foram burladas por criminosos. “Se burla semelhante ocorrer novamente, essa nova iniciativa terá sua eficácia reduzida”, disse.
Ele também destacou a importância de incluir fabricantes de celular e desenvolvedoras de sistemas no programa do governo.
“Essas ações terão uma chance de sucesso bem maior, seja utilizando outro tipo de identificação não alterável do aparelho, seja impedindo o mecanismo de troca de IMEI [código de identificação do aparelho] que criminosos já demonstraram serem aptos a fazer”, disse.
O presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética, Hiago Kin, alertou para possíveis mal-entendidos que o novo app pode causar. Para ele, usuários poderão se confundir e pensar que a ferramenta bloqueia celulares, quando, na verdade, apenas notifica outras instituições.
Na avaliação de Kin, é preciso evitar falhas de comunicação e monitorar eventuais golpes que usem o nome do Celular Seguro, para não trazer mais prejuízo aos usuários.
“O maior risco à população se dá por meio das brechas a ataques de engenharia social, como usuários sendo enganados, a partir de comunicações falsas de que ‘seus números serão bloqueados por um app do governo'”, afirmou Kin.
Como vai funcionar?
O Celular Seguro deverá agilizar notificações a terceiros sobre roubos, furtos e perdas de celulares. Isso será feito por meio de parcerias entre o governo e instituições como a Anatel, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e instituições financeiras.
O governo federal também prevê ampliar a parceria com operadoras de celular para bloquear o chip – e não apenas o celular – e impedir o recebimento de mensagens de texto que permitem recuperar senhas de redes sociais, por exemplo.
A expansão deverá ser implementada em janeiro de 2024, informou ao g1 o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. Ele afirmou ainda que iFood, Uber, 99, Mercado Livre e Nubank também deverão aderir ao programa.
“A pessoa que roubou o aparelho não vai conseguir usar os aplicativos, não vai acessar os bancos, não vai conseguir vender o aparelho”, disse Cappelli. “A gente acredita que, com isso, vai desestimular o interesse por esse delito e também pela receptação”.
Quem está trabalhando com o governo?
- Anatel: coordenação entre operadoras de telefonia e ABR Telecom;
- ABR Telecom: encaminhamento para as operadoras participantes (Algar Telecom, Claro, Datora Telecom, Emnify Brasil, Sercomtel, Surf Telecom, TIM, Vivo/Telefônica);
- Febraban: coordenação entre as instituições financeiras;
- Banco do Brasil, Banco Inter, Banco Pan, Banco Safra, Bradesco, BTG Pactual, Caixa, Itaú, Santander, Sicoob, Sicredi e XP Investimentos: interrupção do acesso aos seus aplicativos.