Os dois PMs envolvidos na morte de um policial federal, ocorrida no último domingo, após a vítima ser atingida por três tiros de fuzil nas costas, durante uma abordagem feita pelos militares em um quiosque da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, serão temporariamente afastados das ruas e vão passar por uma espécie de reciclagem obrigatória. Segundo a Polícia Militar, a dupla será transferida do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes), unidade responsável pelo patrulhamento da região onde o crime ocorreu, e direcionada para ser submetida ao Programa Integrado de Capacitação Profissional (PICP) da corporação.
O programa é destinado a aprimorar o treinamento de agentes envolvidos em ações que resultem em óbito ou lesão corporal grave. Com duração prevista de pelo menos duas semanas, o curso inclui, entre outras coisas, princípios do uso da arma de fogo, aplicação tática de abordagem e tiro, instrução de método e defesa policial e uso progressivo da força. Durante o período de duração do curso, os policiais ficarão automaticamente afastados do patrulhamento de rua. O PICP substituiu, em setembro último, o treinamento extraordinário obrigatório, que havia sido lançado com a mesma finalidade em agosto de 2022.
Ainda segundo a PM, a corregedoria continua apurando as circunstâncias da abordagem seguida de morte. A corporação disse que ainda examina as imagens que constam nas câmeras instaladas nos uniformes dos dois policiais. O resultado de um exame cadavérico, feito no Instituto Médico-Legal, no Centro do Rio, apontou que o policial federal Francisco Elionezio Braga Oliveira foi atingido por três tiros de fuzil nas costas. Ele foi sepultado, nesta terça-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Norte. O policial deixou viúva e três filhos.
O resultado do exame pode representar uma reviravolta nas investigações em torno do caso. A informação inicial recebida pela polícia, e que teria sido relatada por um dos PMs envolvidos na ocorrência, era a de que Francisco Elionezio teria agredido um dos militares com um tapa no rosto antes do disparo ocorrer. Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital ( DHC), responsáveis por apurar o caso, vão examinar imagens de câmeras de segurança do quiosque para tentar saber exatamente o que aconteceu.
Francisco usava uma pistola Glock, calibre nove milímetros, que pertenceria à Polícia Federal. O armamento foi encontrado pelos policiais da DHC com dois projéteis sobrepostos, o que, em tese, só ocorre quando há um disparo. No entanto, ainda não há confirmação se o agente tentou disparar algum tiro durante a abordagem feita pelos PMs. Nesta segunda-feira, policiais da DHC chegaram a fazer buscas no terreno onde fica o quiosque, mas não encontraram nenhuma cápsula da pistola usada pela vítima.
Na ocasião em que o agente federal foi baleado, uma mulher que estava no quiosque foi atingida por uma bala perdida nas nádegas. Ela foi medicada e liberada.
Em uma nota enviada, nesta segunda-feira, a Polícia Militar alegou ter recebido um chamado, na noite de domingo, porque um homem armado estaria no quiosque ameaçando pessoas. O documento dizia que um dos PMs fez um disparo para se defender. Nesta terça-feira, a Polícia Militar enviou nova nota e revelou que os policiais envolvidos na ocorrência serão transferidos preventivamente e direcionados a um programa de capacitação profissional da corporação.
Abaixo, a íntegra do documento enviado pela Polícia Militar.
“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que os dois policiais envolvidos na ocorrência serão transferidos preventivamente da unidade e serão direcionados ao Programa Integrado de Capacitação Profissional (PICP) da corporação.
Os militares prestaram depoimento na 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) e suas armas foram apresentadas à Delegacia de Homicídios da Capital.
A Corregedoria da Corporação segue apurando todas as circunstâncias do fato, inclusive no que tange à utilização das câmeras corporais.”